Não teve uma infância profundamente ligada ao monumento, mas enquanto autarca Humberto Brito cedo reconheceu a importância do Mosteiro de São Pedro de Ferreira, que considera “um ex-libris” do concelho, integrado na Rota do Românico.

À conversa com o Verdadeiro Olhar, no âmbito dos 20 anos do nascimento do projecto e 10 anos da sua apresentação ao público, o presidente da Câmara Municipal de Paços de Ferreira, que também assume a presidência da Associação de Municípios do Vale do Sousa, confirma o novo alargamento que vai permitir a concelhos de fora da região do Tâmega e Sousa juntar-se ao projecto.

O desafio é grande, mas é preciso dar mais um passo em frente, acredita. “Este projecto tem que entrar numa nova etapa do seu crescimento e estou convencido que nos próximos três anos deste mandato teremos uma Rota do Românico refrescada, revigorada, com o trabalho de todos os municípios que fazem parte do projecto e daqueles que se juntarão a nós”, defende.

“O Mosteiro de Ferreira é um monumento que vale a pena visitar, que vale a pena conhecer pela sua história, pelo facto de estar ligado às raízes da nossa nação”

Há dez anos, a 18 de Abril, a Rota do Românico apresentava-se publicamente aos agentes económicos, políticos e culturais da região, na freguesia de Ferreira, em Paços de Ferreira. Era o culminar de outros dez anos de trabalho em que a aposta tinha passado pela conservação e recuperação dos monumentos e pelos estudos de salvaguarda das suas envolventes, pela colocação de sinaléctica e produção de material de divulgação.

Já nessa altura, quando ainda só integrava 21 monumentos do Vale do Sousa – hoje integra 58 da região do Tâmega e Sousa – a Rota do Românico era apontada como “motor de desenvolvimento regional”.

Sentado na nave do Mosteiro de São Pedro de Ferreira, Humberto Brito não tem dúvidas que esse desígnio se tem cumprido e que este património é importante para o desenvolvimento do concelho e da região.

O Mosteiro de São Pedro de Ferreira é um “caso único” no românico português. Distingue-se por ter um nártex cercado por um muro e um campanário de dois vãos e cimalha de duas águas. “Lembro-me de vir aqui, muitas vezes em casamentos, porque era e é um espaço muito procurado pelos noivos, e ficar impressionado pela sua imponência e dimensão”, recorda o autarca. “O Mosteiro de Ferreira é uma peça única que todos conhecemos desde a infância. Há de facto uma ligação profunda ao Mosteiro, deste concelho e desta região”, garante, destacando o parque que o ladeia e lhe dá uma dimensão de lazer, de cultura e de turismo.

“É daqui que começa o próprio concelho a desenvolver-se desde a instalação do Mosteiro no século X”, salienta Humberto Brito.

O Mosteiro é monumento nacional desde 1928. E o facto de a igreja se ter mantido em funcionamento ajudou à preservação deste património, defende.

“Este monumento tem para nós uma importância acrescida porque é um factor de atracção de pessoas, como o é a Citânia de Sanfins. O Mosteiro de Ferreira é um monumento que vale a pena visitar, que vale a pena conhecer pela sua história, pelo facto de estar ligado às raízes da nossa nação, da fundação do país”, sustenta o edil.

“Quando temos algo que é valioso como este projecto só temos que nos agarrar a ele e defendê-lo, promovê-lo e trabalhá-lo por forma a dar-lhe ainda mais notoriedade”

A Rota do Românico veio dar um novo impulso a este a outros monumentos. “É um projecto interessante que surge pela necessidade de cuidar da preservação do património e depois começa a ter uma nova dimensão, de promoção, de divulgação e é hoje um projecto turístico e cultural”, afirma o presidente da Câmara Municipal de Paços de Ferreira.

Elogiando o trabalho notável realizado nos últimos anos, Humberto Brito destaca a visão estratégica dos autarcas que estiveram na génese desta ideia. “Aqueles autarcas foram visionários. Há que reconhecer o mérito de quem projectou, pensou e depois executou, de quem teve essa capacidade de pegar no que existia e projectá-lo a esta dimensão. É graças a eles que hoje podemos estar aqui a falar da Rota do Românico como projecto emblemático da região e do país”, argumenta.

Agora, no entanto, defende, é preciso dar um passo em frente. “Tendo assumido a presidência da Associação de Municípios do Vale do Sousa temos, de facto, uma perspectiva de olhar para a Rota do Românico de forma diferente”, assume. Até porque este é o projecto mais agregador dos concelhos de Castelo de Paiva, Felgueiras, Lousada, Paços de Ferreira, Penafiel e Paredes. “Este projecto é o que junta estes seis municípios de forma muito forte, coesa e solidária e todos nós temos a noção da sua importância para a afirmação destes concelhos em Portugal e fora de portas”, justifica o presidente da câmara.

“Quando temos algo que é valioso como este projecto só temos que nos agarrar a ele e defendê-lo, promovê-lo e trabalhá-lo por forma a dar-lhe ainda mais notoriedade do que a que já tem”, acredita Humberto Brito.

Alargamento vai trazer “escala e sustentabilidade”

Por isso, a Associação de Municípios decidiu avançar para o alargamento do projecto a outros concelhos que não apenas os que integram o Tâmega e Sousa. “Este não é um projecto só nosso quando se fala do património edificado existente e queremos abri-lo a outros municípios. Daí a importância do trabalho desenvolvido nos últimos anos para valorizar e dar a conhecer a Rota do Românico”, defende o autarca.

Segundo o edil pacense, essa abertura, vai trazer “maior notoriedade, relevância e importância” e também “escala e sustentabilidade”, fazendo com que o Governo e outras entidades que gerem o património em Portugal “possam valorizar ainda mais o trabalho que é aqui desenvolvido”. “Corríamos o risco, como há mais românico no país, de perdermos a tutela deste projecto. Ele podia ser tutelado pela Direcção Geral da Cultura ou pelo Ministério da Cultura”, dá como exemplo.

Esta opção, política e uma das primeiras tomadas enquanto presidente da Associação de Municípios do Vale do Sousa, vai dar “um novo impulso e uma nova dimensão à Rota do Românico”, adianta.

“As principais catedrais deste país, em Lisboa, Porto, Braga e Coimbra também são do românico. Não temos que nos apequenar, muito pelo contrário, temos que abrir as portas e aproveitar outros monumentos que estão no país que fazem parte do nosso berço, da fundação de Portugal e que se podem juntar a este projecto e dar-lhe outra dimensão”, sustenta Humberto Brito, lembrando a importância de preservar esta memória colectiva.

“O facto de, nesta região, termos valorizado e aproveitado este património e de o termos usado bem deve servir para que o resto do país siga este modelo, se junte a nós e possamos fazer um trabalho para que daqui a dez séculos continuemos a ter a Rota do Românico e este património riquíssimo”, refere.

“Um turismo diferente para pessoas diferentes”

O objectivo não é atrair massas, até porque a região não teria resposta para as acolher, admite Humberto Brito: “Neste momento no Tâmega e Sousa não temos hotéis para acolher milhares de turistas”. “O objectivo é permitir que as pessoas, em primeiro lugar os portugueses, possam conhecer esta região e estes lugares lindíssimos pela sua cultura e paisagem, pela sua gastronomia”, oferecendo “um turismo diferente para pessoas diferentes” aponta. “Estou convencido de que quem vier nunca se arrependerá desta experiência única”, afirma o presidente da Câmara Municipal de Paços de Ferreira.

Além da abertura a novos municípios, sendo que o autarca não revela para já quais os interessados em juntar-se ao projecto, também os vereadores da Cultura de cada concelho vão reunir com mais frequência dando “orientação política” e definindo estratégias para a Rota do Românico.

“Isto não é por em causa o trabalho que foi feito e bem feito pelos técnicos, nomeadamente a Rosário Machado, que é conhecedora como ninguém do românico, mas creio que esta dimensão política é importante para tomarmos decisões que poderão reforçar todo o trabalho que é feito do ponto de vista técnico e que permitirá também que o projecto turístico-cultural possa trazer mais pessoas e outro tipo de pessoas”, argumenta o edil.

“Considero que há aqui um esforço colectivo muito grande a ser feito ainda para aumentar a notoriedade”, acrescenta.

Com o novo alargamento da Rota do Românico, que abre a porta a outras sensibilidades, experiências e necessidades, o projecto poderá melhorar, acredita Humberto Brito. “Este projecto tem que entrar numa nova etapa do seu crescimento e estou convencido que nos próximos três anos deste mandato teremos uma Rota do Românico refrescada, revigorada, com o trabalho de todos os municípios que fazem parte do projecto e daqueles que se juntarão a nós”, conclui o autarca.