A crise vista do lado direito da nossa aldeia

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Para nós, que nos achamos de esquerda, é fácil a escolha do voto nas próximas eleições legislativas – já o escrevemos antes. Porque somos socialistas, porque não somos adeptos de maiorias absolutas e porque fazemos um balanço positivo dos últimos anos no que à recuperação dos direitos do trabalho diz respeito e porque, à esquerda, só o PCP nos garante a luta pela continuidade dessas políticas, está decidido o nosso voto. Não será a primeira vez que votamos nos comunistas e nunca nos arrependemos por tê-lo feito. O contrário já nos aconteceu muitas vezes.

Hoje, tínhamos prometido a nós mesmo, colocar-nos à direita para analisar a crise política instalada, que é, aliás, uma designação abusiva. Cair um governo e realizarem-se eleições por causa disso, só nos parece que a democracia, por ora e nestas coisas, ainda vai funcionando. Crise por irmos a votos em democracia? Chamem-lhe o que quiserem, mas dificilmente nos convencerão disso.

Ah…coloquemo-nos, então, à direita. Tarefa difícil. Contudo, a tomar como certo o que temos visto, há dois ou três pensamentos que nos assaltam e que nos preocupam.

Só encontramos uma ou outra razão para, quer Rui Rio quer Francisco Rodrigo dos Santos, se verem confrontados com esta grave contestação interna nos seus partidos.

No caso do PSD, depois de eleito, sem necessidade disso, já se confrontou internamente em batalhas que venceu. E que não nos venham com tretas. Os que antes há uns meses apoiavam Luís Montenegro e perderam, são os mesmos que agora apoiam Rangel.

Não é justo que um líder eleito pelos militantes de base esteja permanentemente em causa tão só porque retira poder aos tradicionais “donos do aparelho”- a maior parte deles ou não sabe fazer mais nada na vida ou sobrevive à custa de lobbysque só consegue operacionalizar se tiver assento no parlamento.

Goste-se ou não de Rio, não devia estar em causa, como vai estar nas eleições internas antecipadas. Só apouca quem se lhe opõe – de forma arrogante e em bicos de pés, atribuindo a si próprio um estatuto intelectual que não se sabe se tem e caso se confirme nem é o que mais interessa neste confronto. Mais do que palavras de lindo recorte literário, ao PSD e ao país, interessará o pragmatismo de um líder que, dizem as sondagens, tem perante o país uma imagem de respeitado e já reconhecido estadista. Fica claro em quem votaríamos se fossemos do PSD – Vade retrum, Satanás.

Do CDS, a coisa é mais ou menos semelhante. A diferença é que só há eleições internas depois das legislativas, que era, aliás, o que devia acontecer no PSD.

A pergunta sobre o que se passa no CDS é a mesma que temos feito cá por casa. Se fossemos o líder do CDS o que é que teríamos feito de diferente neste processo? Nada. Faríamos exactamente como faz um dirigente partidário que tem tanta legitimidade para concluir o seu mandato como os seus antecessores.

Não pensamos que Francisco Rodrigues dos Santos tenha tudo bem, mas temos a certeza que desde o dia em que foi eleito começou a ser boicotado por aqueles que há décadas eram os donos do partido, independentemente dos resultados eleitorais. O partido melhorava as percentagens e lá estavam os mesmos de sempre. O partido tinha o pior dos resultados e lá continuavam eles, só que desta vez, à falta de lugares no parlamento, dividiam-se por assessorias sem fim, mas sempre pelos corredores do poder.

Salvaguardando Cecília Meireles que é, na nossa opinião, a melhor deputada do parlamento, nos que agora se opõem a Rodrigo dos Santos não acrescentam nada ao partido. Ao actual líder ainda falta o tempo que conquistou para confirmar ou desmentir as suas capacidades.

Apesar de não ser campo onde plantemos as nossas sementes, o que mais me decepciona no CDS de hoje, é que reflecte a hipocrisia de uma classe política com eco na sociedade que enche a boca a defender as competências dos mais novos, da geração com mais conhecimentos desde o 25 de abril, mas quando esses chegam ao poder, são os primeiros e sempre os mesmos( que até nem são tão mais velhos, mas estão já instalados) a boicotar qualquer ideia nova que possa nascer desses de quem tão bem dizem.