Criado há 11 anos, o Centro Hípico de Valongo (CHV) é o ponto de partida para várias actividades ligadas à natureza. Ali, em Campo, há hipoterapia para portadores de deficiência e para seniores, vigias a cavalo pelas serras, animais da quinta pedagógica, cabras sapadoras, plantação de árvores autóctones, recolha de lixo, passeios de BTT… “Nós aqui conseguimos fazer tudo o que as pessoas queiram fazer num espaço ao ar livre. Somos muito mais que cavalos”, garante Miguel Brandão, responsável técnico do Centro Hípico de Valongo. Ao todo são cerca de 200 os utentes desta instituição.

É também ali que é dado apoio aos que escolhem conhecer as serras a cavalo utilizando os Trilhos Equestres criados pela Câmara de Valongo em 2018. Há três percursos distintos e com diferentes graus de dificuldade. “De lá de cima da serra conseguimos ver três cidades do Grande Porto – Gaia, Espinho e Maia. Num dia de Primavera conseguimos ver o mar lá ao fundo. E quem gostar da natureza consegue ver muita coisa, temos alguns monumentos na serra, como as grutas e algumas espécies e árvores autóctones. Há uma paz e sossego e umas vistas fora do normal”, garante Miguel Brandão, adiantando que há cada vez mais gente a querer conhecer as serras de Valongo desta forma.

A juventude faz a diferença e inclusão é uma das principais metas

O Centro Hípico de Valongo nasceu com um grupo de amigos que quis trazer a equitação para Valongo. Fixaram-se na encosta da Serra de Pias. “Passados alguns anos isto teve de se adaptar. O centro hípico cedeu alguns cavalos a uma associação, a Academia de Formação Equestre, de Hipoteria de Valongo e Campo, uma associação jovem, inscrita no RNAJ – Registo Nacional do Associativismo Jovem. É a única associação do concelho de Valongo em que mais de 80% dos órgãos sociais são jovens dos 16 aos 19 anos”, explica Miguel Brandão.

É em parte essa juventude que tem levado à criação da maioria dos projectos da instituição, diz o professor de equitação. “O projecto das cabras e das ovelhas sapadoras do nosso rebanho, que durante o Verão fazem parte dos campos de férias, foram eles que tiveram a ideia. A quinta pedagógica com todos os animais foi um projecto desta associação. Os nossos viveiros, com árvores autóctones também passou por eles. Temos depois a parte dos trilhos, dos passeios, e das vigias a cavalo que são sempre os nossos jovens que lideram e fazem os protocolos com o Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ)”, dá como exemplo o responsável técnico do CHV.

As actividades não se ficam por aqui. Há sete bicicletas de BTT que são cedidas para passeios e voluntariado: “Levam as bicicletas e têm de trazer um saco de lixo por família, no ano passado tivemos algum sucesso”. Há plantações de árvores, assinalam-se vários dias ligados à natureza e deficiência, entre outros, com dias abertos que permitem experimentar andar a cavalo, há jogos tradicionais, festas de aniversário, colheitas, confecção de compotas… tudo o que se possa imaginar. “Hoje não conseguíamos sobreviver só com a parte das aulas e de montar a cavalo. Temos de ligar tudo, desde os passeios a cavalo, as vigias a cavalo, as equitações terapêuticas, as aulas normais, os animais de quinta que levamos à escola, etc”, refere.

Uma das principais vertentes é a da inclusão. “Quando falamos de inclusão estamos a falar desde jovens do ensino especial até aos nossos seniores, porque não são só os jovens com carências físicas, psicológicas e monetárias que estão arrumados. São também os nossos seniores, que estão em casa e mais fechados e que podem vir até cá uma manhã por semana e ter actividades como montar a cavalo, ir à serra plantar uma árvore, ou tratar de uma árvore, podar ou regar”, sustenta Miguel Brandão, dizendo que os jovens podem aprender e os mais velhos sentem-se úteis a ensinar.

Equitação terapêutica para quem tem necessidades especiais e não só

Pelo Centro Hípico passam dezenas de utentes cuja interacção com o cavalo serve de terapia. “Nós na equitação terapêutica temos alguns meninos que vêm de forma particular. Temos muitos que vêm através do desporto escolar, porque Valongo e, mais uma vez o nosso presidente da câmara, está sempre à frente de todos, porque nós somos o único concelho do Norte, da Golegã até aqui, que tem a equitação como desporto escolar”, adianta o responsável técnico.

Há escolas que aproveitam a equitação terapêutica e outras que vêm pelo desporto escolar normal. Só da escola de Campo cerca de 50 alunos. Do agrupamento de escolas são 24 os alunos de educação especial com diversas patologias que passam ali a manhã a montar a cavalo. “O Centro Paroquial de Alfena vem com um grupo de seniores e outro de jovens que montam a cavalo e participam noutras actividades. Vão apanhar lixo, vão para a horta, vão tratar dos animais da quinta. E temos também utentes da ala de psiquiatria do Hospital de são João de Valongo que trabalham cá connosco”, enumera Miguel Brandão.

Os exemplos dos benefícios estão à vista. “É um estímulo muito grande. O Francisco chegou aqui e está de cadeira de rodas, mas daqui a cinco minutos está a montar a cavalo. Ele este ano fez os campos de férias connosco, passou cá três meses, e o sonho do Francisco era fazer as vigílias a cavalo e foi com os outros. Dentro das limitações dele, e dentro das nossas limitações, sente-se igual e não se sente inferiorizado”, garante o professor.

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

Actualmente, a escola de equitação do Centro Hípico de Valongo conta com perto de 90 alunos, particulares, federados, aos quais se juntam os alunos do desporto escolar e os utentes das instituições já referidas. No total, são cerca de 200 utentes que frequentam o centro.

Cabras sapadoras e jovens a vigiar as serras contra os incêndios

A preservação da natureza nas serras onde estão inseridos é um dos focos. O projecto das cabras sapadoras começou ali um pouco por brincadeira, mas está a ganhar contornos mais sérios, admite. “No ano passado, já tivemos um projecto um bocadinho mais sério. Temos os campos de férias com o IPDJ e o campo de férias que foi o mais preenchido era o pastoreio pelas serras. Os meninos vão um grupo de oito ou nove, com um ou dois adultos, e passam uma manhã ou tarde na serra. O campo de férias abria às 9h00 da manhã e às 10h00 já estava lotado”, conta. “Havia sábados em que já vinha o pai, o menino e a avó porque ele chegava a casa e dizia que andou a pastorear na serra”, acrescenta ainda Miguel Brandão.

Por isso, no ano passado, concorreram com o projecto das cabras sapadoras a um apoio do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas. “Em princípio este ano teremos o projecto aprovado e as cabras sapadoras vão ser mesmo cabras sapadoras verdadeiras”, brinca.

A par disso, o Centro Hípico de Valongo tem o projecto de vigia das serras a cavalo e de recolha de lixo. Todos os anos, no Verão, há jovens a patrulhar as serras de Valongo. “Já pedimos para alargar as vigias aos três concelhos das Serras do Porto e durante todo o ano. Agora só o fazemos em Julho, Agosto e Setembro. Ter pessoas nas serras, garante Miguel Brandão, permite não só vigiar possíveis focos de incêndio e dar o alerta mais cedo, como prevenir e resolver problemas de focos de lixo e ajudar as pessoas que usam os diversos trilhos para caminhar, andar de bicicleta ou de mota. “Há quem se sinta perdido e nós também podemos ajudar, mais do que ninguém conhecemos bem as serras, os nossos jovens, cavaleiros e alunos conhecem todos os pontos das serras”, afirma. Nessas vigias, os jovens também regam algumas das árvores plantadas, o que tem permitido que muitas se desenvolvam.

Sobre os resíduos encontrados na serra, o responsável do centro hípico é crítico: “As pessoas ainda vêem a serra como uma lixeira a céu aberto. Temos recolhido e sinalizado muito lixo para ser recolhido. Acabamos o Verão com os trilhos limpos, mas se formos a ver já está tudo outra vez cheio de lixo”.

Trilhos Equestres juntaram-se aos de BTT e Trail

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

Desde 2018, o CHV passou a ser ainda ponto de partida e chegada dos Trilhos Equestres de Valongo, um projecto lançado pelo município.

Depois dos trilhos para BTT e Trail Running, a Câmara de Valongo apostou na sinalização de caminhos para que os interessados possam conhecer a serra a cavalo, a partir de Campo. O Centro Hípico de Valongo serve de local de apoio aos Trilhos Equestres, que contam com três percursos distintos, com diferentes graus de dificuldade e durações, envolvendo uma grande área da Serra de Pias. Os trilhos podem ser usados por quem está a iniciar-se no hipismo e por quem já tem experiência, permitindo observar as paisagens e a fauna e flora daqueles locais.

“Existem três trilhos, o que vai daqui a Couce e vem que é o maior e que tem para ser cavaleiros com muita experiência. Temos um trilho intermédio que vai lá acima passa ao lado das lousas e desce aqui, que é um trilho em que também é necessária alguma experiência. Depois temos um trilho pequenino que sai daqui e vai aqui ao meio dos eucaliptos, vai lá abaixo à estrada e vem para cima que é para as crianças e pessoas novatas que nunca montaram a cavalo e querem fazer um passeio”, descreve Miguel Brandão.

Ali é feito o acolhimento aos cavalos e cavaleiros e são alugados cavalos quando necessário.

O projecto fez um ano em Novembro e tem levado muitos a procurarem conhecer as serras desta forma.  “Temos muita procura”, garante.

Nestes trilhos, realça o responsável do Centro Hípico, há muito para ver. “Quem gostar da natureza consegue ver muita coisa. Aqui há uma paz e sossego e umas vistas fora do normal”, afirma.

Sobre a preservação das serras ainda há muito a fazer e sensibilizar. “As serras têm muito para dar, mas nós temos de tratar bem delas”, sustenta.

Querem ser IPSS e criar Centro de Actividades Ocupacionais

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

Os projectos para o futuro são diversos. “Vamos ter jovens de outros países a vir cá fazer voluntariado e jovens daqui a ir para fora. Temos também um projecto de voluntariado para virem para a equitação terapêutica dar uma ajuda”, adianta, lembrando que ali não se vêm jovens com telemóvel na mão porque há sempre muita coisa para fazer.

“Temos ainda um projecto que ainda está em embrião que passa por termos cá utentes do ensino especial, a partir do 9.º ano, a passar cá o dia, a fazer jardinagem, na horta com os animais, uma espécie de Centro de Actividades Ocupacionais”, explica Miguel Brandão. “Queremos passar a Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) a ver se temos algum apoio da Segurança Social e fazemos algumas obras e adaptações. Há muitos jovens com algumas limitações que terminam o 9.º ano e ficam em casa e aqui para nós podem ser muito úteis”, defende.