Da repetição das eleições e do “fim” do CDS

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Entre fundações, comissões, associações, observatórios e outras coisas parecidas com estas o Estado mantém centenas de instituições públicas que custam centenas de milhões ao erário público. Se a generalização pode ser perigosa, já o mesmo não poderemos dizer da maioria desses organismos que, em grande parte, só acrescentam gordura a um estado que todos – ou quase – reconhecemos já como sofrendo de obesidade mórbida.

Apesar disso, nunca nos lembraríamos de colocar a CNE (Comissão Nacional de Eleições) no mesmo saco dos carreiristas dos partidos que se alimentam do orçamento do estado e, sem ele, não seriam capazes de produzir coisa alguma para além do nada ou menos do que isso.

No entanto, desde há muito que em intervenções públicas demos conta da ineficácia e ineficiência e inércia da CNE.

A obrigação de repetir as eleições no círculo da Europa, determinada pelo Tribunal Constitucional, se por um lado evidencia o laxismo dos partidos políticos não deixa, por outro lado, de ostentar com todo o esplendor o “deixa andar” que tem caracterizado a CNE. Nestes e noutros casos. É que colocando a CNE, como achamos óbvio, no plano dos organismos fundamentais para garantir a transparência dos atos eleitorais, já há muito que vimos sentindo que quase só se dá conta da sua existência quando há um boicote numa ou noutra mesa de voto de qualquer eleição. Se normalizamos a ideia de que a CNE é só mais um serviço para fazer serviços destes também corremos o risco de concluir que, por ser absolutamente incompetente, se torna completamente desnecessária.

Quanto à expectativa que a repetição do ato eleitoral pode gerar, e mesmo correndo o risco de errar, pensamos que não estaremos longe da verdade se acreditarmos que com esta trapalhada toda, muito provavelmente, estamos a transformar o ato eleitoral mais participado neste círculo no exercício mais ostensivamente ignorado por uma comunidade que, cada vez mais, começa a sentir-se menos ligada às suas origens. Estamos crentes de que a abstenção irá aumentar drasticamente. E, desta vez, ninguém culpará os emigrantes de não se importarem com o seu país.

Enquanto isto, o CDS vê neste imbróglio a possibilidade remota de se manter no parlamento, apelando até à caridade eleitoral sustentada na história do partido e a relevância de manter a sua permanência no parlamento. Os eleitores não costumam ser sensíveis a estes apelos.

Quiçá, o CDS está a esquecer que Freitas do Amaral matou o primeiro CDS quanto acabou com a AD e Paulo Portas eliminou o segundo CDS quando quis ser irrevogável. Não há terceiro CDS.