As cinco freguesias do concelho de Valongo foram, a semana passada, palco da “Semana de Prestação de Contas”. O evento, que tinha por objetivo dar a conhecer aos munícipes a forma como os recursos financeiros da autarquia tinham sido utilizados em 2018, não captou muita gente tendo, em cada uma das 5 sessões, sempre mais funcionários e eleitos locais do que munícipes.

Efetivamente, o modelo em vigor, em nada contribui para o esclarecimento da população e limita-se a ser um amplificador das mensagens políticas do atual presidente. Os quadros apresentados são, cada vez mais, equiparados às tabelas nutricionais dos alimentos. Estão lá, estão bem feitos, mas, perante os soundbites do presidente, perdem destaque e ninguém os lê.

O ato de prestação de contas é um exercício de humildade, que projeta o futuro com base no nosso desempenho passado. Prestar contas não é só falar das coisas boas, é também assumir o brutal aumento de impostos que se verificou em 2018 (e continua em 2019), é assumir que as grandes obras municipais foram e são comparticipadas a 85% pelos fundos comunitários, é esclarecer os contratos de prestações de serviços realizados com empresas de comunicação no limiar da obrigatoriedade do concurso público (exemplos: o contrato de 74970€ com a WGC Branding & Communication unipessoal, Lda, empresa de Manuela Couto, mulher do ex-residente da Câmara de Santo Tirso, ou o contrato de 74999€ com a empresa Longo Alcance – Estratégias de Comunicação, Lda, cujo gerente é Luis Miguel Viana, promotor de algumas campanhas do PS), é, sobretudo, ouvir as pessoas.

Prestar contas é aceitar que os munícipes tragam os seus problemas e reclamem aquilo que falta fazer, é respeitar as juntas de freguesia e todos os eleitos locais, independentemente da sua cor política. E nesta matéria, o presidente da Câmara ainda tem muito caminho a percorrer.

Exemplo disso, foi a última sessão pública da “Semana de Prestação de Contas”, em Sobrado. O presidente da Câmara lançou o repto ao tesoureiro da Junta de Freguesia de Campo e Sobrado para que este tomasse a palavra. Este, em representação da sua autarquia diz que, nos últimos anos, nada se fez em Sobrado e que as obras foram quase nenhumas. Perante a afirmação, o presidente da Câmara levanta-se e responde, em tom de voz elevado e descontrolado, que não aceitava que um eleito local do PS fosse para uma sessão pública dizer mal da Câmara. Lamentavelmente, e para a perplexidade de todos os presentes, o presidente da Câmara ainda diz ao tesoureiro da junta de Campo e Sobrado, e passo a citar: “O senhor para mim não vale nada, o senhor vale zero!”

Assim vai a transparência em Valongo. Termino com 2 citações: “Se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder” de Abraham Lincoln e “Dominam-se mais facilmente os povos excitando as suas paixões do que cuidando dos seus interesses” de Gustave Le Bom.