José Baptista PereiraDomingo, 29 de Janeiro de 2017, Vila Nova de Gaia. Aparentemente um dia como os outros, mas mais chuvoso, mais enevoado e triste. Saio de casa com vontade de esticar as pernas e saborear um pequeno-almoço à portuguesa, um galão e uma torrada com manteiga, enquanto folheio o “JN” do café. Na primeira página são manchete as notícias sobre a beatificação da irmã Lúcia e a surpresa, que só é para alguns, de que o consumo do tabaco não diminuiu com o aumento dos impostos. Boa fonte de receita. Aumentou-se pouco. Nos países do Norte da Europa, incluindo o Reino Unido, um maço de tabaco custa já mais do dobro do que em Portugal. Mas os olhos desviam-se para uma frase “Portugal help us”. Uma criança sofrida empunha um cartão com esta frase e, logo ao lado, em tom vermelho e chamativo “PAREDES. Câmara investigada por dar empreitadas a empresas amigas”. Alto, isto diz-me respeito. Muito poucas vezes Paredes é manchete num diário nacional de grande tiragem. Abro sofregamente o jornal. Numa página completa, centrada pela fotografia do nosso presidente, um título chamativo “Fraude com milhões da EU investigada em Paredes”. JUSTIÇA grita a vermelho o canto superior esquerdo da mesma página. Leio devagar para perceber melhor. Quem investiga? OLAF – Organismo Europeu de Luta Antifraude. Nunca tinha ouvido falar em tal entidade. Uma coisa é certa. Não é nacional, vem de fora, não tem interesses locais, não terá razões para inventar mas também não as terá para arquivar apressadamente. Suspeitas? Há ano e meio e só agora se sabe? Houve relatórios e a Câmara não deu conhecimento a vereadores e Assembleia Municipal? “Não há fumo sem fogo” diz o povo mas também diz “só acha quem procura” e “no melhor pano cai a mancha”. É só procurar que se achará. Investigação grande para alguns, pequena para muitos outros. Centrada apenas nos Centros Escolares de design exclusivo e de volume megalómano. Mas apenas quatro porquê? Recarei Vilela, Duas Igrejas e Sobreira. E Sobrosa? Onde caíram candeeiros do teto? E Baltar? Onde as crianças adoecem por falta de climatização? E porque não podem o(s) empreiteiro(s) ser chamado(s) para corrigir os erros? Quem faz as obras não é quem ganha os concursos? Ainda tantas perguntas sem resposta. A investigação só pode estar no início. Já agora continuem e completem o trabalho. Temos o direito de ser informados. Praticamente tudo o pouco que foi feito em Paredes usou fundos europeus. Pode não haver nada a reprovar, mas já agora ficávamos a saber. Seria importante para todos, cidadãos, nacionais e europeus, dirigentes e “zé-povinho”. Pior do que levantar suspeitas é não as limpar, não levar o trabalho até ao fim. O artigo explica bem em que se baseia para tirar as suas conclusões mas é ao Ministério Público Português que compete confirmar as provas e acusar ou arquivar. É bom que não demore muito porque temos eleições à porta e precisamos de saber em quem devemos confiar. Saber quem controla e o quê? Saber o lícito e o ilícito. Quem são os responsáveis, se os há? Quem exorbitou, quem errou, quem foi negligente, quem prejudicou ou desviou, quem fez de conta que não viu. A Europa fala em cambão de mais de oito milhões. O gestor dos fundos europeus no norte de Portugal (PORN) decidiram reduzir esse valor para cerca de 2,9 milhões. Simpáticos ou justos? Apesar de tudo o silêncio é ruidoso. Fala-se pouco e com medo. A notícia do JN diz-nos respeito a todos mas poucos falam dela. A notícia é grande mas sabe a pouco…