Um voto útil

0

Cada eleição é uma oportunidade para afirmar a importância da democracia. A maior ou menor qualidade da dita resulta, obviamente, da maioria dos votos que cada partido recebe, embora nem sempre ou raramente cada voto pedido corresponda a uma escolha devidamente ponderada. No nosso caso, entre o pensamento político em que nos revemos e os intérpretes deste ato eleitoral vemo-nos, pela primeira vez, na condição egoísta de, por uma vez, pensarmos também em nós.

Se, noutras ocasiões, nos perguntassem em quem iriamos votar, diríamos, óbvia e militantemente, que o PS seria o destino da cruz no boletim de voto.

Porque não pensamos assim desta vez?

Nos últimos 6 anos, contrariamente ao que era seu costume, o Partido Socialista teve e tem ministros das Finanças que asseguraram o rigor das contas públicas, consoante Bruxelas quer. São, porventura, os menos socialistas dos governos de A. Costa, mas conseguiram manter uma relação próxima das posições da UE. Tem sido um fator importante, pela estabilidade gerada, sobretudo nas nossas relações internacionais das quais dependemos mais do que devíamos.

Por outro lado, o próprio primeiro-ministro – já o reconheceu várias vezes- que foi graças à geringonça que os trabalhadores recuperaram alguns dos direitos perdidos. Foi por acção do Bloco de Esquerda, mas sobretudo pelo rigor reivindicativo da CDU que, hoje, embora lentamente, os trabalhadores conseguiram readquirir algo do muito que perderam nos anos da “troika”.

Perante este cenário que nos apresenta um partido de boas relações com os compromissos europeus, o PS, e à CDU se reconhece a seriedade constante das suas propostas e, não menos importante, tem garantido a paz social de que beneficiou o governo do PS, só nos resta, enquanto trabalhadores por conta doutrem, dar utilidade ao voto. Votando na CDU ajuda-se o PS a vencer as eleições sem maioria absoluta e garante-se a salvaguarda dos direitos fundamentais de quem trabalha.

Se esta escolha é o melhor dos dois mundos? Não. Restam-nos ainda muitas dúvidas que resultam do desconhecimento da forma como as verbas do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência)serão aplicadas. Sabemos que o Estado usará uma boa parte delas, mas sobretudo preocupa-nos não saber dos caminhos que a economia do país terá de percorrer. Sem alterações ao modelo económico, sem empresas que produzam as mais-valias das exportações, absolutamente necessárias, continuaremos, cada vez mais, a passos largos da cauda da europa.

Para não continuarmos permanentemente à procura do prejuízo e esgotado o modelo da geringonça enquanto cenário plausível para os eleitores, resta-nos uma solução que contemple uma maioria plural da esquerda capaz de gerar um governo mais aberto à participação cidadã e que não se esconda atrás do biombo da representatividade garantida pelo cheque em branco que nos pedem, normalmente, de quatro em quatro anos.