Aumentar os níveis de qualificação e melhorar a empregabilidade dos paredenses, dotando-os de competências ajustadas às necessidades do mercado de trabalho e adequar a oferta e a rede formativa a essas necessidades são dois dos objectivos da rede “Paredes Qualifica”.

A Carta de Compromisso que formalizou a rede – que envolve o agrupamento de Escolas Daniel Faria de Baltar, o Centro de Formação Profissional das Indústrias da Madeira e Mobiliário, a CESPU – Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário, a AGITO – Formação e Serviços, o Instituto de Emprego e Formação Profissional e a Câmara Municipal de Paredes – foi assinada esta quinta-feira, com a presença dos secretários de Estado da Educação, João Costa, e do Emprego, Miguel Cabrita.

Durante a sessão foram entregues 23 diplomas a formandos do concelho. Quem aproveitou a oportunidade de aumentar o seu nível de formação não se arrepende.

“Tinha curiosidade. Queria aprender mais e surgiu a oportunidade que não tive quando era nova. Aproveitei. Fiz o sexto ano”, relata Emília Pinheiro, de 60 anos, de Cristelo, afirmando que tirar o nono ano não está fora de hipótese. “Sinto-me muito feliz e não considero perda de tempo. Foi muito bom para mim”, acrescenta a paredense.

Até agora, a mulher tinha a quarta classe. Vinda de uma família com sete irmãos, apesar de gostar da escola, não lhe foi dada a hipótese de prosseguir os estudos. “Fui com 12 anos trabalhar na restauração”, recorda. Depois, fez muitas coisas. Foi empregada doméstica, fez crochet para feirantes, trabalhou na área dos cortinados e foi empregada de limpeza. Actualmente, está desempregada. Mas salienta, com orgulho, que tem uma filha formada, a quem deu o que não teve.

Já Susana Campos, de 40 anos, aproveitou a formação para crescer profissionalmente. “O meu objectivo era subir na carreira. Estava como assistente operacional e queria progredir para assistente técnica”, explica. A funcionária do Balcão Único do município tirou o 12.º ano e cumpriu a meta. “Os meus pais não tinham possibilidades financeiras. Eramos três filhos e só o meu pai é que trabalhava. Foi uma boa aposta ter voltado a estudar”, garante.

Porque acredita no projecto tem recomendado a todos os amigos que aproveitem esta oportunidade para reforçar competências. “Deixo uma recomendação a quem tiver os sonhos na gaveta: que nunca desista porque nunca é tarde para ir mais além e o Centro Qualifica existe precisamente para isso”, diz a paredense.

Concelho com “trabalhadores muito competentes, mas baixas qualificações”

A rede de Centros Qualifica no Concelho de Paredes tem como princípios a valorização da aprendizagem ao longo da vida, a mobilização dos adultos para percursos de formação e orientação e reorientação em alguns casos, para caminhos escolares e profissionais, explicou o presidente da Câmara Municipal de Paredes.

Alexandre Almeida lembrou que, num concelho muito industrializado e focado essencialmente na indústria do mobiliário há “trabalhadores muito competentes, mas com baixas qualificações ao nível do ensino”, pelo que esta certificação de competências é importante.

O autarca aproveitou ainda para dar a conhecer os resultados alcançados pelos centros qualifica do concelho nos últimos dois anos. O Centro de Formação Profissional da Indústria da Madeira e do Mobiliário certificou 49 adultos no período de 1 de Janeiro de 2017 a 22 de Fevereiro de 2019, sendo dois terços homens. “No mesmo período este Centro Qualifica registou 518 inscritos, encaminhou 261 pessoas para ofertas formativas e 168 processos de RVCC”, descreveu.

Já a Agito conta com um universo de 2.100 adultos inscritos, desde 2017, dos quais 1.070 foram encaminhados para ofertas formativas. 85 adultos foram certificados nos últimos dois anos. “70% dos indivíduos com quem a Agito trabalha são activos empregados, sendo cerca de 60% do sexo feminino”, pessoas que procuram aumentar as suas qualificações escolares e/ou profissionais.

Já o Agrupamento de Escolas Daniel Faria, de Baltar, já atribuiu 77 certificados. A Cespu, em 2018, certificou através do processo RVCC 30 adultos, encontrando-se este ano 128 adultos em processo de certificação. No ano passado, foram 799 adultos os adultos que se inscreveram neste centro da Rede Qualifica, 60% activos e 36% em situação de desemprego, na maioria mulheres.

“Por tudo isto, reiteramos a importância da formalização da Rede dos Centros Qualifica de Paredes e a vantagem competitiva de trabalharmos em conjunto, para sermos mais assertivos nesta matéria fundamental para a empregabilidade das pessoas”, defendeu Alexandre Almeida.

“Vocês são embaixadores do programa Qualifica”, disse secretário de Estado aos formandos

O secretário de Estado da Educação, João Costa, agradeceu o testemunho que os formandos estão a dar aos mais novos “de que vale a pena estudar” e enalteceu a importância do estudo ao longo da vida, incentivando quem concluiu agora um nível de ensino a prosseguir ainda mais os estudos.

“A batalha pela formação é um combate contra a desigualdade”, defendeu João Costa, dizendo que é a falta de formação que gera as maiores assimetrias sociais. “Não há arma mais poderosa no mundo que a Educação”, acrescentou.

O programa Qualifica visa corrigir o défice de qualificação da população portuguesa, corrigir um problema de injustiça social e corrigir o desmantelamento da rede de formação e educação para adultos que foi realizada pelo anterior Governo, explicou o secretário de Estado.

“A população escolar tem vindo a aumentar nos últimos dois a três anos, já que apesar da diminuição dos jovens tem crescido o número dos adultos”, salientou, reiterando que a formação da população é fundamental para o desenvolvimento dos territórios.

“Falta acordar a população portuguesa para a mais-valia da formação. Vocês são embaixadores do programa Qualifica”, afirmou João Costa, lembrando que existem 300 centros em todo o país.

“Os centros que conseguiram melhores resultados foram os que se conseguiram rodear dos parceiros certos e criar redes de trabalho colaborativas”

Já o secretário de Estado do Emprego, Miguel Cabrita, frisou que “o trabalho em rede e parceria é da maior importância para que a dinâmica que existe hoje na economia e no emprego possa produzir resultados”.

Lembrando que foram criados 70 centros em todo o país desde 2015, o governante mostrou-se satisfeito com os níveis de certificação e inscrição conseguidos. “A aposta na formação de adultos é critica”, afiançou, referindo a importância de ter a Câmara Municipal como parceira na divulgação do trabalho destes centros. “Os centros que conseguiram melhores resultados foram os que se conseguiram rodear dos parceiros certos e criar redes de trabalho colaborativas”, relatou Miguel Cabrita.

O secretário de Estado sustentou ainda que estas soluções de formação não são “só para quem está desempregado, mas também para quem quer reforçar competências”. “Não podemos dispensar a aprendizagem ao longo da vida”, argumentou.

Miguel Cabrita anunciou que, no âmbito da reprogramação do Portugal 2020 foi alocada uma verba de 100 milhões de euros para garantir a continuidade do Programa Qualifica até 2023.

Quando ao modelo de redes de parcerias, é para expandir. “Quando houver dezenas de redes vai ser feita justiça e vou lembrar que alguns foram pioneiros e que Paredes esteve na linha da frente”, prometeu.

A sessão contou ainda com a presidente da ANQEP – Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional, Filipa Henriques Silva.