Sob o slogan “Porque todos contam”, Nuno Monteiro apresentou-se como candidato à Câmara de Valongo pelo Bloco de Esquerda, repetindo a candidatura do partido em 2017. Na sessão, que decorreu em Ermesinde, com a presença da coordenadora do Bloco, Catarina Martins, o candidato salientou os “perigos” das maiorias absolutas do PS e PSD que têm marcado os ciclos de poder no concelho e afirmou que se vivem “tempos de narcisismo e megalomania”. “As prioridades deste executivo estão completamente erradas”, apontou Nuno Monteiro, falando de uma política voltada para “a pedra e o cimento”, quando devia ser voltada para as pessoas.

O bloquista apresentou como metas da candidatura que lidera a aplicação da tarifa social automática da água; o aumento da habitação social e pública para 6%; a criação de uma rede de transportes que verdadeiramente sirva a população, com novas carreiras e reforço das actuais, criação de um circuito municipal de transportes e de um transporte personalizado a pedido; a aposta nos espaços verdes e na limitação do espaço atribuído ao automóvel; o reforço dos mecanismos de apoio social e de medidas para ajudar o comércio local e as micro e pequenas empresas; assim como medidas para fixar os jovens no concelho e ajudar a criar emprego.

Assembleia Municipal de Valongo está “refém” do presidente

Foi Fernando Barbosa, candidato que encabeça a candidatura do Bloco à Assembleia Municipal de Valongo, quem abriu a sessão. Numa curta intervenção, abordou a importância das assembleias municipais na transparência, sobretudo perante o processo de descentralização de competências em curso que deve corresponder a mais financiamento para as câmaras. Há a ideia, lembrou, “de que onde há dinheiros públicos aumenta a probabilidade corrupção”. Pelo que “o papel das assembleias municipais deve ser valorizado, reforçando a democracia municipal”.

“Para que possam cumprir a acção fiscalizadora e ser um mecanismo de participação cidadã é preciso evitar que fiquem [as assembleias municipais] reféns dos executivos municipais, como é o caso de Valongo, em que a maioria absoluta concorda com tudo o que presidente propõe e é um entrave a todas as outras forças representadas”, apontou Fernando Barbosa, salientando o trabalho feito pelo Bloco de Esquerda e as propostas apresentadas nesse órgão. “É de enorme importância que a representação do Bloco de Esquerda seja reforçada na Assembleia Municipal”, defendeu ainda o candidato.

Elencou, também, muitas das prioridades da candidatura do partido, que Nuno Monteiro desenvolveu no discurso proferido.

“O programa do Bloco de Esquerda para Valongo é orientado para as pessoas e não para obras fúteis onde se esbanja dinheiro”, garantiu o candidato à Câmara Municipal, que já tinha criticado as actuais políticas do executivo socialista.

Uma das prioridades, estabeleceu, caso seja eleito, será a habitação. “Está a tornar-se impossível viver condignamente em Valongo”, sustentou, aludindo aos custos. “Não houve visão nem estratégia para contrariar o fenómeno”, disse. Sobre a estratégia local de habitação apresentada pelo executivo socialista para o concelho, Nuno Monteiro salientou que “nem o objectivo proposto pela secretaria de Estado da Habitação de 5% é atingido”.

Bloco quer mais habitação pública e transportes

“O actual executivo propõe-se a um aumento de apenas 2,9 para 3,7%, nem 1%, ou seja de 1170 para 1527 habitações. Propõe-se aumentar 357 habitações quando actualmente só as necessidades básicas são superiores a 850. A solução do problema da habitação em Valongo é urgente, é para ontem, e não para ir fazendo nos próximos seis anos como anunciado”, argumentou o candidato, que se propõe a aumentar a habitação social e pública para 6%.

Num concelho onde a rede de transportes públicos não passa de uma “utopia” em muitos locais, sobretudo os habitados por pessoas de poucos rendimentos e com limitações devido à idade, Nuno Monteiro adiantou que uma das prioridades é garantir o acesso à mobilidade a todos os cidadãos.

“Propomos a criação de novas carreiras e reforço das actuais, e a criação de um circuito municipal de transportes, que ligará as várias freguesias sem transporte público aos serviços básicos como farmácias e centros de saúde, espaços de cidadão e locais de interface com os transportes existentes. Propomos também um transporte personalizado, que possa ser pedido com antecedência por pessoas com carência económica e necessidades especiais para se deslocar a serviços essenciais”, explicou.

 Numa alusão às promessas do candidato do PSD, Nuno Monteiro afirmou ao que vem: “enquanto uns prometem a redução do custo da água, os mesmos que a privatizaram, nós comprometemo-nos com a aplicação da tarifa social automática da água. Entendemos que deve beneficiar todas as famílias que têm direito a este apoio social”.

É preciso ainda mais espaços verdes e mais espaços públicos livres de carros. Entre as metas estão o reforço do apoio social, a criação de mecanismos para ajudar comércio local e micro e pequenas empresas, a pressão para a criação de um serviço de atendimento permanente que sirva a população, obras urgentes em escolas, promoção de medidas que fixem empresas e criem emprego.

“Mais do que promessas de baixar a factura, vamos resgatar a água outra vez”

Presente na curta sessão, Catarina Martins, coordenadora do Bloco de Esquerda, referiu que esta candidatura surge com “trabalho feito e conhecimento de terreno”.

Lembrou também que a habitação é uma das maiores bandeiras do partido. “A crise da habitação é anterior à pandemia, mas a pandemia traz novos desafios, muitas famílias perderam rendimentos e deixaram de poder pagar a sua hipoteca e a sua renda. O mesmo aconteceu com muitos negócios”, sustentou Catarina Martins, explicando que o Bloco tentou adiar o prazo que proíbe os despejos (30 de Junho), sem sucesso, mas conseguiu que fosse alargado até ao final do ano o programa de apoio às rendas a famílias, empresas e a empresários em nome individual, para “dar alguma folga a quem está mais aflito”. Mas é preciso, defendeu, “a aposta num parque habitacional público que possa ser forte e regule o mercado de arrendamento privado”.

Sobre o concelho, a coordenadora do Bloco frisou que houve um “enorme erro na concessão a privados da água” o que levou ao “preço exorbitante que os munícipes pagam”. “Vi o outdoor com a promessa de baixar o preço. Eu deixo uma sugestão: mais do que promessas de baixar a factura, pagando a uma empresa o que não merece receber, vamos resgatar a água outra vez para que seja pública, que tenha um preço justo para todos e se implemente a tarifa social automática da água”, disse Catarina Martins.

Na apresentação foram ainda divulgados os candidatos a presidente de junta pelo Bloco de Esquerda. Florentino Silva lidera a corrida a Ermesinde, Paulo Morais a Valongo, Ricardo Pinto a Alfena e Vasco Couto a Campo e Sobrado.