Durante quatro meses, 10 utentes do projecto “Arrisca-te ao Sucesso”, promovido pela Associação de Paredes Pela Inclusão Social (APPIS), participaram numa oficina de renovação e restauro. O resultado está agora à vista de todos numa exposição patente no átrio da Câmara Municipal de Paredes, onde se podem ver móveis e sobretudo cadeiras que ganharam nova vida depois da intervenção destes paredenses.

O objectivo deste projecto de reinserção, tutelado pelo SICAD – Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências e destinado a consumidores de substância ilícitas, pessoas com problemas de álcool e outras adições, famílias em situação de vulnerabilidade e mulheres vítimas de violência doméstica, passa por estimular o estilo de vida saudável, ajudar a construir projectos de vida sustentáveis e actuar na capacitação e autonomia familiares assim como na integração socioprofissional em Paredes.

 

“Esta foi uma coisa boa que nos apareceu na vida. Naquele bocadinho esquecem-se os problemas e aprende-se muita coisa”

A APPIS desenvolve vários projectos no âmbito do “Arrisca-te ao Sucesso”. Esta oficina de renovação e restauro, realizada entre Outubro de 2016 e Fevereiro deste ano, pretendeu criar rotinas e hábitos de trabalho nos 10 utentes envolvidos. “Queremos que se sintam úteis, ganhem auto-estima e consigam a reinserção laboral”, referem os técnicos envolvidos no projecto, sete ao todo, formados em áreas como Sociologia, Psicologia, Serviço Social, Educação Social, Ciências Sociais e Psicopedagogia. Há utentes que já conseguiram trabalho e isso motiva a continuar. Vai já arrancar uma nova actividade, desta vez uma horta biológica. No final do ano haverá nova oficina de restauro.

E os utentes não podiam estar mais satisfeitos por terem agarrado o desafio.

Augusto Barbosa tem 50 anos e é de Vilela. Esteve preso durante vários anos e não tem medo de confessar que “não estava preparado para integrar a sociedade”. Pelo caminho, enfrentou problemas com drogas que o levaram a ter, cada vez mais, dificuldade em lidar com as pessoas. Mas garante: “ainda não desisti da minha vida”. Desde o ano passado que procura recomeçar e espera encontrar trabalho, mal ultrapasse um problema de saúde. Recuperar estas cadeiras e móveis foi voltar um pouco ao passado, já que na juventude foi entalhador. “Este projecto ajuda a deixar de ter complexos”, afirma, realçando a importância do convívio criado.

“No início pensei: vou ali fazer o quê?”, conta Fernando Silva, de 55 anos. Hoje, o homem de Lordelo não se arrepende de ter vindo para esta oficina. “O que custa é ir embora. Somos uma família”, diz. “Esta foi uma coisa boa que nos apareceu na vida. Naquele bocadinho esquece-se tudo, esquecem-se os problemas e aprende-se muita coisa”, acrescenta. Está desempregado desde 2008, já passou por uma escola e ainda tentou procurar trabalho no estrangeiro.

“Os técnicos ajudam em tudo, são nossos amigos. Até nos levam ao médico no carro deles se for preciso”, realça Fernando Silva.

António Martins, de 50 anos, também está desempregado. Luta contra um problema de dependência do álcool há mais de ano e meio. De restauro de cadeiras nada sabia (era trabalhador da construção civil), mas foi com gosto que aprendeu e que, uma vez por semana, se juntou ao grupo. “Fiz uma cadeira e ainda ajudei os colegas noutras. Isto foi muito importante, estou mais confiante e conheci pessoas novas”, afirma.

“Nunca tinha trabalhado nisto, mas recuperar cadeiras não foi difícil. Lixei, pintei e estofei e ainda fiz tapetes”, recorda Maria Santos, de 55 anos, a residir em Gandra. A paredense passou por uma depressão e tem a responsabilidade de cuidar dos netos e de um filho menor, assim como de uma familiar acamada. Mas ficou feliz por conseguir arranjar tempo e, durante algumas horas, fazer algo diferente. “Ajudamo-nos uns aos outros e até fizemos amizades”, realça.

Ainda há muito por fazer, diz presidente da APPIS

Presente na inauguração desta mostra, o vice-presidente da Câmara Municipal de Paredes lembrou que, no concelho são acompanhadas 256 pessoas com estes problemas. “Este é o tipo de investimento em que vale a pena apostar”, afirmou Pedro Mendes.

“Em boa hora avançamos com a criação da APPIS para que através da escola a comunidade pudesse encontrar caminhos de sucesso. Somos hoje um território competitivo e com mais oportunidades. Houve uma redução do desemprego de forma mais célere que noutros concelhos. Quando valorizamos as pessoas estamos a valorizar o território”, defendeu o autarca, elogiando o trabalho dos técnicos ligados ao projecto.

“Oxalá que o projecto se repita. Há muito por fazer. Sem a ajuda da câmara e dos empresários não seria possível, mas é preciso envolver mais gente para que possa haver mais projectos”, acrescentou António Rocha, presidente da APPIS.