Fechar as escolas?

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Temos de nos despachar. Agora, as aulas começam quinze minutos mais cedo, às oito e quinze.

A entrada já não se faz por um só portão. Os alunos entram de por três locais diferentes consoante o pavilhão onde terão aulas. Os assistentes da escola estão lá, com o desinfetante  que nos lava as mãos antes de entrar no recinto da escola. Nestes tempos, só entra nas escola quem tem de entrar. Professores, alunos, assistentes operacionais e assistentes administrativos.

 Que trabalho notável fazem os assistentes operacionais, agora ajustados a tarefas que nunca tinham imaginado. Não desapareceu nenhumas das competências funcionais que antes tinham de cumprir e, agora, ainda conseguem adaptar-se às novas realidades. Recebem-nos com um sorriso na face e um alegre “bom dia”, mesmo sabendo nós, que também eles se sentem tristes.

À entrada de cada sala de aula há uma mesa com desinfetante e, dentro da sala, as secretárias encontram-se distanciadas e, quando já não há mais espaço, os separadores acrílicos encarregam-se  de evitar, na medida do possível, os  contactos diretos. A secretária do professor tem, também, um separador, para delimitar os espaços de forma a que professores e alunos não falem próximos e de frente uns para os outros. Também ali há um frasco de gel desinfectante e um rolo de papel para limpar o espaço partilhado, se houver disso necessidade. As aulas são dadas de janelas e portas abertas.

Do uso de máscara nem se fala. É expressamente proibido estar dentro daquele espaço sem usar a máscara. Só para comer ou outra necessidade extrema é permitido retirá-la.

As maiores bolhas abrangem três turmas, no máximo. Fantástica é também a forma como os inevitáveis momentos de convívio se consigam organizar num máximo de alunos de três turmas. Sempre os mesmos e nunca em momentos coincidentes. A escola tem cerca de 2.000 (dois mil) alunos. É obra.

Todos cumprem? Pelo menos, à vista, parece que sim. Se um ou outro ousa desafiar as regras definidas para viver nesta comunidade, é sancionado. Sempre que possível de forma pedagógica.

É esta a nova realidade da escola onde trabalhamos. É assim que imaginamos as outras.

É também nesta nova normalidade que todos os dias nos propomos a continuar o trabalho, não como se não estivéssemos em tempo de pandemia, mas apesar dela. Mesmo que alguns de nós se encontrem já dentro dos ditos “grupos de risco” como resultado da idade ou de comorbilidades. É verdade que não conhecemos os novos colegas e só nos cruzamos com os antigos. É verdade que não identificamos fisicamente os novos alunos e temos dificuldades em reconhecer os que transitaram de ano connosco.

Por ora, tem de ser assim. Sem sobressaltos e sem medo. Com respeito e responsabilidade.

Embora sendo locais de grande frequência, de espaços limitados, as escolas –falamos da que conhecemos- conseguiram  organizar-se de forma a sentirmo-nos seguros dentro dela. Diria mesmo que se há contágio que podemos temer é o que pode vir de fora para dentro da escola. É do que pode nascer depois da saída da escola. Não é impossível acontecer um surto na escola, mas é sempre mais provável acontecer fora dela.

Se há infetados nas escolas? Claro que sim. Se há confinados? Obviamente. Se há muitos em isolamento profilático? Seguramente. Mas, pode viver-se noutro mundo hoje?

É também por isso que pensamos que, para além dos efeitos sobre a aprendizagem e sobre a economia, as escolas devem manter-se abertas. Afinal, em tempo de pandemia, conseguem ser o porto de abrigo mais seguro e imprescindível a gerações que não podem ser deixadas para trás.

Fechar uma escola? Só por graves razões de saúde pública.