A Associação de Desenvolvimento e Apoio Social de Meinedo (ADASM), Lousada, está a desenvolver o projecto “Elos de Bons Tratos – Apadrinhar Idosos”, iniciativa direccionada a pessoas dependentes e idosos que se encontram em situação de solidão, não institucionalizados e sem rectaguarda familiar.

Joana Xavier, assistente social na ADASM, frisou que o projecto tem como objectivos principais criar uma rede de proximidade informal.

“Trata-se de um projecto direccionado a pessoas com 65 anos ou mais, em situação de isolamento, solidão, dependentes, não institucionalizados e sem rectaguarda familiar. Tem como objectivo principal criar uma rede de proximidade informal que combata os momentos de solidão e isolamento social dessas pessoas, promovendo a melhoria da sua qualidade de vida e a sua integração social através de pequenas acções e gestos simples do quotidiano”, disse, salientando que o projecto conta com uma rede de voluntários que através de um programa estruturado de voluntariado  que acompanha e apoia todos os participantes através da dinamização de actividades de convívio, acompanhamento social e apoio no desenvolvimento de actividades que permitem melhorar a qualidade de vida.

Ao Verdadeiro Olhar, a assistente social confessou que a ADASM é uma instituição particular de solidariedade social desde 2000, centrando a sua actuação nas respostas sociais direccionadas à população idosa.

“Ao nível concelhio, entre 2016 e 2018, a RLIS e o Serviço de Apoio à Vítima (Flor de Lis) receberam cerca de 49 denúncias de maus tratos a pessoas idosas (negligência, violência física, psicológica e económica)”

Falando das razões que levaram à implementação do projecto, Joana Xavier realçou que as mudanças socio-económicas e demográficas a que as famílias têm sido sujeitas, assim como os dados da Associação de Apoio à Vítima (APAV) acabaram por estar na origem deste projecto.

“Dados de caracterização do território levam-nos a questionar a capacidade das famílias em continuarem a assumir o papel que têm vindo a desempenhar em termos de protecção social, face às mudanças socioeconómicos e demográficas a que têm sido sujeitas. Assiste-se a um aumento significativo de relatos de violência sobre idosos. De acordo com a APAV, houve um aumento de 30% de crimes contra idosos entre 2013 e 2016, sendo as mulheres as principais vítimas. Os agressores são na sua maioria os filhos (39,6%) e o cônjuge (26,5%). Apesar disso, existem também idosos agredidos por vizinhos (4,4%) e pelos netos (36%). Ao nível concelhio, entre 2016 e 2018, a RLIS e o Serviço de Apoio à Vítima (Flor de Lis) receberam cerca de 49 denúncias de maus tratos a pessoas idosas (negligência, violência física, psicológica e económica). Por seu turno, o Núcleo de Apoio aos Idosos da GNR registou 11 idosos a viver sozinhos e em situação de abandono”, avançou, reconhecendo que esta é uma matéria sensível.

“Trata-se de um assunto considerado ‘sensível’, o que faz com que não se fale muito sobre ele, sendo a sua medição e evolução algo complicada. De igual forma, existe a dificuldade em usar tipologias e categorias globalmente aceites para recensear esta realidade. Não obstante a panóplia de tipologias, muitos investigadores agrupam-nas em sete categorias de maus-tratos: abuso financeiro ou material, abuso físico, abuso psicológico ou emocional, abuso sexual, abandono, negligência e auto-negligência. Com tudo isto, e dada a nossa abrangência no território no âmbito do serviço de apoio domiciliário e outras valências percebemos a necessidade de actuar nesta área, e não havendo intervenção neste âmbito, torna-se pertinente encontrar respostas que combatam esta realidade/problemática. Daí surgir a ideia de promover o projecto, sendo este um projecto de inovação social”, acrescentou.

No âmbito do projecto, Joana Xavier destacou que a ADASM irá promover um mecanismo de acompanhamento segundo um conceito de apadrinhamento de idosos, irá proceder à monitorização dos levantamentos já existentes da população idosa a viver no domicilio (não institucionalizada), mais isolada, “só e dependente, identificar, caso a caso, do binómio interesses de convivialidade / capacidades do idoso para sugestão de actividades aquando das visitas ao mesmo”.

No decorrer do projecto, a instituição irá, igualmente, mobilizar voluntários, incrementar a articulação efectiva com as várias entidades, nomeadamente das áreas da saúde, segurança social e justiça, bem como de outras instituições que desenvolvem trabalho de terreno com o público-alvo negligenciado.

“Iremos promover acções de sensibilização junto de famílias de idosos, no sentido de criar condições de acesso facilitadas aos domicílios, visitas regulares aos idosos, com periodicidade semanal, suportada em metodologia de coaching, promotora de um saber-fazer relacional orientado para as temáticas de vida da pessoa idosa, integrando aspectos associados a situações de violência”, afiançou.

Ao Verdadeiro Olhar, Joana Xavier revelou, também, que o projecto iniciou em Outubro de 2019 e tem vindo a ser implementado, encontrando-se na fase de capacitação dos técnicos para uma intervenção mais eficaz ajustada à especificidade desta problemática.

Questionada sobre o número de idosos que o projecto vai abranger, Joana Xavier esclareceu que não existe um número máximo de admissões, declarando que o projecto destina-se a pessoas com 65 anos ou mais de todas as freguesias do concelho de Lousada.

Falando do número de utentes que a instituição serve, Joana Xavier realçou que ADASM é uma instituição particular de solidariedade social, sob a forma de associação,  que tem como missão promover serviços de apoio à comunidade, desenvolvendo respostas sociais que contribuam para a melhoria da qualidade de vida da população.

Quanto às valências, a assistente social avançou que a associação dispõe de um Serviço de Apoio Domiciliário, com capacidade para 39 utentes, o Movimento Sénior com um espaço de convívio frequentado por cerca de 30 idosos. Dispõe ainda de um Gabinete de Inserção Profissional (GIP).

A ADASM é membro do Comissão Integrada para o Idoso e Adulto Dependente (CIIAD) e associou-se, em consórcio, a uma candidatura do concelho de Lousada ao POAPMC – Programa Operacional de Apoio às Pessoas Mais Carenciadas, FEAC, programa que contempla a distribuição de bens alimentares a pessoas em situação de vulnerabilidade social, apoiando 33 pessoas.