No dia 1 de Setembro, o Grupo Zés P’reiras – Amigos de Galegos, do concelho de Penafiel, vai comemorar o 40.º aniversário e diz que juventude não lhe falta. São mais de 100 sócios, miúdos e graúdos, sendo que mais de 30 são tocadores.

A tradição é passada de geração em geração e há quem já quase tenha entrado para os “Amigos de Galegos” ainda bebé. Diana Couto é neta de um dos três fundadores deste grupo, por isso, sempre viveu lado a lado com os seus hábitos e a música. Aos dois anos, começou a participar nas actividades a tocar um bombo muito pequeno, “assim mais para a brincadeira”.

O pai tocava gaita de foles e, mais tarde, ela também passou a fazê-lo por volta dos nove anos. Actualmente, com vinte anos, ainda toca esse instrumento, mas a sua função é mais como secretária e ajuda a gerir a associação.

Foto: Manuel Silva e Diana Couto | Ana Regina Ramos/Verdadeiro Olhar

Já o seu tio, José Couto, que é um dos primeiros tocadores que este grupo teve, ainda continua a participar. Aos 63 anos, refere que, hoje em dia, ajuda mais na parte dos ensaios, que geralmente são à sexta-feira à noite em sua casa. Conta que está no grupo desde a sua fundação e lembra a primeira actuação que tiveram que foi numa festa de um clube de futebol local.

“A gente agora tem muitas histórias que se têm passado e que nos deixam marcas e, pelas marcas que nos deixam, parece que cada vez gostamos mais disto e também os elogios que temos, às vezes. Vamos para festas, brincamos, cantamos e as pessoas ficam encantadas com aquilo que a gente faz”, refere José Couto, que garante que as pessoas da freguesia gostam do grupo.

Foto: José Couto | Ana Regina Ramos/Verdadeiro Olhar

“No fundo, isto está tudo enraizado entre todos”, comenta Diana Couto. O grupo surgiu mesmo como o nome indica, de três amigos da freguesia que faziam parte de uma comissão de festas que houve na altura e, depois de verem a actuação de um grupo de bombos que tinha vindo, acharam que seria boa ideia criar um grupo.

Começaram com três bombos e três caixas e depois evoluíram até chegar aos dias de hoje, que têm, além dos vários bombos e caixas, gaita de foles, concertina e ainda os gigantones.

Foto: Fundadores – António Duarte Couto, Albino Teles e João do Couto Bessa

Quanto ao nome, a neta de um dos fundadores descreve que “os tradicionais grupos de bombos chamam-se «Zés P’reiras», só muda a mnemónica seguinte, neste caso, os «Amigos de Galegos», talvez pelo facto de a ideia ter surgido entre amigos e também porque o objectivo é envolver as gentes da freguesia e formar, no fundo, um grupo de amigos que se reúnem e que tocam em função de algo”.

Outro dos objectivos passa por “mobilizar as pessoas mais novas para, no fundo, rejuvenescer a associação e garantir algum tipo de continuidade, porque só com as pessoas mais velhas, obviamente, que isso não se consegue”, continua Diana Couto.

Foto: David Silva e José Francisco Gomes | Ana Regina Ramos/Verdadeiro Olhar

David Silva e José Francisco Gomes têm ambos 10 anos, tocam caixa e bombo, respectivamente, e são dois dos exemplos do continuar desta tradição ao longo das várias gerações. José Francisco Gomes é neto de uma das pessoas mais antigas ainda vivas desta associação e conta que quando era mais pequeno experimentou participar, mas só há cerca de um ano é que começou a ensaiar regularmente para poder tocar. Diz que já fez muitos amigos no grupo e que gostava também de tocar gaita de foles.

Foto: Noite dos Bombos de 2018 | Facebook Grupo Zés Preiras Galegos

Ao lado, o amigo David Silva, filho do presidente actual do grupo, também nasceu no meio dos hábitos deste grupo. A sua ama, em pequeno, era a mãe de Diana Couto, por isso, desde cedo que o gosto começou a enraizar-se. “Como eles tocavam, eu vinha para cá e tocava com um bombo muito pequeno, deitava-o no chão e depois fui tocando nas saídas, como a Diana, com gaitas de foles a simular que tocava, até que depois fui aprendendo a tocar num bombo, comprei um pequeno e agora estou a tocar num da minha idade e numa caixa”, explica.

“Gosto de conviver e de tocar e dizemos muitas piadas”, acrescenta. “Ele praticamente nasceu aqui ao lado dos bombos. Adora isto e, para a idade dele, até fico impressionado. Ele gosta mesmo do que faz da parte de bombos e de caixa”, refere o pai, Manuel Silva.

Foto: Ana Regina Ramos/Verdadeiro Olhar

“Quem entra na associação e percebe um bocadinho a dinâmica realmente fica a gostar, portanto, as pessoas que temos aqui são pessoas um bocadinho apaixonadas pela situação, pelo grupo em si e pela música porque isto depois proporciona-se um ambiente entre nós que é cativante, por isso é que talvez consigamos ter jovens e consigamos rejuvenescer a associação”, acredita Diana Couto.

Mas quando se trata de escolher quem vai participar nos eventos a que são chamados, tudo é pensado com muito cuidado, de acordo com a capacidade de cada um. “Tentamos incentivar os miúdos, levando-os a coisas que conseguem fazer: Uma procissão, um cortejo, um leilão, umas festas da cidade, uma arruada, uma noite branca… Para eles se sentirem incentivados, contactarem com o público, verem o que é o trabalho no campo mesmo, a interacção com as pessoas e tentamos fazer isso para que eles ganhem gosto pelas actuações”, explica Diana Couto.

A cidade mais longe onde foram actuar, contam, foi Barcelona, numa “grande manifestação a nível mundial de sindicatos”; já Portugal têm percorrido “de lés a lés”, indica José Couto.

União e respeito são as palavras-chave que o grupo tenta sempre incutir. “São muitas mentalidades e para manter um grupo unido tem que se trabalhar bem e ser humilde para falar com todos ao mesmo tempo e conseguir pôr todo o grupo unido. Isso é que é uma vantagem que temos, por enquanto”, refere Manuel Silva. Já José Couto sublinha que “tem que haver respeito”. “Respeitar quem anda e os outros que a gente vai encontrar”, continua.

Foto: Em Galegos

A receptividade contam que tem sido boa e que a sociedade tem mudado ao longo do tempo. “Primeiro, as pessoas acham estranho ter tantos jovens, depois acham estranho os jovens tocarem bem, depois acham estranho os jovens nem sequer serem muito aptos da bebida, depois acham estranho sermos quase todos licenciados ou a caminho disso e, no fundo, nós também com o tempo temos lutado um bocadinho por essa mudança para mostrar que «Zés P’reiras» não é só pagode, é diversão também, mas com alguma seriedade e com trabalho”, remata Diana Couto.

Foto: Aniversário de 2018 | Facebook Grupo Zés Preiras Galegos

Para o futuro, esperam conseguir arranjar uma sede própria. “É um desejo que faço para estes quatro anos. É difícil, mas pode ser que consiga com a ajuda de todos”, refere Manuel Silva, que está desde Janeiro no grupo e, desde Março, que ocupa a função de presidente, apoiado pelos restantes membros da direcção.

As celebrações destes 40 anos vão decorrer no domingo com a condecoração de algumas pessoas que estão há mais tempo no grupo, uma missa em homenagem aos sócios e fundadores, um salto de para-quedistas, actuações de cinco grupos de bombos convidados e o tradicional bolo de aniversário com champanhe e fogo de artifício.