O mundo continua, e bem, chocado com a decisão de Putin atacar a Ucrânia. Ainda estão por perceber as reais motivações por detrás desta invasão. Impedir um hipotético cerco da Nato que surgiria com a entrada da Ucrânia nesta organização? Deitar as mãos a um território rico em minérios e em terra fértil e arável? Ficar na história como o líder que recuperou o império soviético? Tudo isto, parte disto, ou nada disto?

Será que um homem perto dos 70 anos que, com esta atitude entrou para a lista dos mais odiados e temidos do mundo, padece de alguma doença mental ou física que o leva a tomar decisões sabendo que as mesmas pouco ou nada impactarão na sua vida terrena, mas antes na vida que perdurará nas memórias da história?

Considero surpreendente que um líder de um país como a Rússia, tenha optado pela guerra convencional em vez de, como fazem a China e os EUA, optar pela guerra económica.

Esta decisão de um homem só, rodeado de homens que o querem agradar e beneficiar do seu poder, deve servir para nos abrir os olhos para os perigos dos regimes autocráticos e para os riscos dos votos irrefletidos ou de protesto nos partidos das extremas, sejam elas do quadrante esquerdo ou direito.

Deve servir também para mostrar que os regimes democráticos continuam a ser os mais seguros e os únicos que garantem a sustentabilidade do nosso planeta e da nossa espécie, e que só num regime democrático, onde existe alternância no poder, é que se pode assegurar que um líder não se confunde com um Deus, achando que pode fazer o que quer com a vida dos outros porque esta pouco ou nada significa quando comparadas com o seu ego e o seu lugar na história.

Esta invasão também mostrou que a Europa, para sobreviver, tem de continuar unida, solidária, atenta e proativa. Mostrou que sair da Europa, como fez o Reino Unido, só torna a Europa mais frágil e logo mais vulnerável. Os países europeus não têm de ser pró EUA, pró China ou pró Rússia, tem sim de ser pela Europa e por um ideal europeu baseado na paz, na liberdade, na tolerância, na solidariedade, na igualdade e no crescimento económico e social.

Putin decidiu colocar-se numa posição de nós (Rússia) contra o mundo, em vez de estar com o mundo, promovendo políticas que colocassem o resto do mundo a depender economicamente da Rússia.

Putin também terá pensado que conseguiria conquistar a Ucrânia com a facilidade com que conquistou a Crimeia, o que se revelou errado face à determinação do povo ucraniano e principalmente do seu líder. Mas e agora? Putin aceitará uma retirada humilhante? Qual é a saída digna para o ego de Putin? Se for mesmo uma questão de ego o único caminho possível é para a frente e continuar uma escalada que arrastará esta guerra no tempo e pior, poderá levar a tomar decisões que prejudicarão todo o nosso planeta. Por isso e agora?

Alguém tem de convencer e travar Putin oferecendo-lhe uma saída que não pareça uma derrota.

As medidas que muitas entidades públicas internacionais e até empresas privadas estão a tomar, para além de inéditas, deverão colher frutos, pois mexendo nos bolsos dos oligarcas que são próximos do poder instalado, isolando a Rússia do mundo e fazendo a população regressar para a frugalidade e miséria do regime soviético depois de terem experimentado o capitalismo moderno, poderá levar o regime a implodir e a fazer aparecer uma solução de paz, seja convencendo o atual líder russo a dar um passo atrás, seja destituindo-o colocando um fim à sua vida política ou física.

Estes tristes e indesejáveis acontecimentos também mostraram que os portugueses escolheram bem nas eleições legislativas. Olhando para as ações e palavras do governo e para as primeiras declarações infelizes e inoportunas do líder do maior partido da oposição, percebe-se que o povo escolheu bem.

Mostrou também que os portugueses são solidários e fraternos. Por todo o país se criam movimentos para ajudar o povo ucraniano e os seus refugiados. Pessoas que abdicam do conforto da sua vida e até de algum dinheiro para ajudar aqueles que, de forma injustificada e cruel, viram a sua vida perder a normalidade a que tinham direito.

Mais uma vez é-nos mostrado que na guerra ninguém ganha e o mais grave é que se perdem vidas, destroem-se famílias, sonhos e o direito que cada indivíduo tem de ser feliz e viver neste planeta em paz.

A riqueza deste planeta assenta na vida de todos os seres que nele habitam e acabar com essa vida é destruir o sentido deste planeta. Homens que no poder se servem de todos nós em vez de servir todos, não servem para nada.