Chama-se “Jardim Proibido” e é o projecto vencedor do Festival internacional de Jardins de Allariz, em Espanha. Foi desenhado por três arquitectas paisagistas portuguesas e foi o mais votado pelo público entre os 10 existentes, desenvolvidos por pessoas de vários países. Duas das autoras são da região: Mónica Mota, de 29 anos, é de Silvares, Lousada; e Renata Duarte, de 30 anos, é de Ermesinde, Valongo. A terceira, Cláudia Vilar, de 29 anos, é da Póvoa de Varzim.

“Este prémio foi recebido com um misto de euforia e reconhecimento pelo nosso trabalho. Mais que uma concretização pessoal e profissional é ver reflectido no resultado das votações, que conseguimos chegar aquilo que realmente o público procura. Estamos muito felizes e com um sentimento de missão cumprida, numa tarefa que é sempre uma satisfação – representar Portugal fora de portas”, afirmam as arquitectas.

O festival foi visitado por mais de 40 mil pessoas.

Criaram um “Jardim Proibido” inspirado em Adão e Eva

Foram colegas de curso na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e, em 2013, quando ainda terminavam o ensino superior, participaram, individualmente, no Festival Internacional de Jardins de Ponte de Lima e foram finalistas.

Apaixonadas por desafios e com cinco anos de experiência profissional, resolveram desta vez unir esforços e avançar com uma candidatura a este festival internacional em Allariz. O tema era “Erotismo no Jardim” e as três arquitectas inspiraram-se no “proibido” para desenhar o seu projecto. “Um dos nossos objectivos com esta proposta era ter em consideração o tema ‘erotismo’ e, à volta deste conceito, criar um espaço apelativo e que captasse a atenção dos visitantes. Mais do que isso era transformar este tema tão ‘pesado’ e tentar desmistificá-lo, junto dos mais novos com base na história de Adão e Eva e através da criação de uma imagem divertida vivida em 3D (ou 4D) de forma interactiva através da construção de elementos que transportassem o visitante para o imaginário do tema”, explicam as jovens. “A cama, o pórtico para tirar as fotografias, a vegetação aromática, o efeito surpresa criado pela ‘maçã gigante’… O segredo foi conseguir chegar a todas as idades”, descrevem.

Segundo as arquitectas a entrada neste jardim faz-se por um caminho que vai serpenteando por entre um pomar de frutos proibidos; o caminho de sulipas de madeira é inspirado nas riscas da serpente; e só os mais destemidos abrirão a sua mente e conseguirão entrar no cerne do erotismo – a maçã.

Entre os 10 jardins a concurso estavam representantes do Peru, França, Brasil, Itália, Espanha, Áustria e Japão, além de Portugal. Foram instalados numa área de três hectares de natureza e estiveram a concurso desde Maio até 31 de Outubro. Foram visitados por cerca de 40 mil pessoas que votaram nos seus favoritos. Com 24,9% dos votos, o jardim das paisagistas portuguesas venceu. Em segundo ficou um jardim galego, com 19,4% dos votos, e em terceiro um austríaco, com 15,4% das preferências.

“Este prémio vem pela nossa dedicação. É um reconhecimento”

Foto: Festival Internacional de Jardins de Allariz

“Este prémio vem pela nossa dedicação. É um reconhecimento”, diz a lousadense Mónica Mota, que trabalha na Vibeiras. “Quando participamos no Festival de Ponte de Lima conseguimos perceber o que o público procura e esse foi o nosso foco. Queríamos que as pessoas pudessem interagir, é isso que procuram num jardim destes”, refere Renata Duarte, que trabalha por conta própria e está a desenvolver um projecto de horta comunitária em Valongo. “Havia sempre a esperança de que o projecto fosse vencedor, mas não estávamos à espera. Esperamos que abra portas para conhecerem o nosso trabalho”, acrescenta Cláudia Vilar, da Póvoa do Varzim, que trabalha na Eurico Ferreira.

As arquitectas paisagistas dizem acreditar que, cada vez mais, a sua profissão “tem uma palavra a dizer nas matérias de espaço público, desde o planeamento, ao projecto, mas também, naquilo que é a componente social e a vivência humana nos diferentes espaços”.

“O desafio que este tipo de festivais constitui, no nosso entender, é conseguir, numa escala tão contida e trabalhando o pormenor, fazer acontecer cenários interessantes, quer do ponto de vista estético e funcional, mas também plástico e cromático. O clímax é a forma como se chega a cada visitante desde o despertar de sentimentos, o transformar o estado de espírito, o levar em viagens ao imaginário, até servindo como fonte de inspiração”, concluem.