Nos últimos 10 dias, voluntários de 11 países estiveram em Lousada a lançar as sementes daquilo que pretende ser “uma floresta do futuro”. Os 20 jovens, que pagaram a viagem do seu próprio bolso e trocaram as férias pelo voluntariado, estiveram a preparar dois hectares de terreno, nas captações de água do município, na Serra de Campelos, para receberem uma plantação já no Outono.

Este campo de voluntariado ambiental internacional foi promovido pela Associação Bioliving, com o apoio da Câmara Municipal de Lousada, que custeou transporte, refeições, alojamento e deu apoio logístico.

“Outros concelhos deviam seguir esta política verde”

Durante 10 dias, os jovens, vindos do Brasil, França, Bélgica, Alemanha, Suíça, Estónia, Rússia, Turquia, Sérvia, Ucrânia e Portugal, estiveram a contribuir para melhorar a qualidade das captações de água e da floresta envolvente, limpando os terrenos, construindo charcos para a vida selvagem, ordenando o sistema de escorrência de águas superficiais e fazendo o controlo de espécies exóticas invasoras. Construíram ainda caixas ninho para morcegos e aves, bolas de sementes em argila e abrigos para escaravelhos com o objectivo de melhorar a biodiversidade do local. E ainda houve tempo para actividades lúdicas e culturais. Não se arrependem.

Pela primeira vez a participar num campo de voluntariado deste projecto, Maxime Capt, de 27 anos, veio da Suíça por dois motivos: “quis ajudar o ambiente, é a minha área de formação, e melhorar a biodiversidade e conhecer pessoas de outros países”. A experiência é descrita como fantástica. “É fantástico porque podemos ver a evolução do nosso trabalho. Estou ansioso por ver as fotos daqui a alguns meses e comprovar os resultados”, adianta.

Maxime Capt elogia ainda o trabalho do município na área ambiental. “Fiquei surpreendido pela positiva com todos os projectos ambientais que estão a decorrer em Lousada. Nunca tinha ouvido falar do concelho. Outros concelhos deviam seguir esta política verde”, defende.

Vinda da Bélgica, Mathilde Claes, de 23 anos, volta ao seu país com ideia idêntica. “O município de Lousada tem muitas acções pro-ambiente e estou muito impressionada. Em Bruxelas não temos o mesmo tipo de acção. Lá fala-se muito, mas não se faz. Este é um bom exemplo de que uma pequena vila pode fazer muito pelo ambiente”, comenta estudante de gestão ambiental que já passou por campos idênticos na Estónia e na Islândia. Em todos, aprende muito, garante. Em Lousada, não faltou trabalho. “Removemos lixo, cortamos árvores invasoras, fizemos lagos. São férias a trabalhar, mas é bom”, garante, lembrando que a experiência permite também conhecer pessoas de vários países e fazer amigos.

Esta não foi a primeira vez de Mathilde Claes no nosso país. “Vim a Portugal há dois anos e apaixonei-me. Quando vi que podia vir e ainda trabalhar na área do ambiente não hesitei”, conta. Não esconde que gostava de voltar a Lousada no futuro para ver os resultados deste trabalho.

“Esta área tem grande potencial ecológico, mas é uma ilha no meio das plantações de eucaliptos dos privados”

Esta foi a segunda iniciativa deste género desenvolvida em Lousada. No ano passado, em campo idêntico, a Mata de Vilar já tinha sido limpa de espécies invasoras.

Desta vez, a Bioliving quis tratar da zona de captações de água do município na Serra de Campelos, em Lustosa. “Esta área tem grande potencial ecológico, mas é uma ilha no meio das plantações de eucaliptos dos privados”, explica Milene Matos, presidente da instituição.

“O campo chama-se Forest for Future e estamos a preparar o terreno para empreender aqui uma floresta de conservação nestes dois hectares que acabam por ser uma pequena Arca de Noé na zona da Serra de Campelos onde há muitos eucaliptos e zonas urbanas, além de um aterro sanitário”, justifica a dirigente, descrevendo que esta acção permite uma “compensação da pegada ecológica”. “Estamos a ordenar o território como uma folha em branco para no outono começarmos as plantações”, acrescenta.

Para o trabalho que foi feito, todas as mãos foram necessárias. “Começamos por cortar eucaliptos que estavam a regenerar no pós-incêndio e a limpar o talude. Isto tem muita água, mas o sistema de águas superficiais estava degradado e estamos a reestabelecer todas as ribeiras e o sistema de drenagem para conduzir as águas. Fizemos também acções de beneficiação da flora e da fauna. Construíram caixas ninho para morcegos e aves e um abrigo para escaravelhos que ajudam à regeneração do solo e decomposição da matéria morta. Estamos mesmo a trabalhar para o futuro em coisas que não se vêem já amanhã. Mas estamos a fazer com pés e cabeça para gerir esta área de dois hectares”, descreve Milene Matos.

Foto: BioLiving

Todos os dias, havia seis horas de trabalho e outras seis destinadas a actividades lúdicas, como jogos tradicionais portugueses, cinema ambiental, visitas culturais à vila ou workshops.

Tudo com o apoio da Câmara. “O município é excepcional. Apoia o transporte, as refeições e o alojamento e toda a logística de equipamentos”, diz a presidente da Bioliving. Já a viagem foi paga por cada participante. “Em vez de irem passar férias vieram trabalhar. É um investimento naquilo em que acreditam”, salienta Milene Matos.

Recorde-se que o Município de Lousada tem desenvolvido várias acções para promover a sustentabilidade ambiental do concelho. Só no âmbito do BioLousada, por exemplo, foram plantadas quase 19 mil árvores com a ajuda de 2.259 voluntários.

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