Quantos eleitos locais não brancos existem e existiram na nossa região? A discriminação não está na impossibilidade de que os haja. Está na circunstância de, em concreto, não os haver.

Imagens de conflitos raciais têm-nos entrado pela casa dentro. Tema delicado, não devemos fugir ao mesmo. Há, igualmente, que o trazer para o nosso contexto concreto e perceber que não é abstrata ou esotérica esta discussão.

Rejeitar reconhecer a existência de racismo em Portugal é admitir estarmos desligados da realidade concreta. Se não pelas instâncias formais – o ordenamento jurídico combate claramente a discriminação e não teremos, no nosso contexto local, um racismo institucionalizado-, a discriminação racial toma forma pelas instâncias informais. Nestas incluem-se todas as situações que temos presente do nosso dia a dia, da vida concreta, que nos tem de levar a reconhecer que nem todas oportunidades são oferecidas a cada pessoas igualmente. Há que questionar: quantos eleitos locais não brancos existem e existiram na nossa região? A discriminação não está na impossibilidade de que os haja. Está na circunstância de, em concreto, não os haver.

O reconhecimento desta realidade será fundamental para atuarmos. Poderá fundamentar manifestações públicas; não justificará atos criminosos, nomeadamente quanto a pilhagens (que, segundo creio e felizmente, não se verificaram em Portugal). Poderá, e quiçá deverá, fundamentar a discussão historiográfica (que, de resto, deverá ser feita cientificamente em qualquer dos casos) ou discussão política, nomeadamente quanto à existência e relevo de determinadas estátuas; não justificará atos criminosos, nomeadamente quanto à pichagem ou derrube dessas estátuas.

A solução não está, contudo, nesse reconhecimento. Este é só o primeiro passo. Mostra-se necessário passar a ações concretas. Neste sentido, tive a oportunidade de apresentar, junto da Assembleia Municipal de Valongo, a proposta para que o tema seja objeto de pareceres do Conselho Municipal de Juventude de Valongo, do Conselho Municipal de Segurança, bem como de um ciclo de conferências a organizar junto das escolas do concelho.

Esta é uma questão que nos deve preocupar a todos e a política local é, certamente, um fórum importante para esta discussão.