Há uns dias, enquanto tomava  café, numa daquelas conversas em que se discute o tempo, de repente levantou-se a ventania. Tudo porque estava bem-disposta (como costumo estar, aliás) e, perante um comentário mais pessimista, fui dizendo que era preciso relativizar, pois existem coisas maravilhosas na vida que, por vezes, nos esquecemos de valorizar, porque o ser humano é naturalmente insatisfeito. Disse-o com  a mesma naturalidade com que respiro, sem procurar debates. No entanto, uma colega, considerando o meu otimismo exagerado, ou a minha capacidade de análise da realidade fraca, reagiu. Que estamos muito mal, que a nossa profissão é mal paga, que temos um desgaste permanente… Eram estes alguns dos argumentos que usou para enevoar o meu céu. Os argumentos eram válidos. De facto, assim é. Há muitos anos que os professores são maltratados e desrespeitados pelos sucessivos governos, as crianças e jovens mudaram e é hoje mais difícil exercer a autoridade… Tive de concordar, para ser coerente. Foi o que precisou de ouvir para incitar à luta. Que era preciso lutar pelos direitos, que a acomodação é inimiga do progresso… Atirou com mais estes argumentos. Válidos também. Concordei, mais uma vez para ser coerente com  a minha postura na vida. Quase sem conseguir reagir, porque as palavras dela vinham em catadupa, lá tive tempo para pensar: “Eu estou a concordar com estes argumentos, sendo coerente com o que penso, mas, feitas as contas, o que ela está a tentar evidenciar é aquilo que considera uma incoerência neste momento da minha parte”. Sim, porque depois de concordar com tudo o que ela disse, era praticamente impossível eu ser feliz! Lá fui argumentando como pude (tive alguma dificuldade em fazer-me ouvir), indo buscar o argumento mais caro da minha felicidade, os meus filhos… Ela não tinha filhos… Certo, não é condição para se ser feliz, mas há outras coisas, fui dizendo…

Vim para casa com este diálogo na cabeça. Tentei percebê-lo e perceber a colega. Trata-se, obviamente, de um assunto que não se esgota em meia dúzia de linhas. No entanto, fez-me evocar outras situações mais recentes que vivi aquando da campanha eleitoral e mesmo após as eleições (tinha que vir cá a política!). Nas conversas nas redes sociais falava-se em ódios, de raivas, de inimigos… Muitos falavam da derrota eleitoral como se do fim do mundo se tratasse, como se não se conseguisse viver após uma derrota eleitoral… Nunca compreendi essa postura. Querer fazer melhor, não ser acomodado, ser ambicioso, ou entrar na luta política não significa que estejamos de mal com a vida, nem que sejamos infelizes, nem que queiramos o mal dos outros e que deixemos de ver o que realmente vale a pena na vida! Não há incompatibilidades quando se trata de aproveitar tudo aquilo que nos possa fazer sorrir!

Apetece-me terminar com uma frase rompida: “A vida são dois dias”! Todo o tempo é sempre pouco para viver, sorrir, amar…