Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

A Ordem dos Enfermeiros diz que há um “ambiente de guerra” no Hospital Padre Américo, em Penafiel. Nos últimos dias os relatos são de caos com doentes em macas nos corredores do serviço de urgência aguardando vaga no internamento, como se vê num vídeo divulgado em vários órgãos de comunicação social.

“O hospital está assoberbado e já ultrapassou a sua capacidade máxima”, explica o presidente da Secção Regional do Norte da Ordem dos Enfermeiros. Segundo João Paulo Carvalho, ontem houve uma redução de 17 doentes internados. Anteontem, havia 235 doentes em internamento e mais 38 a aguardar cama no serviço de urgência respiratória, refere.

Questionado sobre a situação de ruptura e caos que tem vindo a público, com testemunhos de profissionais, João Paulo Carvalho adianta que “os relatos que têm chegado à Ordem dos Enfermeiros são de desespero, desânimo, incerteza e medo”. “A ruptura está assumida a partir do momento que o hospital se vê forçado a encaminhar doentes para várias outras unidades por escassez de espaço físico e falta de recursos humanos para atender à procura e é reforçada com a mensagem do presidente do conselho de administração tornada pública, onde Carlos Alberto Silva pede à Administração Regional de Saúde do Norte ajuda”, diz.

Ainda assim, o presidente da SRNOE sustenta que “não há caos, apesar de a situação ser caótica”. “Os profissionais do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa têm conseguido controlar a situação com um profissionalismo exemplar, no entanto, ninguém consegue aguentar sem erro este tipo de pressão durante muito tempo. Uma demora no auxílio à unidade poderá significar ainda mais profissionais infectados e, por consequência, uma deterioração acentuada nos cuidados. A qualidade assistencial do hospital de Penafiel está presa por fios e a carga continua a aumentar”, relata.

As dificuldades acumulam-se e os baixos ratios são o principal problema. “Na semana passada, estavam quatro enfermeiros com 115 doentes na urgência. Houve pessoas a esperarem mais de 16 horas depois de triagem para serem vistas por um médico e na área respiratória, não há separação de doentes Covid para os ainda não testados e como se vê nas imagens que a comunicação social tem revelado, não há distâncias de segurança entre utentes”, descreve João Paulo Carvalho.

O presidente da Secção Regional do Norte da Ordem dos Enfermeiros defende que é “urgente reforçar equipas e garantir a segurança dos poucos profissionais que temos, de forma a tentar assegurar uma continuidade dos cuidados”, sendo que a sobrecarga de trabalho “levará inevitavelmente a erros”. Lembra ainda que nos últimos anos já era praticamente impossível dar resposta às solicitações no pico da gripe. “Agora, com o SARS-CoV-2, muito menos. A situação não é nova e foi reportada inúmeras vezes”, atesta. A Ordem recorda ainda que há vários anos que alerta para a falta gritante de enfermeiros no Serviço Nacional de Saúde, cerca de 30.000.

“Os enfermeiros estão exaustos, expostos a um esforço sobre-humano cada vez mais susceptíveis a errar ou a avaliar mal uma situação e perder um doente. Além dos riscos de contágio adicionais a que os profissionais estão sujeitos ao tentarem apressar a higiene que fazem entre um doente e outro existem outros problemas prementes. Com as macas como temos visto, por exemplo, caso um doente tenha uma paragem cardio-respiratória, é necessário andar a afastar macas e a libertar caminho antes de poder iniciar manobras de reanimação. É um cenário terceiro mundista e totalmente desolador”, afirma João Paulo Carvalho.

A Ministra da Saúde, Marta Temido, disse hoje, à TSF, que a situação no Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa foi “muito grave” mas que está a ser resolvida. “A informação que tenho é que baixámos daquilo que têm sido os números de doentes internados no Tâmega e Sousa que, em vários dos últimos dias, ultrapassaram os 200 internados numa capacidade hospitalar de camas que é de cerca do dobro para 173 doentes internados por Covid-19 esta manhã. Temos ainda um conjunto de transferências a acontecer e o nosso objectivo é chegar ao final da semana com cerca de 150/160 doentes de Covid-19 internados neste hospital, o que lhe permitirá já conseguir responder melhor”, disse a governante àquele órgão de comunicação.

O Verdadeiro Olhar pediu esclarecimentos ao CHTS, mas ainda não obteve resposta.