A neuropatia diabética limitou-lhe os movimentos e ameaça roubar-lhe a visão, mas não lhe tirou o sorriso. Andreia Neto tem 31 anos. Já foi atleta e é mãe de uma menina de sete anos. É por ela que luta por levar uma vida com mais autonomia. A grande meta é poder levá-la à escola, como “qualquer pai e mãe”. Para isso, precisa de uma cadeira de rodas eléctrica, que lhe permita subir a rampa existente.

A KeMedo Running Team e a LongusBike Bikestore propuseram-se a ajudar. Vão realizar, no dia de Carnaval, um Free Trail Solidário, em Valongo. O objectivo é juntar os 4500 euros necessários para ajudar a jovem.

Gravidez trouxe-lhe a diabetes, mas CUmpriu o sonho de ser mãe

Natural de Campo, Valongo, Andreia Neto tinha uma vida igual a tantas outras. Em criança não gostava da escola, mas era uma aluna média. A sua paixão era o desporto, nomeadamente o atletismo, desde que começou a praticar a modalidade, aos nove anos. Chegou a ganhar vários títulos nacionais, até sofrer uma lesão aos 17 anos. A ruptura do menisco e de ligamentos afastou-a das corridas e obrigou-a a uma cirurgia. “Na mesma altura em que estava a ser operada estava a ser convocada para representar a Selecção Nacional”, lamenta ainda hoje.

Depois ainda voltou aos treinos, mas acabou por desistir da competição quando percebeu que nunca mais alcançaria os mesmos resultados.

A escola também não a satisfazia e quando chegou aos 18 anos optou por trabalhar. Passou por várias fábricas, cafés e até, ao ano passado, trabalhava num cabeleireiro.

Pelo caminho realizou o sonho de ser mãe. A Lia, agora com sete anos, nasceu quando ela tinha 23. Foi durante a gravidez que começaram os problemas. “Os valores da diabetes ficaram muito altos e comecei a ser seguida no Hospital de São João até a minha filha nascer”, conta Andreia. “Saí do hospital sem ser diabética, mas as coisas mudariam 15 dias depois”, acrescenta.

Feitos os testes confirmou-se que seria diabética de tipo I. Foi obrigada a ter maiores cuidados de alimentação e a fazer insulina. Mas não esmoreceu. Até que aos 27 anos surgiram novos sintomas, com dores e picadelas debaixo dos pés. Foi à médica de família que, mesmo antes dos exames, preconizou o diagnóstico: uma neuropatia diabética.

Os problemas nos pés começaram a limitá-la. “Fui operada para tentar endireitar o pé esquerdo, mas nunca mais consegui andar como andava antes. Ainda tento apoiar-me, mas as dores são terríveis. A doença atacou-me, entretanto, a coluna e vou ser novamente operada em Abril”, descreve a jovem.

Primeiro ainda se movimentava de canadianas, mas ultimamente a melhor amiga é a cadeira de rodas que a mãe lhe conseguiu, apesar de não ser a ideal.

Teve de deixar de trabalhar e de conduzir e, está à espera da reforma por invalidez, devido a uma incapacidade de 80%. “Estivemos a fazer contas e a reforma vai rondar os 200 euros”, refere. Em casa só entra o ordenado do marido e as despesas mensais com medicação chegam a ser de 500 euros.

A casa da avó, onde mora, também precisa de adaptações. “A casa de banho não tem condições. É a minha filha que me ajuda a entrar na banheira”, adianta Andreia.

“Não deixo de ser positiva e de acreditar”

Quando a abordaram para esta iniciativa solidária não recusou ajuda. “Fiquei comovida porque nunca pedi nada a ninguém”, admite, explicando que está também a decorrer uma recolha de tampinhas.

Estar lá para a filha é o grande objectivo. Quando lhe perguntaram em que a podiam ajudar explicou que o sonho era levar a filha à escola. “Apesar de tudo ser mãe foi a melhor coisa que me aconteceu. Posso estar muito mal, mas a minha filha é a minha força. Quando vou à escola da minha filha a subida é muito íngreme e não consigo ir com a cadeira. Quando andava de canadianas ainda conseguia, mas com muito esforço. Com a cadeira eléctrica queria poder ir levar a minha filha à escola como qualquer pai e mãe. Ia ganhar autonomia”, assume.

Andreia Neto diz que não deixa “de ser positiva e de acreditar”. “Desistir nunca me passou pela cabeça. Adorava poder voltar a trabalhar e não poder conduzir é uma das coisas que mais me dói. Não são as pernas que me limitam, são os olhos. O meu maior medo é não poder ver a minha filha crescer”, confessa. É que a valonguense sofre já de falhas de visão pontuais que duram minutos. Um dia pode perder a visão.

Ainda assim, recusa ser vista como “coitadinha”. “Faço o que qualquer pessoa faz”, garante, dizendo que em casa faz um pouco de tudo e lamentando a falta de acessos existente para pessoas com mobilidade reduzida na maioria dos locais.

A participação em actividades da Delegação de Paredes da Associação Portuguesa de Deficientes reavivou outro sonho: voltar ao desporto, agora adaptado. “Tenho saudades do desporto”, afirma a jovem. Quer, quem sabe, ter agora a hipótese de vestir as cores da Selecção Nacional.