Celso Ferreira, ex presidente da Câmara Municipal de Paredes, vai ser condecorado pelo presidente timorense, José Ramos-Horta, no 21º aniversário da restauração da independência, numa cerimónia que se realiza amanhã, no Palácio Lahane.

Citado pela Lusa, José Ramos-Horta refere que os cidadãos estrangeiros reconhecidos “desempenharam atividades incansavelmente a favor” de Timor-Leste e do desenvolvimento”.

“Os serviços prestados pelos nossos amigos estrangeiros, no âmbito de relações entre Estados, no sentido de promover amizade entre povos, são cruciais, contribuindo também para a paz, a estabilidade nacional e o desenvolvimento em Timor-Leste”, disse ainda.

“Timor-Leste conseguiu ultrapassar diversos desafios e alcançar alguns sucessos, em determinadas áreas de desenvolvimento, graças também a uma série de atividades realizadas pelos nossos amigos estrangeiros durante as suas missões de trabalho no nosso país e fora do nosso país”, sublinhou o dirigente de Timor, segundo nota da Lusa.

Assim, o antigo autarca de Paredes faz parte da lista de mais de 100 pessoas que vão ser condecoradas, sendo que dois são cidadãos portugueses e um brasileiro.

Segundo a Lusa, a lista de condecorações prevê a atribuição de condecorações nos graus de Colar, Medalha, Insígnia da Ordem de Timor-Leste, e ainda a atribuição de Medalhas de Mérito e certificados de reconhecimento.

Entre os condecorados com o Colar da Ordem da Liberdade contam-se então o antigo presidente da Câmara Municipal de Paredes, Celso Ferreira, e o empresário português Mário Costa, sendo que ambos equiparam a carpintaria da Diocese de Baucau.

Esta condecoração surge pela iniciativa “Uma fábrica por Timor”, um projeto de diplomacia empresaria com Timor-Leste, que o antigo Presidente da República da ex-colónia portuguesa, José Ramos-Horta, na altura classificou como “verdadeiro milagre económico na região”.

A ideia foi também apontada pelo próprio Governo português de então como um modelo de responsabilidade social e empresarial e um exemplo a seguir por outros municípios, na área da política externa nacional.

O projeto foi lançado pela autarquia de Paredes e pela Diocese timorense de Baucau, em 2001, começando com um convite às fábricas de mobiliário do concelho de Paredes, para cederem gratuitamente equipamento fabril para a criação da primeira unidade industrial de raiz no setor do mobiliário em Timor-Leste, como revelava a autarquia de Paredes, na altura.

Aceitaram o convite 28 empresas que, solidariamente, apoiaram a iniciativa, enviando para Timor maquinaria e equipamento avaliado em mais de 500 mil euros. Para administrar a iniciativa, foi também criada a Associação para a Cooperação com Timor, que englobou os autarcas do município de Paredes e a Diocese de Baucau.

O Centro Tecnológico de Baucau – Rota dos Móveis seria oficialmente inaugurado a 19 de março de 2007 por José Ramos-Horta (na altura, Primeiro-Ministro) e pelo presidente, também na altura, da Câmara Municipal de Paredes, Celso Ferreira.

Numa primeira fase, a colaboração de Paredes possibilitou a produção de mobiliário escolar e mobiliário básico imprescindível para a reconstrução daquele país. No entanto, o objetivo foi também o de proporcionar o aparecimento de novas profissões ligadas ao setor da madeira e do mobiliário, aproveitando a abundância de matéria-prima existente em Timor-Leste, nomeadamente as madeiras pau-rosa e pau-ferro.

A Câmara de Paredes deslocou técnicos para a montagem da fábrica e formadores que deram início a todo o processo. O protocolo prevê igualmente que a Diocese de Baucau articule, com programas específicos de cooperação, a formação profissional anual de novos operários nas áreas da saúde, higiene e segurança no trabalho.

Apesar das dificuldades iniciais, da distância e de outros imponderáveis burocráticos e logísticos, a congregação dos esforços e vontades de todos os envolvidos tornou a fábrica uma realidade.

O Centro Tecnológico de Baucau – Rota dos Móveis envolve uma área de 1.570 metros quadrados e rapidamente se constituiu como uma referência e motivo de orgulho no país, empregando dezenas de trabalhadores e formando mais de uma centena de novos operários anualmente.

Para além dos 50 postos de trabalho em permanência, foram envolvidos no Centro Tecnológico de Baucau, direta ou indiretamente, mais de 500 famílias. E muitos dos formandos abriram negócios próprios uma vez concluída a formação, noutro contributo para a economia do país.

Em resultado deste investimento, a fábrica assegurava a completa criação e produção de linhas de mobiliário e carpintaria, conseguindo equipar diversos organismos oficiais, entre escolas, embaixadas, tribunais, hotéis e até o gabinete da Presidência da República.

Em outubro de 2010, o município de Paredes realizou a Conferência de Doadores por Timor, com o Alto Patrocínio do Presidente da República Portuguesa e o primeiro Alto Patrocínio da história concedido pelo Presidente da República de Timor-Leste. Contou ainda com o apoio dos Ministros dos Negócios Estrangeiros de Portugal e Timor e do Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento.

O evento superou as expetativas pelo montante dos donativos angariados e embora o leque de doadores não tenha ficado totalmente fechado com a conferência, o primeiro balanço superou os cinco milhões de euros em bens ou serviços doados a Timor-Leste ao abrigo da Lei do Mecenato.

No total, mais de 50 empresários e instituições mostraram a sua solidariedade e, motivados pelo sucesso de anteriores operações lançadas pela Câmara Municipal de Paredes, garantiram a doação de outros bens ou serviços que permitiram lançar mais oito projetos autónomos em Timor, em áreas como a construção civil, a metalomecânica, as obras públicas, o calçado, o têxtil e a energia.