Quase 15 mil utentes inscritos nos cuidados de saúde primários na região do Vale do Sousa continuam sem médico de família. Os números constam do último relatório da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS). Ainda assim a percentagem de utentes com médico de família atribuído é superior à média nacional, que ronda os 88%. No Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Vale do Sousa Sul, que inclui os concelhos de Castelo de Paiva, Paredes e Penafiel, a percentagem ronda os 98%. Já em Felgueiras, Lousada, e Paços de Ferreira, que integram o ACES do Vale do Sousa Norte, a percentagem de utentes sem médico é de 93%. Só nestes três concelhos existem 10.877 pessoas que não têm médico de família.

Convém salientar que nestes seis municípios há 251 utentes que não têm médico de família por opção. No país o número chega aos 27.613 utentes.

 

88% dos portugueses inscritos nos centros de saúde têm médico de família

A última Publicação Periódica sobre o Número de Utentes Inscritos nos Cuidados de Saúde Primários, com dados de Julho, revela que, em relação à publicação anterior, de Abril, houve “um aumento de 1,4% na percentagem de utentes com médico de família, o que revela uma evolução positiva neste indicador”, salienta a Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS). Foram quase 41 mil pessoas a ganhar acesso a médico de família. “Desde 2011, ano em que se estimava que o número de utentes sem médico atribuído em 1.838.795, verificou-se um aumento de 646.522 utentes com médico de família atribuído”, diz a ACSS.

No total, quase nove milhões de portugueses inscritos nos cuidados primários de saúde têm agora clínico de medicina familiar atribuído, cerca de 88%. Ainda assim, 1,19 milhões (11,7%) continuam sem resposta.

O relatório onde são detalhados o número de utentes inscritos, o número de utentes sem médico de família atribuído, bem como a taxa de utilização de consultas médicas no ano, quer ao nível das administrações regionais de saúde quer dos agrupamentos de centros de saúde, mostra que, entre Janeiro e Dezembro de 2014, 6,69 milhões de utentes recorreram a pelo menos uma consulta no centro de saúde. Já cerca de 2,29 milhões de pessoas não procuraram atendimento nos cuidados de saúde primários durante esse ano.

Há também 27.613 utentes que não têm médico de família por opção própria.

 

Norte tem os números mais positivos

É no Norte que os números são mais positivos, com taxas de utentes com médicos acima dos 90%. No Algarve, um quarto das pessoas inscritas não têm clínico atribuído.

Na Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte há 3.808.166 inscritos nos cuidados de saúde primários. Desses, mais de 3,7 milhões têm médico atribuído, ou seja 96,8%. É esta a melhor percentagem a nível nacional. Seguem-se a ARS Centro, com 92,8%, e a ARS Alentejo, com 92,2%. No Norte, só 112 mil utentes (2,9%) não têm médico de família. Durante 2014, 71,6% dos inscritos na ARS Norte recorreu a uma consulta no centro de saúde.

No Vale do Sousa há mais de 346 mil utentes inscritos nos cuidados de saúde primários. Desses, 331 mil têm médico de família atribuído. Mas há ainda quase 15 mil valsousenses (14.856) que não têm médico de família. A maioria dessas pessoas é dos concelhos de Felgueiras, Lousada e Paços de Ferreira. Só nestes três municípios, que integram o ACES do Vale do Sousa Norte há 10.877 utentes sem médico de família (6,6%).

Ainda assim, a percentagem de utentes com médico atribuído nestes ACES é muito superior à média nacional. É de 93,3% no ACES do Vale do Sousa Norte e de 97,8% no ACES do Vale do Sousa Sul.

Nestes seis concelhos há também 251 utentes que prefeririam não ter médico atribuído. Na ARS Norte são quase nove mil as pessoas que optaram por esta solução.

 Total de utentes inscritos nos cuidados primáriosUtentes com médico de família atribuídoUtentes sem médico de família atribuídoUtentes sem médico de família por opção
N.º% do totalN.º% do totalN.º% do total
Nacional10.202.7328.982.84688%1.192.27311,70%27.6130.3%
ARS Norte3.808.1663.686.95096,80%112.8802,90%8.9360,20%
ACES Vale do Sousa Norte (a)165.372154.28193,30%10.8776,60%2140,10%
ACES Vale do Sousa Sul (b)180.836176.82097,80%3.9792,20%370,00%
ACES Maia/Valongo219.684217.87499,20%1.6120,70%1890,10%

(a) Concelhos de Felgueiras, Lousada e Paços de Ferreira

(b) Concelhos de Castelo de Paiva, Paredes e Penafiel

 

Médicos de família do ACES do Vale do Sousa Sul com mais utentes 

São os médicos do Aces do Vale do Sousa Sul que têm, em média, mais utentes atribuídos. Neste agrupamento de centros de saúde estão integrados 97 clínicos (com mais de 750 utentes). No mínimo um médico de família tem nas suas listas 1.039 pessoas, mas há médicos com mais de 2.243 pessoas nos concelhos de Castelo de Paiva, Paredes e Penafiel.

No ACES do Vale do Sousa Norte há 87 médicos, sendo que, no mínimo, um especialista deste agrupamento dá assistência a 1.359 utentes. O número médio de pessoas por médico de família ronda as 1.772 pessoas. O máximo chega às 2.183.

Já no ACES Maia/Valongo existem 122 médicos ao serviço. Nos centros de saúde e unidades de saúde familiar deste agrupamento há médicos com apenas 754 utentes nas suas listas. Há outros com mais de dois mil.

ACESN.º de médicos *Número de utentes por médico
MínimoMédioMáximo
ACES Vale do Sousa Norte871.3591.7722.183
ACES Vale do Sousa Sul971.0391.8222.243
ACES Maia/Valongo1227541.7822.042

* incluem-se apenas os médicos com um mínimo de 750 utentes inscritos, refere o relatório

ACES Maia/Valongo é o terceiro com mais utentes com médico atribuído no Norte

Segundo os dados deste relatório, o ACES Maia/Valongo é um dos que tem maior percentagem de utentes com médico de família atribuído no Norte.

Do total de 219.684 pessoas inscritas nos cuidados de saúde primários deste agrupamento de centros de saúde, 217.874 (99,2%) têm médico atribuído. Só 0,7% dos residentes nestes concelhos não têm médico de família.

O ACES Maia Valongo surge assim como o terceiro da ARS Norte com melhores indicadores. À frente ficam apenas o ACES Gondomar, onde 99,9% dos utentes tem médico de família, e o ACES Póvoa de Varzim e Vila do Conde, com uma percentagem de 99,8%.

 

Governo quer que médicos de família aceitem mais utentes

Na semana passada, o Conselho de Ministros aprovou um regime opcional para que os médicos dos centros de saúde poderem aceitar mais utentes.

Segundo o jornal i, a tutela prevê que se todos os médicos das zonas carenciadas aceitarem estender as suas listas até aos 1905 utentes, nos casos dos profissionais com horários de 35 horas, e para 2261, para os profissionais com horários de 40 horas, será possível que mais 200 mil utentes tenham um médico de família atribuído. Isso colocaria o número de portugueses sem médico de família abaixo de um milhão. O investimento anual previsto chega aos 5,6 milhões de euros.

O Sindicato Independente dos Médicos desaconselhou os profissionais a assinar este contrato e sustenta que os médicos já estão no limite da capacidade, refere ainda o jornal i.