“Mais vale prevenir do que cair”. É essa a mensagem que três enfermeiras do Serviço de Ortopedia do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS) estão a levar aos profissionais de lares e centros de dia da região.

Só em 2018, 40% dos 2.700 internamentos neste serviço foram de utentes com mais de 65 anos, na maioria dos casos por fracturas provocadas por quedas.

O objectivo é contrariar esta tendência, reduzindo o número de idosos que dão entrada no hospital por este motivo.

A última visita aconteceu, na semana passada, no Lar do Centro Social e Paroquial de Freamunde, em Paços de Ferreira. No total, este ano, estas enfermeiras chegaram a cerca de 90 profissionais a quem pedem que levem a mensagem às centenas de utentes e familiares.

“Se reduzirmos uma queda já é uma vitória. Levem esta mensagem a mais gente”, apelaram as enfermeiras Ana Files, Emília Rocha e Tânia Correia.

Múltiplos factores na base das quedas

Segundo a Organização Mundial de Saúde, as quedas são a segunda causa de morte por lesão acidental ou não intencional em todo o mundo logo a seguir aos acidentes rodoviários. Cerca de 30% das pessoas com mais de 65 anos cai uma vez por ano, em casa, subindo o número para os 50% quando falamos de seniores em institucionalizados.

As quedas são consideradas a maior ameaça à saúde e independência dos idosos. Em resultado de quedas, 10 a 20% acabam por falecer, 50% ficam com perdas funcionais e/ou motoras e apenas 30% recuperam para os níveis de autonomia anteriores à fractura, explicam as enfermeiras em cada sessão.

“Prevenir a queda em pessoas idosas pode significar prevenir a perda da autonomia e independência e preservar a conservação da capacidade funcional do idoso”, salientam. 81.842 pessoas com 65 ou mais anos viviam nos 12 concelhos abrangidos pelo CHTS em 2018, segundo dados da Pordata.

O objectivo destas sessões é preparar os profissionais que trabalham em lares, centros de dia e convívio e serviços de apoio domiciliário deste território para a identificação de factores ambientais e comportamentais que aumentam o risco de queda, actuando na prevenção.

Entre os factores que podem levar à queda, alertaram as enfermeiras, estão, por exemplo, problemas na visão e marcha, diminuição da força muscular, negação das fragilidades, doença cardiovascular, uso de medicamentos, ansiedade e depressão, demências, problemas nos pés ou posturas inadequadas, entre outros. Depois, há os problemas das casas e espaços onde se movimentam, desde superfícies escorregadias, tapetes soltos, objectos pelo chão, calçado e roupa desadequados, escadas sem corrimão ou falta de iluminação, por exemplo.

“A verdade é que uma queda num idoso pode ser fatal”

“A queda poderá por exemplo provocar fracturas, traumatismos cerebrais e lesões nos músculos que irão diminuir a capacidade do idoso de se movimentar e realizar as suas actividades diárias, diminuindo a sua qualidade de vida e aumentando o risco de morte”, salientaram Ana Files, Emília Rocha e Tânia Correia, em Freamunde.

Entre as dicas dadas aos profissionais, que as enfermeiras pedem que façam chegar às famílias, ficam a avaliação regular da visão, o treino da força muscular, a revisão da medicação, a avaliação dos perigos em casa e nas instituições, colocando piso anti-derrapante ou fixando os tapetes ao chão. Cozinhas, escadas, quartos e casas de banho são locais frequentes de quedas. Ensinam ainda técnicas para levantar os utentes ou como agir em caso de queda, dentro e fora da instituição.

“O objectivo deste projecto é ir de encontro à população e alertar para pormenores que fazem toda a diferença na prevenção de quedas e que isso deixe semente. Neste momento pessoas não estão sensibilizadas para prevenir as quedas nos idosos. A verdade é que uma queda num idoso pode ser fatal, em alguns casos é mesmo. E há uma grande percentagem que fica com lesões para a vida toda”, sustentam as três enfermeiras do CHTS, lembrando os elevados custos para famílias e para o próprio centro hospitalar.

A maioria dos acidentes acontece em casa, mas as complicações são maiores nos idosos que estão institucionalizados, normalmente já mais velhos e debilitados, referem.

Só este ano já chegaram a 90 profissionais. Objectivo é continuar projecto no próximo ano. Estas enfermeiras fazem estas sessões no seu tempo livre.

“Queremos reduzir a entrada por quedas no hospital e que os lares introduzam escala para avaliar risco de quedas nos utentes. Se reduzirmos uma queda que seja já é uma vitória”, garantem.

Lar registou apenas três quedas com fractura em oito anos

Os profissionais do Centro Social e Paroquial de Freamunde, em Paços de Ferreira, ouviram as explicações. A instituição existe há mais de 30 anos e presta apoio a 140 seniores em várias valências, desde centro de dia e convívio, lar e apoio domiciliário.

“Grande parte das medidas já está em prática na instituição. Temos muita preocupação em prevenir acidentes e quedas”, sustentam a enfermeira Catarina Morais e a directora técnica Anabela Freire. “Tentamos anular sempre os riscos mas há sempre quedas inevitáveis”, afirmam. Ainda assim, nos oito anos de existência do lar foram registadas três quedas com fractura. Há outras quedas, mas praticamente sem consequências.

Quando as quedas acontecem em casa, é muitas vezes a instituição que ajuda as famílias com os seniores com dependência e a aprender a lidar com a situação.

“Costumamos dar sempre conselhos aos nossos utentes. Gostam muito de andar de chinelos e tentamos evitar ao máximo que o façam”, explicam.

No global, consideraram a sessão “útil e enriquecedora”.