Júnior Sampaio a interpretar a peça 'A ESTRADA de Jack London'. Foto de Nuno Direitinho (DR)

O palco do Fórum Cultural de Ermesinde está pronto para receber, de 10 a 18 de Setembro, mais uma edição da ‘ENTREtanto MIT Valongo’, uma Mostra Internacional de Teatro, organizada pela associação/companhia e a Câmara Municipal locais.

Este ano, o evento engloba a apresentação pública do grupo adulto de formação, assim como espectáculos de teatro, música e contos oriundos de países como a Bélgica, Espanha e Portugal, estando direccionados para públicos de todas as idades, começou por resumir ao Verdadeiro Olhar, Júnior Sampaio, presidente da associação, produtor e actor.

Valongo abre o pano para receber “outros mundos” e o resultado é “sempre enriquecedor”. Este ano, o MIt pretende fazer uma rectrospectiva das 24 edições anteriores que serviram, não só, para mostrar o teatro de outros países, mas para homenagear actores nacionais como “Ruy de Carvalho, Maria do Céu Guerra, Raul Solnado, Júlio Cardoso, António Capelo, António Reis, Natércia Campos, João Loio, Simone de Oliveira, Adelaide João e Carlos Avilez.”, assim como a actriz brasileira Geninha da Rosa Borges, enumerou.

A programação vai incluir a peça “Serra em Canto” que, nos dias 10 e 11, se apresenta pela mão do grupo adulto de formação de teatro de Valongo que, actualmente, é constituído por “30 elementos”.

Foto ENTREtanto (DR)

No dia 15 de Setembro, ‘Quico Cadaval conta … Vacas, Guerras, Porcos e Clérigos’. O actor, director, adaptador teatral, dramaturgo e um dos iniciadores do movimento “conta contos”, na Galiza, em Espanha, na década de 90, narra a história do antepassado Xuán, Fino, um bom homem de família, pacífico, bom vizinho e amigo de fazer favores. Uma personagem sem interesse para o público, por não ter maldade. Porém, à sua volta, surgem histórias extraordinárias, protagonizadas por personagens menos virtuosas, como sejam vacas, padres, mentirosos, garanhões, barbeiros, porcos, artistas de cinema e militares.

Um dia depois, é a vez do conhecido actor de teatro e de televisão António Capelo apresentar o Teatro do Bolhão, através do monólogo ‘Ninguém’, uma “confissão que celebra o teatro em tempos conturbados”, através de uma “memória encantada, com os seus traços de identidade, a sua força de resistência numa sociedade em que todos têm direito a ser Alguém”, lê-se ma sinopse do espectáculo.

O artista/actor, comediante, palhaço, músico e cantor belga, Bernard Massuir, vai apresentar ‘O gesto da voz’, algo entre a música e a melodia, com efeitos de som e poesia, jogos de boca e articulação, mistura de sons e poder. Uma performance a não perder e que é apresentada no dia 17 de Setembro, a partir das 21h30.

Um dia depois, às 16h00, a ‘Produciones Teatrais Excéntricas Teatro de Adro, da Galiza, em Espanha, sobre ao palco com ‘Cartoóns’, que conta a história de dois palhaços que perdem tudo e que vivem entre caixas. Não, não é um drama, porque Hum & Ous são criativos ao ponto de tornarem a sua vida melhor. E, a verdade. é que conseguem. Um musical de palhaços, sobre reciclagem, meio ambiente, educação, solidariedade e muita amizade. Em jeito de desenhos animados, a dulpa transmite uma lição de vida.

A companhia ENTREtanto está consciente que tem contribuído para o enriquecimento cultural do concelho, apresentando nos palcos do MIt artistas de diversos países como “Alemanha, Argentina, Bélgica, Brasil, Cabo Verde, Espanha, França, Guiné-Bissau, Holanda, Inglaterra, Itália, Moçambique, República Checa, Suíça, Polónia, Portugal e Uruguai”, especificou o artista.

O teatro é a melhor forma de “dar a conhecer” Valongo, “as suas gentes, os seus costumes e as suas freguesias”.

Ao abrir as portas a outros mundos, não restam dúvidas que o resultado só pode ser “enriquecedor” sustenta Júnior Sampaio, acrescentando que a “ENTREtanto” tem vindo a trabalhar, ao longo de quase três décadas, “para Valongo”, trazendo o teatro internacional até ao município e levando-o além fonteiras. E que melhor forma há de “dar a conhecer” estas terra, assim como “as suas gentes, costumes, freguesias”, enalteceu.

A associação também já viajou pelo Brasil, Espanha, França, Alemanha, Cabo Verde e Moçambique, “divulgando o teatro que se faz em Portugal”. Já no âmbito da circulação nacional a companhia já tem escrito no seu roteiro passagens por Lisboa, Porto, Penafiel, Açores/São Miguel, Terceira e São Jorge, Viana do Castelo, Póvoa de Varzim, Castro D’aire, Tondela, Carrazeda de Ansiães, Chaves, Lousada, Serpa, Santa Maria da Feira, Oliveira de Azeméis, Oliveira de Frades, Coimbra, Macedo de Cavaleiros, Alfena, Ermesinde, Sabrosa, Tabuaço, Sobrado e Maia, entre outros.

Também já deram a conhecer ao público dramaturgos como Anton Tchekhov, António José da Silva, Eurípides, Fernando Pessoa, Georg Büchner, Gil Vicente, William Shakespeare, Manuel Poppe, Frank Wedekind, Federico Garcia Lorca, Karl Valentin, Bertolt Brecht, Aristófanes, Rainer Werner Fassbinder, Alfred Jarry, Henrik Ibsen, Luigi Pirandello, Machado de Assis, Maksim Gorki, Martins Pena, Molière, Sófocles, Susan Glaspell e Victorien Sardou.

Mas Júnior Sampaio, e à semelhança de outros artistas nacionais, lamenta que o teatro seja “um dos primos pobres da cultura” e que existam pessoas que ainda consideram que o “trabalho artístico não é uma profissão”. Mas este tipo de certames, como o que agora vai começar, pretendem fazer eclodir este paradigma, assegurou.

O brasileiro, nascido em Pernambuco, no Brasil, e que está em Portugal desde 1993, contou ao Verdadeiro Olhar que o teatro é mesmo a sua paixão, tendo uma relação com esta forma de arte quase como uma dependência. Às vezes quero abrandar um pouco, mas não consigo”, confessou.

E que importância tem esta expressão na vida das pessoas? O teatro é sustentado, sobretudo, pela “comunicação”, porque quem assiste a uma peça “aprende a ouvir, algo cada vez mais raro, e a falar sem ser em demasia”.

Para além disso, é um fio condutor de uma “grande liberdade psicológica”. Aliás, Júnior Sampaio confessa-se como uma pessoa algo introvertida, mas, quando está em palco, consegue mostrar-se e parece ficar “protegido pelo texto e pela personagem” que interpreta.

Aos 59 anos, este homem, que também gosta de escrever, é avesso a fazer projectos para o futuro, porque a vida, na maioria das vezes, troca-nos as voltas. Por isso, recusa abordar esse tema em relação à ENTREtanto, dizendo apenas que esta estrutura pretende continuar a “trazer bons espectáculos de teatro para Valongo, que os alunos da escola se tornem bons actores e manter o contacto com o público”.

E, de ano para ano, “vamos vendo”. Certo é que, esta mostra de teatro internacional tem feito ecoar o nome de Valongo em “palcos nacionais e internacionais”. E é isso o mais importante, concluiu o actor.