Nelson OliveiraEm 1982, nove anos após a adesão do Reino Unido à Comunidade Económica Europeia (CEE), Mick Jones e Joe Strummer escreviam e interpretavam um dos maiores êxitos dos The Clash – “Should I Stay or Should I Go?”.

A letra deste êxito da banda britânica assenta na perfeição face às dúvidas que o povo do Reino Unido enfrenta para emitir uma opinião vinculativa no referendo de dia 23, que irá decidir a permanência ou saída da União Europeia.

Numa fase em que a debilidade da União Europeia é notória, muitos países questionam se a sua presença é benéfica para os seus interesses.

Ora aqui está perfeitamente evidenciado o primeiro problema: numa fase de enormes desafios à integridade da zona Euro, os países que aproveitaram os largos benefícios de uma zona comum, começam a querer abandonar o projeto e o ideal fundador da União Europeia quando este passa por dificuldades.

Nesse sentido, o Reino Unido quer o melhor dos dois mundos. Manter de forma mais ou menos intocável o seu espírito independentista de superpotência europeia, com a sua moeda e fronteiras minimamente controladas, mas ao mesmo tempo quer um espaço livre em termos económicos e negócios externos com toda a União.

Qualquer que seja o resultado do referendo, os problemas para o Reino Unido e para a União Europeia irão manter-se durante muitos anos.

Em primeiro lugar, prevê-se que o resultado seja francamente bipartido, demonstrando uma clara divisão dos britânicos sendo por isso mesmo impossível de solidificar uma opinião inequívoca. Depois, mediante o resultado existem vários cenários que levarão a União a ter já implantado um plano para fazer face a todas as situações.

  1. Caso os britânicos optem por ficar na União Europeia, o acordo celebrado há alguns meses irá entrar em vigor, com óbvios benefícios para o Reino Unido quando comparado com outros países. Assim, é previsível que países onde as correntes nacionalistas são mais acentuadas (Hungria, Polónia, etc.) usem uma estratégia idêntica para ameaçar a Comissão Europeia com uma desintegração a Leste, tentando assim garantir melhorias nos acordos económicos dos seus países, algo que poderia colocar em causa o Tratado Europeu.
  2. Caso os britânicos optem por sair da União Europeia, o cerne desta união de países ficaria imensamente fragilizado sem a presença de um dos principais e históricos países desta aliança, mas, para o Reino Unido, também haveria evidentes prejuízos começando com a desvalorização da libra, fecho de mercados económicos importantíssimos para as empresas e cidadãos britânicos (p.e. – Alemanha), deslocalização de empresas para países da União Europeia de forma a beneficiar da livre circulação de pessoas e bens, etc. Por outro lado, havendo a experiência de que os referendos só terminam quando o resultado pretendido é atingido, abrir-se-ia espaço a mais referendos internos independentistas como por exemplo no famoso e recorrente caso Escocês para que depois fosse possível à Escócia voltar à União Europeia.

Neste novelo cruzado de problemas onde a melhor solução para uns é vista como a pior solução para outros, não há decisões fáceis e muito menos consentâneas com uma verdadeira União de países Europeus que, ainda assim e no meio deste turbilhão de acontecimentos, tem das taxas de crescimento económico e evolução cívica/social mais altas do mundo, acrescentando um período contínuo de paz nunca visto no passado entre países deste nosso continente.

As dúvidas que os Britânicos tem e a generalidade dos cidadãos Europeus é mesmo esta:

Should I stay or should I go now?

If I go there will be trouble

And if I stay it will be double

So you gotta let me know

Should I cool it or should I blow?