Três peregrinos

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Fernando Sena Esteves

Foi há 100 anos que na primavera de 1916 o Anjo de Portugal apareceu aos pastorinhos de Fátima pela primeira vez. Seguiram-se mais duas aparições, como se pode ver, por exemplo, em http://www.arautos.org/artigo/249/O-anjo-de-Portugal.html. Estas aparições prepararam de algum modo as de Nossa Senhora no ano seguinte.

Há dias um sacerdote amigo lamentava que a mensagem de Fátima era pouco conhecida e por isso lembrei-me de refrescar o que conhecia e creio que se pode resumir em três pedidos que a Virgem formulou: penitência pelos pecados que se cometem diariamente; a recitação do terço por essa mesma intenção; e a consagração do mundo ao seu Imaculado Coração.

Invoco o testemunho dos primeiros três peregrinos de Fátima já canonizados: S. Josemaria em 2002 e S. João XXIII e S. João Paulo II, ambos em 2014. S. João XXIII esteve em Fátima quando era apenas cardeal e tinha muito em conta o pedido que nossa Senhora fez em todas as suas seis aparições. Na sua encíclica GRATA RECORDATIO apela precisamente para esta prática, afirmando que ele próprio rezava diariamente o rosário completo de três terços. E a alguém que criticava a monotonia, rotina e distração que por vezes acompanham esta oração, respondeu que o pior terço é aquele que não se reza.

Quanto à penitência, ao contemplar o heroismo das caminhadas para Fátima ou dos percursos de joelhos até à Capelinha, podíamos ser tentados a pensar, por não nos sentirmos capazes de tais feitos, que a penitência não é para nós. Então recorri a S. Josemaria que veio rezar a Fátima muitas vezes, a primrira delas em 1945 por iniciativa da Irmã Lúcia com quem se encontrou em Tuy. Aqui ficam umas quantas das suas “receitas” que nos deixou na homilia “Seguindo os passos do Senhor”.

“Penitência é o cumprimento exato do horário que te fixaste, mesmo que o corpo resista ou a mente pretenda evadir-se com sonhos quiméricos.”

“Penitência é levantares-te pontualmente. E também, não deixar para mais tarde, sem motivo justificado, essa tarefa que te é mais difícil ou custosa.”

“A penitência está em saber compaginar as tuas obrigações relativas a Deus, aos outros e a ti próprio, exigindo-te, de modo que consigas encontrar o tempo necessário para cada coisa. És penitente quando te submetes amorosamente ao teu plano de oração, apesar de estares cansado, sem vontade ou frio.”

“Penitência é tratar sempre os outros com a maior caridade, começando pelos teus. É atender com a maior delicadeza os que sofrem, os doentes e os que padecem. É responder com paciência aos maçadores e inoportunos. É interromper ou modificar os nossos programas, quando as circunstâncias – sobretudo os interesses bons e justos dos outros – assim o requerem.”

“A penitência consiste em suportar com bom humor as mil pequenas contrariedades do dia; em não abandonar o trabalho, mesmo que no momento te tenha passado o entusiasmo com que o começaste; em comer com agradecimento o que nos servem, sem caprichos importunos.”

A primeira consagração do mundo a Nossa Senhora foi feita por Pio XII, sagrado bispo precisamente no dia 13 de maio de 1917 e que viria a proclamar o dogma da Assunção de Nossa ao Céu em corpo e alma. Esta consagração tinha sido pedida insistentemente pela Beata Alexandrina de Balazar, até que os bispos portugueses a solicitaram ao Papa. Pio XII acedeu ao pedido na forma de uma radiomensagem dirigida aos portugueses em 31 de outubro de 1942, tendo a seu lado o embaixador de Portugal na Santa Sé António Carneiro Pacheco e o cardeal Montini, futuro Paulo VI.

João Paulo II repetiu esta consagração várias vezes, ficando aqui um trecho da do dia 13 de maio de 1982 em que veio a Fátima agradecer à Virgem ter sobrevivido ao atentado do ano anterior.

 “Ó Mãe dos homens e dos povos, Vós que conheceis todos os seus sofrimentos e esperanças, Vós que sentis maternalmente todas as lutas entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas que invadem o mundo contemporâneo, acolhei este clamor que, como que movidos pelo Espírito Santo, elevamos diretamente ao vosso coração, e abraçai com o amor da Mãe e da Serva este nosso mundo, que colocamos sob a vossa confiança e Vos consagramos, cheios de inquietação pela sorte terrena e eterna dos homens e dos povos.

“De modo particular, colocamos sob a vossa confiança e Vos consagramos os homens e nações que necessitam especialmente desta consagração. Sob a vossa proteção nos acolhemos, Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as súplicas que Vos dirigimos nas nossas necessidades! Não as desprezeis! Acolhei a nossa humilde confiança e entrega!”