Passadas as eleições presidenciais, as atenções políticas começam a voltar-se para as próximas eleições autárquicas.

Um dos concelhos da região onde estas eleições poderão ter mais motivos de interesse será em Paços de Ferreira. Não pela disputa entre poder e oposição, mas mais pela luta dentro do partido no poder, o que poderá beneficiar, e muito, a oposição.

Não é propriamente uma novidade que Humberto Brito e o seu ex-número dois, Paulo Sérgio Barbosa, entraram em rota de colisão, o que levou à suspensão do mandato do segundo no ano passado, tal como não surpreenderá ninguém que, com a aproximação da data das eleições autárquicas, Paulo Sérgio Barbosa regresse às funções de vereador. Quem conhecer bem estes dois políticos também não será apanhado de surpresa se Humberto Brito não delegar qualquer pelouro ao vereador regressado.

A verdadeira novidade, nesta disputa de poder, poderá ser a eventual instrumentalização da líder da Comissão Política Concelhia do PS por parte do ex-vice-presidente da Câmara, que pretende garantir o seu lugar na lista socialista às próximas eleições e, com isso, tentar posicionar-se como “sucessor” de Humberto Brito, uma vez que este, caso vença as eleições, fará o seu último mandato.

Quando a presidente da Comissão Política Concelhia, Armanda Fernandez, apresenta uma proposta afirmando “apoiar o presidente e reconduzir as listas a todos os órgãos autárquicos”, não está a apoiar Humberto Brito, está a tentar salvar o lugar de Paulo Sérgio Barbosa. Aliás, nem o disfarça, ao reunir-se com os membros socialistas de cada freguesia do concelho acompanhada pelo vereador com mandato suspenso.

Armanda Fernandez, no entanto, parece desconhecer três realidades: a primeira é de que o peso político das Comissões Políticas Concelhias dos partidos no poder é baixo, não passando de uma mera formalidade, sendo a política autárquica definida, na verdade, pelo Presidente da Câmara; a segunda é que, se a primeira é verdadeira, no caso de um presidente de Câmara que obteve quase 65 por cento dos votos ainda é mais verdadeira, ou seja, por muita pressão que a Comissão Política Concelhia exerça, não há nenhuma Comissão Distrital que se arrisque a contrariar a decisão de um presidente com este peso político; a terceira é que, mesmo que nenhuma das condições anteriores fosse verdadeira, a experiência política de Armanda Fernandez deveria ser suficiente para conhecer o feitio de Humberto Brito e perceber que a lista terá os elementos que ele escolher e não os que aquela indicar.

E, a ser assim, veremos se esta lógica de escolha de candidatos no partido do poder vai neutralizar ou, pelo contrário, vai beneficiar os candidatos da oposição. Os eleitores, como sempre, o dirão.