Ilhas, ilhotas e ilhéus

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As ilhas têm tanto de geografia como de magia e fantasia, como é patente nas clássicas histórias  “Robinson Crusoe” de Daniel Defoe, “A ilha misteriosa” de Júlio Verne ou no filme “O náufrago” de Robert Zemeckis. Vai daí dei comigo a fazer umas pesquisas sobre ilhas, cujos achados me causaram algumas surpresas.

Encontrei numa lista as ilhas com mais de 2500 quilómetros quadrados (km2) de área: são 179, sendo a maior a ártica, gelada e dinamarquesa Gronelândia, com algo mais de dois milhões de km2. Nessa lista não está nenhuma ilha portuguesa, pois a maior que temos, a de S. Miguel, não chega aos 750 km2.

A uma ilha pequena pode charmar-se ilhota e ilhéu a uma ilhota pequena, que juntamente com as ilhas maiores podem formar arquipélagos, como as Seicheles; se alguém achar que são muitas as cento e tal ilhas deste país, o que dizer das Filipinas com mais de sete mil ou da Indonésia com mais de 17 mil? E o meu espanto foi ainda maior ao saber que o recorde mundial pertence à Finlândia com nada menos que 179.584 ilhas!

A maior ilha em que já estive é a da Inhaca, a uns 30 km a leste do que então se chamava Lourenço Marques e agora  Maputo, com área de 42 km2. O meu modesto conhecimento de ilhas completa-se com as algarvias junto à costa do Sotavento e as Berlengas. Aquelas são arenosas como as da Culatra e Armona; a de Tavira atinge uns 11 km de comprimento e a “Ilha de Faro” de ilha só tem o nome, pois de facto é uma península ligada à costa, limitando o extremo oeste da Ria Formosa.

Quanto à Ilha da Berlenga com apenas 1 km2 de área, dista cerca de 13 km de Peniche. Com as ihotas e ilhéus Farilhões e Estelas, forma o arquipélago das Berlengas, uma área protegida, integrada nas Reservas Naturais portuguesas e Reserva da Biosfera da UNESCO.

A Ilha da Madeira, um pouco menor que a de S. Miguel, forma com a de Porto Santo um arquipélago que tem a sul mais dois conjuntos de ilhas e ilhotas: as Desertas, a uma vintena de km e as Selvagens, a 250 km. Estas últimas têm uma certa importância, apesar da sua minúscula área total de apenas 2,73 km2. Estas ilhotas têm direito a uma Zona Económica Exclusiva (ZEE) do mar até 390 km das suas costas, o que dá uma área superior a dois mil km2. O Estado Espanhol contesta esta ZEE que limita a das Canárias, 165 km a sul, querendo considerá-las umas rochas sem aqueles direitos, os quais o Estado Português insiste em possuir, considerando as Selvagens como verdadeiras ilhas.

Termino com os Açores e umas quantas curiosidades a seu respeito, como a de ter, na Ilha do Pico, a maior altitude de Portugal, com 2351 metro. Tem sete ilhas habitadas, sete ilhotas e 50 ilhéus. Já me não lembro a que propósito afirmei numa aula que a Ilha do Corvo era a mais ocidental do arquipélago. Uma aluna pediu desculpa e disse que a ilha mais ocidental era a sua, a das Flores. Fiquei admirado mas tive de lhe dar razão, não tendo deixado de o comprovar. Com esta novidade na manga, coloquei a questão a um saudoso amigo, açoreano e pessoa de formação superior. Quando me referiu também o Corvo e ao comprovar que estava errado disse que se sentia um açoreano envergonhado por não saber uma coisa destas. Creio que este erro resulta do modo clássico de referir o nome das ilhas açoreanas começando pelas mais orientais e acabando com as mais ocidentais: Santa Maria, S. Miguel, Terceira, Graciosa, S. Jorge, Pico, Faial, Flores e Corvo.

Não há dúvida de que a Ilha das Flores é mais ocidental que a do Corvo mas em rigor não possui o extremo ocidental do arquipélago. Acontece que a Ilha das Flores tem nada menos do que 20 Ilhéus à sua volta e um deles é muito especial e tem o nome de Ilhéu de Monchique. Trata-se de um pequeno ilhéu mas de um grande rochedo, com 30 metros de altura e 65 de comprimento; está a uns 1500 m a oeste da Ilha das Flores e por conseguinte é não só o extremo ocidental dos Açores como o de Portugal e o da Europa..