Recentemente, numa reunião ordinária e pública da Camara Municipal de Paredes foi apresentado à votação um negócio de terrenos entre o município e um particular na cidade de Lordelo. Esta reunião aberta ao público foi testemunhada por muitos cidadãos inclusive jornalistas. Os vereadores do PS na oposição queixaram-se da falta de documentação e pediram esclarecimentos sobre tal negócio. Acima de tudo pretendiam perceber quais os custos e contrapartidas negociadas para poderem votar em consciência. Perante a negativa recebida e as dificuldades apresentadas pelo executivo do PSD, solicitaram um adiamento da votação. A negativa manteve-se o que não deixou alternativa aos vereadores do PS. O PS não abandonou a sala mas anunciou que não ia participar na votação enquanto não tivesse conhecimento dos pormenores solicitados. A proposta foi aprovada apenas pelos vereadores do PSD. O PS esteve bem. Estamos em ano de eleições e todos sabemos que é nestes anos que os executivos cometem os maiores erros para agradar a todo o custo. Alguém tem de ter o bom senso de pedir contas antes de empenhar a sua palavra e aceitar compromissos empurrados para os mandatos seguintes. A governação do bem público é uma coisa séria e não se podem tomar decisões ou votar compromissos sem ter um conhecimento profundo das suas consequências. Foi isso que o PSD pretendeu e que o PS não aceitou.

Na Assembleia Municipal seguinte, dois dos seus membros afetos ao PSD, originários da freguesia de Lordelo, o atual e o anterior presidente da junta de freguesia, insurgiram-se contra a falta de votação pelo PS naquela negociação que apelidaram de muito importante para a freguesia. Se era assim tão importante, deveriam insurgir-se contra o executivo do PSD por não ter feito o seu trabalho e por não ter prestado os esclarecimentos solicitados. Mal estariam os vereadores do PS se aceitassem votar de olhos fechados. Os deputados autárquicos faltaram à verdade quando disseram e repetiram que o PS abandonou a reunião para não votar. Estiveram muito mal quando ameaçaram fazer chantagem e anunciar à população de Lordelo que o PS abandonou a reunião para não votar a proposta, repetindo a mentira. Como estes senhores não tinham estado na reunião da Camara Municipal, aceitar-se-ia que agiram sem saber o que diziam ou que estavam mal informados. No entanto, depressa percebemos que não eram os únicos a quererem incendiar a Assembleia e os Lordelenses. Na sua alocução final, que não admite contraditório pelo Regulamento em vigor na Assembleia, o senhor presidente Celso Ferreira repetiu a mesma falácia e a mesma ameaça. O senhor presidente sabia o que estava a fazer porque tinha presidido à reunião da câmara em que o assunto foi debatido. Esteve muito mal porque sabia perfeitamente que o PS não abandonou a sala e por que razão decidiram não votar a proposta apresentada. Só podemos concluir que a omissão da verdade foi propositada e premeditada.

“Nunca ninguém duvidou que a verdade e a política sempre estiveram em bastante más relações e as mentiras são muitas vezes necessárias e justificáveis” (Hannah Arendt)

Não é a nossa opinião. Nos tempos modernos essa máxima está a mudar. Tem que mudar rapidamente.

Dizem alguns, que tudo depende do contexto. Há momentos em que a mentira ou a omissão da verdade funcionam como lenitivo, calmante dos conflitos, construtor de esperança. Mas há outros para quem a mentira passou a ser modo de vida. De tanto faltarem à verdade, a mentira passa a ser comum no seu discurso e nem dão conta de que o fazem. Estes dificilmente aceitam que os outros digam que mente porque de tanto faltarem à verdade, já acreditam que a mentira é a sua verdade.

A banalização da mentira no discurso político conduz ao descrédito. E será mesmo necessário que assim seja…? Não. A política pode ser exercida com frontalidade, transparência e verdade. Essa é a única forma de exercer a política de forma credível. Essa é a forma que aceitamos e apoiamos. Felizmente os últimos acontecimentos, nacionais e internacionais, têm demonstrado que o tempo dos políticos pouco transparentes, manipuladores, envolvidos em esquemas de engano, mentira ou ameaça chegou ao fim.

Em Paredes para além de mudança das personagens também precisamos de verdade e transparência e acreditamos que é possível com políticos descomprometidos com o passado.

No mundo moderno da tecnologia e do sedentarismo, mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo e já não há paciência para aturar mais fantasias.