“Fazer mais e, se possível, melhor, em vez de diferente.” Confesso que fiquei perplexa quando li esta afirmação. Por momentos, afigurou-se-me uma charada, um enigma, um quebra-cabeças que seria preciso decifrar. Cheguei a pensar que fosse um truque linguístico de marketing para chamar a atenção do leitor, tipo ecrã com ruído no meio de uma emissão. Bem conseguido, porque captou a minha atenção. O autor de tal proeza de raciocínio é o candidato do PS, Dr. Pedro Machado, e a frase é o título de um trabalho jornalístico (Desta vez a imprensa não ajudou mesmo!).

Vamos tentar perceber os meandros deste raciocínio. A primeira parte não é original. “Fazer mais e melhor”, em relação a Lousada, é ideia que Leonel Vieira se tem cansado de repetir, com convicção. Pedro Machado copiou-a, mas, para ser original, acrescentou-lhe “se possível”. Caros leitores, o nosso presidente da Câmara não tem a certeza de que é possível fazer melhor! Isto é grave, muito grave. Que ache que fez bem… eu até aceito, pois cada um tem os seus padrões de exigência… Mas perder a ambição, achar que chegou ao topo… Dir-me-ão que é presunção. Se fosse só isso, bem estávamos. Mas é mais: é a estagnação e a inércia. Quem tem dúvidas de que é possível fazer melhor não deveria apresentar-se aos eleitores. Acham que está tudo bem a nível social? Não há desemprego? Não há pais com dificuldades em proporcionarem aos seus filhos a formação que gostariam? Há, sim! E por isso queremos fazer mais e melhor. O que levou às grandes conquistas no passado foi a convicção de que era possível fazer mais e melhor, mesmo quando nem uma luz havia ao fundo do túnel. Foi assim com as grandes descobertas da ciência. Foi assim quando, no séc. XV, os portugueses se aventuraram nos mares. O primeiro passo para a estagnação é, pois, achar que se atingiu os limites e não ter a ambição de querer fazer melhor. Na verdade, tenho boas razões para pensar que o PS Lousada atingiu o limite. Mostra que não sabe fazer melhor, quando muitas das suas medidas são uma réplica do programa da Coligação Lousada Viva. Quando repete até à exaustão iniciativas como o vídeo mapping, que nos custam milhares  de euros e pouco ou nada trazem de novo! Quando gasta dezenas de milhares de euros no festival Vila para garantir público, depois de o deixar morrer! Quando esbanja o nosso dinheiro a torto e a direito, em festas e festinhas, tendas e tendinhas…

Dando, provavelmente, conta de que falar em “mais e melhor” era fazer eco das ideias da Coligação Lousada Viva, ou talvez para tornar o seu raciocínio ainda mais engenhoso, o Dr. Pedro Machado lançou mão de um paradoxo admirável, mostrando que as semelhanças com o Dr. Leonel Vieira eram pura coincidência, já que a palavra-chave da campanha da Coligação é “diferente”. Negando a diferença, anularia por completo a proximidade perigosa. Fazer mais e melhor “em vez de diferente”, disse. Este raciocínio foi de mais. Se, de facto, o objetivo era descolar-se da Coligação Lousada Viva conseguiu, mas para o fundo, porque se enterrou. Explique-me lá, senhor Presidente, com vai tentar fazer melhor sem fazer diferente. Qualquer cidadão percebe que num processo de conceção de algo, para se obter melhor resultado, ou se mudam os ingredientes, ou a sua qualidade ou a forma de os combinar. Parafraseando Einstein, querer obter um resultado melhor agindo da mesma forma é insanidade. Aliás, negar-se a agir diferente é condenar-se ao fracasso. Perante as mudanças sociais, económicas, ambientais, científicas, tecnológicas, todos temos de estar preparados para fazer diferente, para nos adaptarmos às circunstâncias.

Julgo que aprofundei com clareza aquilo que considero ser um discurso balofo, sem qualquer profundidade. Porque em política não basta dizer. É preciso saber o que se diz. É preciso também convicção. Os lousadenses não se deixam levar por meia dúzia de palavras. Tem de haver ideias consistentes. Portanto, às acusações do PS de que  fazemos ataques pessoais e coisas que tais, eu aconselho ponderação na hora de falar, até porque nessa matéria julgo que teríamos mais razões de queixa. Mas eu não quero ir por aí. Nas nossas considerações, estiveram sempre em causa ideias. Se existe alguém que se sente vítima de ataques pessoais, que o diga, mas indicando as circunstâncias: quando, onde e quem. Não basta lançar a ideia de que os outros são os maus. O combate político também se faz apontando incoerências e fragilidades nas ideias. O facto de o PS ser poder há quase 30 anos permite-lhe tudo e, quando a Coligação Lousada Viva aponta uma incoerência à oposição, aqui-d’el-rei que são ataques pessoais! Só me faltava virem dizer que este meu artigo é um ataque pessoal ao Dr. Pedro Machado. Há gente para tudo.