Uns leram histórias e poemas sobre a importância da família e fizeram peças de teatro, os outros contaram histórias da juventude e até anedotas. E se os primeiros foram conhecer a realidade dos lares e centros de dia, os segundos foram ver como é a escola de agora.

Esta segunda-feira, dezenas de crianças e seniores de Duas Igrejas, Lordelo e Sobrosa, em Paredes, partilharam experiências durante uma iniciativa promovida pela Associação para o Desenvolvimento Integral de Lordelo, através da equipa do Serviço de Atendimento e Acompanhamento Social da Rede Local de Intervenção Social (RLIS).

Eram só para enviar cartas, mas acabaram a visitar os seniores

A RLIS desafiou os agrupamentos de escolas e instituições particulares de solidariedade social do concelho a participar no projecto “Correio Solidário Intergeracional”.

O objectivo era aproximar gerações e lutar contra o isolamento social. Os Agrupamentos de Escolas de Duas Igrejas e Lordelo responderam afirmativamente e dezenas de alunos escreveram textos, poemas e postais que iriam ser enviados pelo correio aos idosos do concelho. Mas durante o processo, os mais novos manifestaram a vontade de entregar directamente as mensagens aos seniores. Por isso, a RLIS organizou, esta segunda-feira, encontros geracionais, onde os mais novos leram as cartas e os mais velhos partilharam histórias.

De manhã, os utentes da ADI – Associação de Solidariedade Social de Duas Igrejas foram conhecer o centro escolar de Duas igrejas, enquanto os utentes da Obra Social de Sobrosa estiveram no centro escolar de Sobrosa. À tarde, foi a vez dos alunos do Agrupamento Escolar de Lordelo se deslocarem à Associação para o Desenvolvimento Integral de Lordelo (ADIL).

Nas iniciativas participaram mais de 60 crianças e cerca de 90 seniores.

“Gostávamos de vir cá mais vezes”, garantem os mais novos

E se os mais jovens levaram mensagens de amor e amizade, os mais velhos contaram histórias de tempos difíceis, de infâncias roubadas pela necessidade de trabalhar, de tempos de fome, de andar descalços e de brincar pouco e com pouco.

“Eu tive os meus primeiros sapatos quando fui à comunhão”, contou Joaquim Leal, de 74 anos. “Eu com sete anos saía de Frazão, em Paços de Ferreira, com um açafate à cabeça e os pés descalços para ir levar sopa ao meu pai”, recordou Lucinda Silva, de 77 anos, falando de tempos em que a alimentação era pouco mais que pão e sopa. “Vocês têm que dar valor ao que têm. Vocês hoje são todos ricos”, diziam aos mais pequenos. Mas também houve tempo para falar de jogos tradicionais de outros tempos, de explicar o que é a boccia e até de contar anedotas.

No final, todos faziam balanço positivo. “Correu muito bem porque houve interacção. Foram eles que sugeriram nas aulas ‘e se nós lá fossemos professora?’, referiram Virgínia Branco e Elisabete Camilo. “O intuito foi sempre que aprendessem algo com os mais velhos e que os animassem numa troca de vivências enriquecedora”, acrescentaram as docentes do Agrupamento de Escolas de Lordelo.

E os mais novos garantem que aprenderam, que gostaram da experiência e que gostavam de repetir. Bianca, Francisca, Lara e Mariana, quatro das meninas presentes, concordam que a vida antes era pior, “apesar de agora reclamarmos…”. Todas têm ainda avós e até bisavós que já lhes contam algumas histórias desses tempos mais antigos. “Foi fácil fazer os textos e gostamos de os ler. É importante valorizar os mais velhos. Gostávamos de vir cá mais vezes”, disseram.