À volta de uma mesa, decorada a preceito pela neta, Laurinda Pinto Barbosa, residente em Fonte Arcada, Penafiel, completou, esta quinta-feira, um século de existência, numa cerimónia preparada pela família mais chegada que foi partilhada pelos amigos mais próximos da comunidade local.

Na presença dos amigos e da família, Laurinda Pinto Bessa cantou os parabéns, cortou a fatia do bolo e apagou as velas do centenário daquela que é mulher mais velha da freguesia.

Apesar da energia que habitualmente a caracteriza, ontem, Laurinda Pinto Barbosa, não conseguiu verbalizar tudo que lhe ia na alma e foi com a ajuda dos netos que agradeceu o apoio, o envolvimento de todos. “Estou muito contente. Sinto-bem aqui. Estou muito feliz por ter comigo os meus netos, a minha filha, os meus familiares e amigos”, disse, com a voz ténue e visivelmente emocionada.

Sempre com a ajuda dos netos, a aniversariante confirmou que divide o seu tempo entre a sua residência e o Lar e Centro de Dia Padre Américo de Paço de Sousa, onde vai todos os dias, regressando a casa ao final da tarde.

Foto: Lar e Centro de Dia Padre Américo

“Sinto-me bem lá. Tenho muitos amigos e participo em várias actividades”, afirmou,  admitindo ser uma apaixonada pelo música, gostar de tocar bombo e de cantar.

Sobre o passado, reconheceu que apesar das dificuldades e da vida de sacrifícios, nunca perdeu a boa disposição, a esperança e a força que a caracterizam ainda hoje e que faz com que na freguesia seja uma das pessoas mais acarinhadas.

Ana Maria Maia, a única filha de Laurinda Pinto Barbosa, não conseguiu esconder o júbilo e a alegria de poder partilhar este momento com a mãe.

Ao Verdadeiro Olhar, reconheceu que a mãe continua a ser um exemplo para si e para todos que com ela privam no dia-a-dia. Ana Maria Maia confessou que a mãe é uma mulher que admira e a respeita, uma pessoa determinada que sempre primou pela boa disposição.

“Ela é uma pessoa especial, sempre bem-disposta, gosta de conviver e não dispensa dois dedos de conversa. É o orgulho da família”, disse, salientando que a mãe apesar das fragilidades, é uma pessoa lúcida, que mantém a vivacidade e empenha-se em tudo o que faz.

“Apesar da idade, mantém a lucidez. Só tem um pequeno desequilíbrio. Consegue deslocar-se pelo seu próprio pé com a ajuda do andarilho percorre a casa toda, vai à casa de banho, come pelo seu próprio braço e não tem quaisquer problemas de saúde. Não toma medicamentos há vários anos. É uma pessoa saudável. Raramente solicita ajuda porque ela quer fazer tudo sozinha”, expressou, referindo que a mãe é também conhecida por ser uma pessoa sociável que se empenha em tudo o que faz e que frequenta o Lar e Centro de Dia Padre Américo de Paço de Sousa.

“Passa os dias no lar, colabora e participa em todas as actividades, nas aulas de educação física para a terceira idade, toca tambor e gosta imenso de dançar”, disse, recordando que a mãe sempre teve uma predisposição para a música e para a dança, aptidões que continua a desenvolver.

“Quando era mais nova já tocava viola. Sempre teve um excelente ouvido. Gosta de cantar e é muito acarinhada pela comunidade local. Sempre foi uma pessoa de trato fácil que gostou de conviver”, expressou, sustentando que o próprio Lar e Centro de Dia Padre Américo fez questão de assinalar a data, preparou-lhe um bolo de aniversário e fez-lhe um quadro com várias fotografias, das actividades e iniciativas realizadas por ela na instituição.

Ana Maria Maia destacou, também, que já em nova a sua mãe era uma pessoa viva, de fácil no trato e trabalhadora. Além das actividades de casa, ocupava os seus dias nas actividades agrícolas.

“Conhecia o linho, ripava o linho, o centeio, participava nas desfolhadas, sabia fiar. Fazia de tudo”, referiu, recordando que o seu pai fosse vivo teria completado, em Janeiro, também, 100 anos.

“Infelizmente faleceu com 82 anos”, avançou, frisando que além da sua mãe, cuida também de um casal de irmãos a freguesia um com Alzheimer e o outro Parkinson.

“É incrível vê-la chegar aos 100 anos e eu que trabalho com doentes todos os dias fico feliz ao vê-la atingir esta idade com saúde e disponibilidade física e mental, o que não sucede com todas as pessoas”, diz.

Sofia Maia, 21 anos, a neta mais nova de Laurinda Pinto Barbosa, quase a terminar o curso de enfermagem, não escondeu a alegria por partilhar este momento com a avó que considerou ser uma fonte de inspiração para si e uma mulher que sempre admirou.

“É incrível vê-la chegar aos 100 anos e eu que trabalho com doentes todos os dias fico feliz ao vê-la atingir esta idade com saúde e disponibilidade física e mental, o que não sucede com todas as pessoas”, avançou, confessando que avó é uma referência como pessoa e mulher.

“É uma pessoa admirável, uma verdadeira força da natureza. Uma guerreira. Quem me dera ser como ela. Ela é um exemplo de força, de garra e determinação. Acho que é um exemplo para todos que a conhecem. É uma pessoa muito dada. Adora dançar. Onde está não há tristeza. Não tenho palavras para a descrever”, retorquiu.

A futura enfermeira confirmou, também, que a avó tem uma saúde de ferro.

“Ela não tem nenhuma patologia, não tem diabetes, não é hipertensa, não tem colesterol, tem apenas alguns períodos de confusão, o que é normal, para uma pessoa da idade dela. É uma pessoa determinada e quando está em casa apesar da sua idade quer ser ela a fazer as coisas. Muitas vezes pede para ir para o campo ver se a minha mãe tem olhado pelos terrenos”, atirou, reconhecendo que a avó mantém bem vivas as memórias das actividades agrícolas que exerceu.

“Era ela que fazia os campos em casa dela e também noutros sítios. Foi ela que me ensinou a debulhar o milho. Lembro-me dela debulhar o milho, eu era ainda muito pequena e transmitiu-me a paixão, também, pelas flores. Ela gosta imenso de rosas, mas conhece imensas flores e gosta de ter os vasos devidamente arranjados”, manifestou.

Sobre a ida para o Lar e Centro de Dia Padre Américo de Paço de Sousa, Sofia Maia condescendeu que com a entrada na instituição a avó ganhou qualidade de vida, tem o tempo quase sempre ocupado e fez novos amigos.

Visivelmente emocionada, a jovem enfermeira confidenciou, também, que avó foi sempre uma pessoa que esteve em momentos-chave da sua vida.

“Ela esteve no meu aniversário dos 18 anos, esteve também comigo quando entrei para a faculdade e agora quero que ela esteja na minha bênção das pastas. Estou a acabar o curso e tenho a certeza que ela vai lá estar para me dar uma bengalada na cartola”, assegurou.

Também Jorge Maia, 31 anos, neto da aniversariante, emigrante no Luxemburgo, admitiu que veio de propósito a Fonte Arcada para celebrar o aniversário da avó.

“Não é todos os dias que se completam cem anos. É um marco, um momento inesquecível e como tal não poderia deixar de estar presente”, confessou, afirmando que além de sociável e comunicativa, a sua avó foi sempre uma pessoa de valores e respeitada na comunidade.

“Foram esses valores, esses princípios, mas também essa alegria e disposição que passou para nós”, manifestou, justificando a sua longevidade com a alimentação saudável que sempre fez.

“Hoje as pessoas estão sujeitas a uma maior pressão, é o lufa-lufa do dia-a-dia, a alimentação  nem sempre é a melhor e isso acaba por ter obviamente consequências e hoje são cada vez menos as pessoas que chegam aos 100 anos de idade. Mas o facto de ela ter conseguido atingir esse marco deixa-me extremamente feliz”, afirmou.

“Ela é, sem dúvida, um exemplo para mim, por toda a experiência que me passou, por me ensinar a dar valor a tudo o que temos na vida, o quanto temos de lutar para conseguirmos alguma coisa”

Jorge Maia atalhou, também, que na freguesia de Fonte Arcada há inúmeras pessoas que continuam a ir a casa da sua avó, mantém uma relação estreita com ela.

“São pessoas que passaram a infância juntas, que nunca perderam a ligação, o contacto, trabalharam juntas e continuem a partilhar recordações e são estes momentos que contribuem para que ela seja uma pessoa alegre e viva, a par, também, da entrada no lar”, atalhou.

“Na instituição, além de estar a fazer actividades, tem a possibilidade de partilhar histórias, reviver momentos com outras pessoas e isso tem-na ajudado a que mantenha a vitalidade, a energia que a caracteriza e para que continue a viver e a encantar toda a gente”, declarou, reiterando que foi a sua avó que fez com que aprendesse a valorizar as coisas e o lado bom da vida.

“Ela é, sem dúvida, um exemplo para mim, por toda a experiência que me passou, por me ensinar a dar valor a tudo o que temos na vida, o quanto temos de lutar para conseguirmos alguma coisa. Ensinou-me, também, a valorizar a família, como um elo fundamental e como sendo a base, a célula de tudo o resto. Como sou emigrante sei o que isso representa. A família é o pilar de tudo”, concretizou, parabenizando a irmã pelo facto de ter tido a ideia de decorar a casa da aniversariante com fotografias da família.
“É muito intenso recordar estes momentos”, expressou.

“Que me recorde a dona Laurinda será a primeira pessoa a atingir os 100 anos na freguesia”

O presidente da Junta de Freguesia de Fonte Arcada, António Silva, que não quis deixar de se associar a esta data que considerou ser um marco e um motivo de orgulho para a freguesia.

“Que me recorde a dona Laurinda será a primeira pessoa a atingir os 100 anos na freguesia.  Houve em tempos um senhor que chegou aos 99 anos, mas infelizmente faleceu. Mas esta é uma data que deve fiar na memória de todos”, reconheceu, referindo-se à aniversariante como uma figura ímpar, uma pessoa activa e um exemplo para a comunidade.

“Conheço a dona Laurinda há mais de 40 anos. Sempre manteve a alegria, a boa disposição. Está no seu ADN, como se costuma dizer. É um exemplo de perseverança”, sublinhou.

Para assinalar a data, o autarca, num gesto de reconhecimento, entregou à aniversariante um ramo de flores e uma medalha com a data do nascimento e a comemoração dos seus 100 anos.

Já este domingo, a Associação de Desenvolvimento e Apoio Social – Fonte de Solidariedade da Freguesia de Fonte Arcada vai assinalar a data com uma festa aberta à comunidade.