Três anos depois de as freguesias de Campo e Sobrado terem sido agregadas no âmbito da Reorganização Administrativa Territorial Autárquica, poderá haver um referendo local no município de Valongo sobre a possibilidade da desagregação das mesmas. “Concorda com a desagregação da União de Freguesias de Campo e Sobrado e a criação das freguesias de Campo e Sobrado?” é a questão que poderá ser colocada em breve.

O presidente da Câmara Municipal  de Valongo, José Manuel Ribeiro, e o presidente da União das Freguesias de Campo e Sobrado, Alfredo Sousa, decidiram propor à Assembleia Municipal de Valongo a convocação de um referendo local. “Contrariamente ao defendido para justificar a agregação, hoje está comprovado que não houve quaisquer vantagens, nem económicas nem de outra natureza, que justifiquem a manutenção de uma Lei que, no que diz respeito a Campo e Sobrado e às suas gentes, se revela profundamente desajustada e contrária à vontade das suas populações e dos seus representantes, eleitos nos órgãos autárquicos”, consideram José Manuel Ribeiro e Alfredo Sousa no ofício enviado em presidente da Assembleia Municipal de Valongo, Abílio Vilas Boas, a propor a inclusão da convocação do referendo na ordem de trabalhos da Assembleia Municipal ordinária a realizar no mês de Junho.

Segundo comunicado da câmara municipal, os autarcas consideram que os resultados da consulta popular irão fundamentar os esforços que têm sido feitos no sentido de se repor a autonomia administrativa de Campo e de Sobrado, duas freguesias que possuem identidades próprias, com costumes e tradições específicos e diferenciadores. “A extinção das freguesias de Campo e de Sobrado e a sua agregação numa só freguesia violou a vontade dos Valonguenses e, em especial, a vontade dos habitantes de Campo e Sobrado”, frisam.

“Teremos o povo a dizer aos políticos o que querem”

Não obstante o resultado do referendo não ser vinculativo, como ressalvou Alfredo Sousa ao VERDADEIRO OLHAR, “teremos o povo a dizer aos políticos o que querem, que é as duas freguesias”. “Não é vinculativo, cabe à Assembleia da República criar freguesias, mas terá que avaliar a opinião do povo que apoia a criação das duas freguesias”, disse, afirmando que “queremos o que achamos que temos direito”, mas consciente de que “será difícil desagregar”. Alfredo Sousa recorda que não houve as poupanças, nem as sinergias económicas previstas na lei que esteve na base da reorganização territorial, sublinhando que “houve gastos administrativos enormes”.

Apesar de ainda não ter sido colocada a pergunta em forma de referendo, o resultado deverá ser mesmo favorável à desagregação. Se há três anos a união não foi bem aceite pela população nem pelos vários órgãos autárquicos, agora reforça-se a vontade de ter novamente a freguesia de Sobrado e a freguesia de Campo. Fomos ouvir algumas pessoas nas duas localidades e a conclusão é que a questão da identidade sobrepõe-se a tudo e a recuperação das duas freguesias é o mais ansiado. “Uma freguesia não é um bolo que se corta a meio, diz Felisbela Sousa com a concordância das amigas Beatriz Zenha e Ana Emília, todas residentes em Campo. Nunca disseram que eram da União de Freguesias de Campo e Sobrado. “Campo é Campo. Sobrado é Sobrado”, dizem, garantindo por isso ser a favor da desagregação. Também de Campo é Diana Cunha que, apesar de ser a favor da criação da freguesia de Campo, confessa não ter sentido qualquer diferença nos últimos três anos. Em Sobrado as pessoas são outras mas a vontade é a mesma. “Era já! Nem devia ter acontecido”, diz Manuel Moreira. Com este sobradense de gema estava, no Largo do Passal, Noé Coelho, outro sobradense para quem a união das freguesias nunca devia ter acontecido, não havendo, por isso, dúvidas sobre o sentido de voto no referendo local que se avizinha.

Entretanto, está a nascer no concelho um movimento que junta cerca de duas dezenas de pessoas, provenientes de vários quadrantes, que defende também a criação das duas freguesias, terminando com a agregação de Campo e de Sobrado, explicou ao nosso jornal Adriano Ribeiro, também vereador da CDU na Câmara de Valongo. Hoje realiza-se a segunda reunião do movimento, onde serão definidas as medidas a tomar no sentido da desagregação.