“Um corredor verde e azul” para servir as populações da Área Metropolitana do Porto é a transformação que está pensada para o Rio Leça e que, na sua totalidade, só vai ficar concluída em 2030. No próximo mês, começa mais uma fase do projecto que inclui a “limpeza da linha de água em ambas as margens e principais afluentes”, assim como a “monitorização do rio”, de forma a controlar os focos de poluição. O investimento é de quatro milhões de euros e é financiados pelo Programa REACT-EU.

Os trabalhos têm que estar concluídos até ao final do ano, sublinhou ao Verdadeiro Olhar o director-executivo da Associação de Municípios Corredor do Rio Leça, a responsável pelo projecto e que envolve Valongo, Maia, Matosinhos e Santo Tirso.

Artur Branco explicou que, para além da limpeza da linha de água, através “da retirada de tubos que possam estar escondidos”, vai ser feita a “consolidação das margens” e “cadastrados problemas que possam estar encobertos”, evitando futuros focos de poluição.

Embora a limpeza das margens e do leito seja uma obrigatoriedade legal de cada proprietário, e são cerca de “1000”, este trabalho será feito gratuitamente, ao abrigo desta intervenção.

O rio Leça nasce em Santo Tirso e desagua em Matosinhos, passando pelos municípios de Valongo e Maia. Como atravessa uma região com grande actividade industrial foi, ao longo dos anos, fustigado com focos de poluição, o que degradou a qualidade das águas e dos sistemas biológicos. Aliás, durante décadas, foi considerado um dos rios mais poluídos da Europa.

Quando, em 2016 foi criado um grupo de trabalho focado no rio e em toda a zona envolvente, começou a ser gizado um plano estratégico que permitisse a valorização paisagística, assim como das suas margens, nunca esquecendo a coesão territorial, envolvendo os quatro municípios que uniram esforços por um bem comum.

Só em 2021 é a este grupo se transformou em associação, a primeira estrutura intermunicipal do país a ter como objectivo a recuperação de um rio, dedicando-se, ao longo dos últimos seis anos, a elaborar um caderno de encargos que estará concluído daqui a sete anos.

Apesar do rio só ter 48 quilómetros, esta intervenção de despoluição vai ser feita ao longo de 71, uma vez que abrange as duas margens e alguns afluentes.

Artur Branco explicou que, para além da recuperação ecológica e a intervenção de limpeza, será feita uma “monitorização contínua” que “avalie ou detecte perturbações na qualidade da água”, através de uma estrutura de sondas, que vão fazer essa “medição em tempo real”.

A operação prevê ainda “a retirada da vegetação exótica invasora”, de forma a proteger as margens da erosão e das cheias”, frisou.

Para além destas intervenções no terreno, Artur Branco sublinha a importância da “educação ambiental”, porque “ainda há muita falta de civismo, com pessoas a usarem o leito do rio como depósito de materiais”. Assim, a associação terá que fazer um trabalho paralelo que leve a que os utilizadores dos espaços “tenham mais consciência sobre o valor da natureza”.

Serão criados “guias de boas práticas, realizadas acções de sensibilização com participação pública, e criada informação que será veiculada através das redes sociais”, por exemplo. Artur Branco sabe que todos estes dados terão que “chegar às pessoas, levando-as a criarem consciência ambiental”, porque está em causa o bom uso de um bem comum.

Artur Branco não quis deixar de realçar a política de coesão territorial que envolve estes quatro municípios, sublinhando que este projecto, na sua globalidade, só é possível devido “cooperação” entre eles. “Há um objectivo comum, uma coerência e uma lógica de conjunto”, concluiu.