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No ano de 2022, houve um aumento do número de adopções em Lousada, Paços de Ferreira e Valongo e um decréscimo em Paredes e Penafiel, revelam dados recolhidos pelo Verdadeiro Olhar. Ainda assim, entre estes cinco concelhos, é em Paredes e Penafiel que mais animais são encaminhados para novas famílias através da adopção. Também é nestes que mais cães (e gatos) são retirados da rua.

Há câmaras municipais que falam num possível aumento do abandono e outras que não sabem determinar se o crescimento do número de animais errantes pode estar ligado à reprodução não controlada.

Certo é que os centros de recolha animais destes concelhos estão permanentemente lotados. Há quem tenha dado início a projectos para ampliação.

Já houve quem viesse do Algarve adoptar a Lousada

Em Lousada, o número de animais recolhidos e adoptados tem vindo a crescer. Foi o que aconteceu entre 2021 e 2022. No ano passado foram recolhidos 220 animais das ruas, face aos 169 de 2021. O número de cães e gatos adoptados passou de 129 para 229 nesse período. Em 2022 foram ainda esterilizados 223 animais (tinham sido 107 no ano anterior) e eutanasiados sete, menos que em 2021, sobretudo devido a “sofrimento dos animais associados a doenças incuráveis”.

Questionado sobre se tem havido mais abandono no concelho, o vereador responsável pela área diz que existe “a percepção de que o abandono tem aumentado” e que o “número de animais  errantes é o maior problema”.

O centro de recolha oficial de Lousada, com capacidade para 30 animais, está por norma “lotado”, sendo que a recolha e inclusão de novos cães e gatos deve-se à libertação de vagas por adopção, explica António Augusto Silva. Por isso, Lousada tem um projecto para criar um novo espaço noutro local, com capacidade para 51 cães e oito gatos, e com espaço para expansão. Embora, destaque o autarca, a solução deva passar mais por “evitar os nascimentos através de programas de esterilização e de mitigação através da adopção”.

A Câmara de Lousada promove campanhas permanentes de adopção onde é oferecida a esterilizações as vacinas e o chip. Lançou ainda recentemente o programa CED – Captura, Esterilização e Devolução destinado a gatos em colónias.

“Os resultados claramente acima das metas definidas para 2022, deveram-se muito às campanhas realizadas, ao empenho dos colaboradores do Centro de Recolha Oficial de Animais, às Associações de Defesa Animal do concelho, como a Lousada Animal e o Cantinho da Zé, a outros colaboradores individuais sempre disponíveis para ajudar; bem como à candidatura vencedora de um orçamento participativo jovem que também ajudou a alavancar todo este trabalho”, sustenta o vereador, deixando ainda “um agradecimento especial a todos os adoptantes, que ultrapassaram claramente os limites do concelho (chegaram até ao Algarve)”.

Paços de Ferreira: Solução não é mais jaulas, mas antes mais educação cívica

Paços de Ferreira divulga dados conjuntos dos anos de 2021 e 2022, mas, face aos números que tinham sido encaminhados ao Instituto de Conservação da Natureza e da Floresta relativos a 2021, integrados no relatório anual da instituição e divulgados em Julho, a maioria dos animais terá sido recolhido e entregue para adopção no ano passado, depois da reformulação dos serviços municipais.

Nos últimos dois anos, revela a autarquia ao Verdadeiro Olhar, foram recolhidos 220 animais, adoptados 147, eutanasiados 10 (“por sofrimento extremo”) e esterilizados 182, na maioria cães.

“Houve um decréscimo no segundo semestre do ano passado, mas com o início da crise financeira temos vindo a notar o aumento de abandono”, sustenta o município.

No concelho ainda não existe centro de recolha oficial de animais, apenas seis jaulas, que estão lotadas. Existe um projecto para construção de novo espaço, ainda em “avaliação”, sendo que a autarquia não divulga, para já dados de investimento ou prazo para arranque da obra. “A resolução da problemática dos animais errantes não passa (só) por construir mais canis e/ou canis maiores. Se tivermos um canil com 100 jaulas, estarão sempre lotadas e mais animais irão sempre existir para recolher”, defende a edilidade. “Esta problemática trata-se por combater o abandono, regularizar as situações dos microchips, esterilizar todos os animais sem excepção e acima de tudo educar as pessoas. Tudo isto é uma questão de cidadania”, acredita a mesma fonte. Por isso, os serviços do município têm ido “a escolas sensibilizar os mais novos e feito acções de sensibilização com os munícipes a educá-los para o facto de os animais não puderem andar sozinhos na rua sem os donos, tendo de ter microchip e vacina da raiva regularizada”, o que leva “à diminuição de ninhadas errantes ou indesejadas”.

 Sobre as campanhas desenvolvidas, o Município adianta que “teve uma campanha gratuita de colocação de microchip e vacina da raiva durante todo o ano transacto, a todos os animais”, tendo sido regularizados “1.494 animais (cães e gatos)”. Todos os animais adoptados através do centro veterinário do município têm “microchip, vacina da raiva, primeira desparasitação e esterilização gratuitos”. Só no ano passado foram oferecidas 133 castrações,  diz a Câmara.

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“É perceptível uma diminuição da procura de animais para adopção e um aumento de abandono animais débeis” em Paredes

Paredes tem um centro de recolha oficial de animais no concelho com capacidade para 44 cães, que está “esgotada”. Existe já um projecto de ampliação, que deve arrancar este ano, e está em curso “a construção de um Parque de Matilhas que permitirá alojar animais assilvestrados”, 32 cães no total. Esses dois investimentos ultrapassam os 150 mil euros.

No concelho, houve menos animais recolhidos e menos adoptados. Em 2021 foram recolhidos 561, número que baixou para os 347 no ano passado. No que toca às adopções, diminuíram de 455, em 2021, para as 322, em 2022. O número de abates foi praticamente equivalente, foram 16 animais eutanasiados no ano passado, sendo que a justificação é estarem “em sofrimento e fim de vida, na sua maioria vítimas de acidentes de viação”. A Câmara de Paredes esterilizou também 353 animais no ano passado, na sua maioria cães (173 cadelas, 92 cães, 58 gatas e 30 gatos).

“Não conseguimos confirmar se o abandono aumentou desde 2021 ou se o aumento de animais errantes resulta fundamentalmente da procriação dos animais que se encontravam já abandonados. No entanto, relativamente ao comportamento das populações é perceptível uma diminuição da procura de animais para adopção e um aumento de abandono animais débeis devido à idade e de animais doentes”, confirma a autarquia.

Em Paredes, a promoção da adopção é contínua e conta com a colaboração de cidadãos com especial vocação para a protecção animal. A autarquia dá exemplo de eventos realizados “para sensibilizar para a importância da adopção e detenção responsável dos animais de companhia, nomeadamente, visitas às escolas, a Cãominhada, a Bênção dos Animais, a celebração da Semana do Animal e do Dia do Animal e o concurso Companheiros de Natal”. Aos animais adoptados é oferecida a vacinação, a identificação electrónica e a esterilização.  

Em 2023, estas acções vão manter-se e será dinamizado o Clube dos Amigos do CROA Paredes e o corpo de voluntários do CROA Paredes. A Câmara promete ainda mais iniciativas “que permitam sensibilizar a população para a redução do abandono,  adopção consciente e a esterilização dos animais pois para fazer frente ao flagelo dos animais abandonados” que exige o esforço de todos.

Penafiel é onde mais se adopta

Em 2022, Penafiel recolheu 647 animais (cães e gatos), um decréscimo face aos 737 recolhidos em 2021. O número de adopções conseguidas também baixou, dos 662 para os 621 animais, nesse período. Só quatro animais foram eutanasiados no ano passado, “por politraumatismo resultante de acidentes de viação”.

Já o número de animais esterilizados aumentou em 2022, para os 498 (259 felídeos e 239 canídeos).

“Sentimos que cada vez há mais animais na via pública. A sua origem (abandono/vadiagem ou nascidos na rua) é difícil de determinar”, responde a Câmara de Penafiel quando questionada sobre um possível aumento do número de animais abandonados no concelho.

O centro de recolha existente tem capacidade para 30 cães e 15 gatos e tem, também, “lotação esgotada”, estando a possibilidade de ampliação “em análise”.

Também em Penafiel os animais adoptados através do centro de recolha têm direito a “identificação, vacinação, desparasitação e esterilização”.

Adopções terão aumentado em Valongo  

A Câmara de Valongo não respondeu em tempo útil às perguntas do Verdadeiro Olhar. Segundo dados divulgados pelo Centro Veterinário Municipal, aumentou o número de adopções e de esterilizações. “Feito o balanço do ano passado ficamos muito satisfeitos em saber que aumentamos em 50% o número de adopções (146) e duplicámos (+100%) o número de esterilizações. Dos 467 animais esterilizados, 380 cirurgias foram realizadas pelo médico veterinário municipal”, lê-se numa publicação.

Infografia: Centro Veterinário Municipal de Valongo