Impor uma ditadura sem crueldade?

0

 

O Papa Francisco classificou a ideologia de género como uma das tentativas mais graves de impor uma ditadura. O fenómeno é, de facto, gravíssimo e está a invadir vários países.

Esta ideologia é a expressão de uma sociedade decadente, sem força para curar as suas doenças, rendida a aberrações sem nexo. Surgiu como um apelo à benevolência, como um coro de perseguidos a pedir compreensão, e transformou-se num programa cada vez mais determinado de eliminar opositores. Hoje em dia, nalguns países, a tentativa de impor esta ditadura está relativamente avançada e, quanto mais poder alcançam mais os seus promotores se apercebem de que é impossível completar a tarefa sem uma dose forte de crueldade.

Este aspecto é importante, porque a ideologia de género pretendia ser a causa dos fracos e perseguidos, de modo que muitos julgavam que procuraria divulgar-se consensualmente, sem impor uma ditadura. No entanto, esta ideologia só convence uns poucos e, para alargar o seu poder, precisa de assustar e de ser cruel. Sem crueldade, nunca passará de uma leviandade marginal.

Por casualidade, ou por outro motivo, a partir de certa altura, a ideologia de género contou com amplas doações de vários dos magnates mais ricos da América do Norte e da Europa: Rockefeller, Ford, Soros, Gates, Turner, Oprah, Bloomberg… Outras causas também receberam ajuda económica, mas geralmente os apoios dispersaram-se sem que nenhuma delas chegasse a adquirir tanta consistência. Pelo contrário, a partir de certa época, a ideologia de género beneficiou de uma concentração de recursos que foi decisiva para lhe dar um estatuto respeitável e pagar a notoriedade nos meios de comunicação social. Porque um louco com muito dinheiro não faz figura de louco, é retratado como um intelectual, ou como um especialista.

No entanto, para se expandir em maior escala, não bastava ter eco na comunicação social, era preciso dominar a educação das crianças. Primeiro, localizadamente, a título experimental, evitando a oposição; depois, abrangendo de forma diluída uma maior população escolar; progressivamente, com programas mais concretos e mais agressivos.

Os protestos eram inevitáveis. Por isso, a estratégia inicial era evitar o confronto, ceder pontualmente se alguém reagisse, dar pequenos passos, aproveitando a condescendência de quem não se opunha. Mas é possível impor uma ditadura sem crueldade?

Na óptica do actual Ministério da Educação, chegou a fase da intransigência contra quem rejeitar a ideologia de género. Para já, o Governo decidiu aplicar um castigo exemplar a uma família de Famalicão que sempre recusou que os filhos assistissem a estas aulas. Os mais velhos já saíram da escola, mas para os mais novos acabou-se o precedente: ou os pais aceitam que os filhos assistam àquelas aulas, mesmo que isso só aconteça simbolicamente, ou dois dos filhos são reprovados e recuam dois anos na escola. Dois anos!

Pelos vistos, as duas crianças são alunos esplêndidos em comportamento e em todas as disciplinas. Melhor ainda, porque a punição serve de aviso ao povo, para mostrar até onde o Governo está disposto a ser cruel.

Segundo as disposições actuais, os estudantes podem passar de ano mesmo que reprovem a várias disciplinas importantes. Melhor, porque fica claro que a ideologia de género tem prioridade sobre a matemática, o português, o inglês, a história.

A Constituição da República Portuguesa estabelece que pertence «aos pais o direito e o dever de educação dos filhos»: bah!

A Constituição declara solenemente que «o Estado não pode programar a educação e a cultura segundo quaisquer directrizes filosóficas, estéticas, políticas, ideológicas…». Sim, até que o despacho de um Secretário de Estado diga o contrário.

Em qualquer caso, não é justo que umas crianças sofram um castigo por causa dos pais. Esse é o ponto. É preciso que o povo perceba que não há limite para a crueldade. Os pais que se opuserem publicamente à ideologia de género terão os filhos castigados de forma cada vez mais cruel.

– «É inquietante que algumas ideologias deste tipo [ideologias de género] (…), procurem impor-se como um pensamento único que determina a própria a educação das crianças» (Francisco, «Amoris Lætitia», 56). O Papa não se referia especificamente ao Governo português quando falava da ideologia de género, mas a crítica aplica-se inteira a este Ministério fanático.