Sociedade estratificada, escravatura, censura… Para muitos, especialmente os mais jovens, estes são conceitos com cheiro a bafio, que cabem apenas nos livros de história e se ouvem nos bancos da escola, às vezes com algum sacrifício. Entre o sentimento de inutilidade de tal evocação do passado e a convicção de que se tratam de capítulos encerrados da história da humanidade, lá vamos caminhando, demasiado ocupados, por um lado, em satisfazer as necessidades básicas e, por outro, em procurar a satisfação pessoal, quase sempre fugaz.

E assim, crentes quanto à irreversibilidade das conquistas e embalados pela profusão tecnológica, qual panaceia para todos os males, deixamos que alguns ocupem cargos importantes, nos mais importantes órgãos políticos, onde, de forma prepotente, aproveitam para propalar ideias (ou a falta delas) que chocam contra os princípios mais básicos da nossa sociedade e põem em causa conquistas que implicaram o sofrimento de muitos. Deram conta já que falo da triste intervenção de um deputado polaco no Parlamento Europeu, onde defendeu que as mulheres são menos inteligentes do que os homens para justificar os salários mais baixos que estas devem auferir.

Penso que a perplexidade foi geral. Li até alguns comentários que desaconselhavam a partilha da notícia, com o fito de diminuir a importância da intervenção. Pois eu tenho uma opinião muito diferente. Eu, o leitor, os portugueses e todos os europeus temos o direito e o dever de exigir àqueles que têm responsabilidades a esse nível uma intervenção eficaz, no sentido de não permitir que um deputado possa pôr em causa um princípio basilar na organização dos estados que integram a EU: a igualdade. Um cidadão que não respeite este princípio simplesmente não pode estar sentado no Parlamento Europeu.

Feito este desabafo, chego à questão que está na génese deste texto. É importante continuar a assinalar o Dia Internacional da Mulher? Infelizmente, não preciso de abrir os manuais de história para mostrar as heroínas do passado, que continuam a merecer ser lembradas no presente, para justificar a importância da data, pois tenho os carrascos do presente, que, se nos deixarmos adormecer, se podem tornar sérias ameaças.