Autárquicas 2021/Vídeo: Debate com os candidatos à Câmara de Paços de Ferreira

O resgate da concessão da água e saneamento e a insolvência da empresa municipal PFR Invest foram os temas mais controversos discutidos entre os cabeças-de-lista

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As águas agitaram a discussão no debate autárquico que juntou quatro dos candidatos à Câmara Municipal de Paços de Ferreira, e que decorreu no Museu Municipal – Museu do Móvel na cidade. Promovida pelo Verdadeiro Olhar, a iniciativa contou com a moderação do director Francisco Coelho da Rocha e a jornalista Fernanda Pinto.

O encontro juntou João Paulo Carvalho, empresário, e candidato pela CDU, Humberto Brito, actual autarca pelo PS, e recandidato pelo terceiro e último mandato, e Alexandre Costa, empresário, presidente da Junta de Freguesia de Paços de Ferreira e líder da Comissão Política Concelhia do PSD, candidato pelo PSD. O painel ficou completo com a presença de Ludgero Pereira, advogado, independente, mas apoiado pelo CDS nesta corrida autárquica. A candidata do Chega, Cátia Santos, esteve ausente da discussão, por motivos de saúde.

A primeira pergunta sobre os problemas da concessão da água e saneamento, colocou de imediato os candidatos em desacordo, tanto mais que era uma bandeira do PS, há oito anos, mas o processo ainda não tem fim à vista, lembrou Alexandre Costa.

“O problema das águas em Paços de Ferreira precisa de toda a gente a lutar pelo mesmo objectivo”, defendeu João Paulo Carvalho.

O comunista não teve dúvidas em afirmar que este tema carece de uma “uma negociação séria”, destacando que o seu partido está disponível para ajudar a desbloquear esta situação. “Precisamos de gente a lutar pelo mesmo” objectivo, destacou.

“O PSD deveria ter defendido os interesses do município mas tem-se limitado a fazer fretes à empresa concessionária” – Humberto Brito

Mas para Humberto Brito a questão é bem mais complexa, não deixando de atirar farpas ao colega do PSD, que representa o partido que esteve no poder em Paços de Ferreira mais de 30 anos, e que deveria ter “defendido os interesses do município”, mas tem-se limitado a fazer “fretes à empresa concessionária”.

O socialista contou ainda que já havia acordo entre as partes, mas houve uma mudança de accionistas, na Águas de Paços de Ferreira, empresa responsável pelos sistemas de abastecimento de água para consumo público e de recolha, tratamento e rejeição de efluentes do concelho. A partir dessa altura, a edilidade deixou de “conseguir dialogar” com a empresa.

“O PS enganou a poupulação” – Alexandre Costa

Apesar destes entraves, que se têm prolongado no tempo, o ainda autarca acredita que “vai chegar o momento em que o problema será resolvido”.

Quem não está tão optimista em relação a este assunto é Alexandre Costa, do PSD, que acusa o partido no poder de “ter enganado a população” ao prometer que este problema teria solução.

Ainda assim, reconheceu que a autarquia de Paços de Ferreira conseguiu “ter água mais barata” , mas que isso implica uma factura para os cofres da Câmara Municipal de “cinco milhões e meio de euros”.

Ainda sobre a resolução deste problema, o social-democrata é apologista da necessidade de “negociar com a concessionária, de forma construtiva, e não andar com memorandos para trás e para a frente”.

A terminar, lamentou ainda que “30% da população” não esteja ligada à rede de água. Uma afirmação que mereceu, de imediato, uma reacção de Humberto Brito, alegando que não é verdade.

“Este assunto é inaceitável e ilegal” – Ludgero Pereira

Já Ludgero Pereira concordou que esta situação vivida em torno da empresa Águas de Paços de Ferreira é “inaceitável e ilegal”. Houve “muito floreado” em torno desta questão, mas o independente apoiado pelo CDS-PP considerou haver “mecanismos” que ponham um ponto final a este problema. Estando a ser imposto um consumo mínimo, era possível resolver o contrato “unilateralmente”, o que não aconteceu, lamentou o jurista.

Fechado o assunto da água, foi a vez de os candidatos serem interpelados com a ETAR de Arreigada, um equipamento requalificado e que representou um investimento de mais de cinco milhões de euros. O objectivo desta estrutura era resolver o problema das descargas no Rio Ferreira, que afecta, sobretudo a população da freguesia de Lordelo, mas, e segundo as vozes da oposição, ainda não está a funcionar.

Humberto Brito desmentiu, alegando que a estação de tratamento “está a funcionar”. Houve um atraso, mas deveu-se a constrangimentos técnicos, causados pela pandemia. Aliás, sublinhou, que como presidente da Câmara se dedicou, juntamente com o Governo PS, “a resolver o problema”, que veio a acontecer.

A justificação não convenceu o candidato do maior partido da oposição, que relembrou que também este processo se arrasta desde 2017 e, quatro anos depois, não está a funcionar. E, “pior do que isso, continuam a existir descargas de dejectos sólidos”, denunciou. A declaração mereceu um ar reprovador do presidente do município.

Mas o candidato do PSD foi mais longe e lembrou as palavras do autarca de Lordelo, em relação a esta situação, que, em tempos, considerou “criminosa” a actuação do município. Por isso, concluiu, esta estrutura tem “lacunas que não permitem o seu funcionamento e é preciso reformular o projecto”.

“A ETAR é uma vergonha para o concelho e para o país. Não há outra solução que não seja deitar a ETAR abaixo ou então metê-la num roteiro turístico”.

Pelo candidato do CDS, urge “avaliar o que foi construído”, porque “não há dúvidas de que não serve”, tanto mais que “não tem capacidade para tratamento de resíduos sólidos”, e, assim sendo, “não há outra solução que não seja deitá-la abaixo” ou então, “metê-la num roteiro turístico”, ironizou. O candidato lamenta que se tenham gasto cinco milhões de euros “e as descargas continuem”. “É a vergonha do concelho e do país”, disse.

Seguiram-se questões sobre captação de investimento e sobre a insolvência da empresa municipal PFR – Invest, Sociedade de Gestão Urbana, criada em 2007, pelo executivo PSD, e que se dedicava à criação de programas de investimento e gestão das zonas industriais de Paços de Ferreira. A edilidade optou pela insolvência da empresa, mas a decisão não é consensual entre os candidatos.

Ludgero Pereira defende que a Câmara Municipal “devia gerir as suas empresas e os seus equipamentos”, alavancando que “não havia necessidade” de criar esta estrutura. Assim, assumiu, a PFR – Invest “foi um erro”.

“A PFR – Invest não passou de um problema criado pelo PSD e mal resolvido pelo PS” – João Paulo Carvalho

Já João Paulo Carvalho não tem dúvidas em afirmar que esta empresa não passou de “um problema criado pelo PSD e mal resolvido pelo PS”. É consensual que o concelho “precisa de zonas industriais”, mas deveriam ter sido bem planeadas e estruturadas, lamentando que tenham sido idealizadas de “forma megalómana”.

O candidato comunista lamenta ainda que existam empresas que querem vir para o município, mas “não existem terrenos”, porque, e depois de todo este processo, “estão nas mãos de particulares”.

Humberto Brito fez o historial de todo este caso, e recordou os presentes o valor da dívida criada, argumentando que “o município não podia responder à monstruosidade da dívida criada”. Houve várias tentativas de resolução deste imbróglio, mas o caminho ditou a “insolvência”, justificou. Para já, “há 12 sentenças em Tribunal” favoráveis ao município, avançou o ainda autarca.

Alexandre Costa reforçou também a necessidade de uma zona industrial no município, mas não quis deixar de acusar o executivo socialista de atrasos no Plano Director Municipal (PDM). Argumento desmentido, pelo actual autarca.

Empresas à parte, o debate prosseguiu com a proposta de saída de Paços de Ferreira da Comunidade Intermunicipal (CIM) do Tâmega e Sousa e integração na Área Metropolitana do Porto (AMP).

Ludgero Pereira defende que essa ligação aos municípios da AMP “já existe”, sendo que, e a acontecer no papel, “é necessário que traga benefícios inequívocos”. Mas, e para já, defendeu, é extemporânea, devendo ser pensada mais tarde, quando estiver concluída a rede ferroviária, o que está previsto para 2035.

A CDU alinha pela mesma bitola, e defende a necessidade de “travar este processo”, porque essa mudança vai implicar perdas “em termos financeiros”.

“Há muito mais verbas disponíveis” para os municípios da Área Metropolitana do Porto”

Humberto Brito discorda dos colegas de painel, aluindo que sendo um “concelho com vocação mais urbana”, esta mudança faz todo o sentido. Para além disso, “há muito mais verbas disponíveis” para os municípios da AMP do que para os da CIM.

Alexandre Costa diz “não” a esta possibilidade. O social-democrata aproveitou para lamentar a atitude da Câmara ao “desistir” do actual comunidade de municípios, o que vai fazer com que, e daqui a cinco anos, “Paços de Ferreira esteja na mesma”, sobretudo no que diz respeito à mobilidade.

“Estão a criar-se guetos em Paços de Ferreira” – João Paulo Carvalho

A habitação social foi chamada à discussão, mas, e foi unânime entre a CDU, PSD e CDS apelidar este tema de “problema” em Paços de Ferreira. A CDU defende a política de construção da autarquia, mas acha que se estão a a criar “guetos”, ao “aglomerar pessoas num mesmo local”. João Paulo Carvalho vai mais longe a, caso fosse eleito, centraria a sua preocupação em “arranjar soluções para a fixação de pessoas”.

Humberto Brito não se demove e eleva a bandeira da construção de casas sociais para venda ou para arrendamento, “para a classe média”, a custos controlados. E reforçou, Paços de Ferreira “nunca teve tanto investimento” nesta área como agora.

Nos últimos oito anos, a Câmara Municipal não gastou uma lata de tinta nas habitações sociais – Alexandre Costa

As palavras do socialista não convenceram Alexandre Costa que diz “não haver investimento” neste sector no município. E acusou a Câmara de, e ao longo dos últimos anos, não ter gasto “uma lata de tinta” nos bairros sociais. Para além disso, e nessa altura, foram anunciados investimentos “que nunca aconteceram”.

Ludgero Pereira reconhece a “necessidade” da criação de zonas habitacionais, mas não deve ser política a “criação de grandes aglomerados”.

Na recta final da discussão entre candidatos, Alexandre Costa fez um apelo ao voto no PSD, porque, defendeu, a equipa que o acompanha nesta corrida “pode fazer mais, melhor e de uma forma célere”, pela população de Paços de Ferreira. Além disso, prometeu que nas discussões de assuntos prementes, que envolvam o município, e caso ganhe as eleições, vai “envolver toda a comunidade”.

Ludgero Pereira, do CDS, diz que a sua campanha eleitoral visa a “proximidade” com as pessoas, de forma a conhecer os seus problemas. Mas não deixa de lutar contra a abstenção, pedido à população que vote, mas que o faça em “consciência”, porque a sua candidatura tem como objectivo “desenvolver o município”.

O comunista João Paulo Carvalho promete “arranjar soluções para os problemas do concelho”, não só para o presente, mas para o futuro. As áreas dos “transportes, a educação, a habitação”, assim como a fixação de pessoas em Paços de Ferreira são as metas a atingir e que fazem parte dos principais eixos da sua candidatura.

Humberto Brito preferiu lembrar os últimos meses, em que vivemos com a sombra de um vírus, para agradecer a “coragem, a disponibilidade, a resiliência e a colaboração” de todos os agentes de Paços de Ferreira, desde as pessoas ligadas à saúde, trabalhadores do município, associações, bombeiros, Cruz Vermelha, forças de segurança, empresários, assim como toda a população que se uniu com um objectivo, debelar a pandemia.