Scott e Kimberley

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Scott e Kimberley Hahn eram um jovem casal americano; presbiterianos muito devotos, frequentavam estudos superiores em instituições protestantes. Num desses cursos, os estudantes deviam escolher um assunto de ética para aprofundar, e Kimberley escolheu o da contraceção. Scott disse-lhe que não achava que fosse um tema interessante, que era coisa para católicos, mas que se ela queria perder tempo com isso, tudo bem. Kimberley respondeu que sempre que se tratava de aborto, prática à qual ambos se opunham, vinha sempre a lume o tema da contraceção e tinha interesse em estudá-lo. Desse estudo resultou a descoberta que até cerca de 1930, todas as igrejas cristãs (católica, protestantes e ortodoxas) rejeitavam tal prática. Chegou também à convicção de que o casamento, mais do que um simples contrato para intercâmbio de bens e serviços, era uma aliança para o intercâmbio de pessoas, cujo amor de inspiração divina se concretizava no ato conjugal aberto à vida. O tema da aliança era muito caro especialmente a Scott e ambos vieram a reconhecer que a contraceção era um ato de desconfiança para com a Providência que os levou a duas consequências: a aceitação da doutrina católica compendiada na Humanae Vitae e a renúncia ao uso de contracetivos.

Foi este o seu primeiro reconhecimento da justeza do catolicismo, num  processo que culminou na sua conversão, como contam num livro encantador em capítulos que Scott e Kimberley escreveram alternadamente. “Rome sweet home” em Inglês, o livro foi traduzido em Portugal sob o título “Todos os caminhos vão dar a Roma”. A edição em papel está esgotada, mas existe uma tradução brasileira na forma de “e-book”.

Outro passo no caminho da conversão foi dar conta de que não tinham fundamento os dois princípios basilares da reforma protestante: sola Scriptura e sola fide. O primeiro afirma que e Sagrada Escritura é o único veículo infalível da revelação. Numa aula que Scott dava, um aluno perguntou-lhe onde é que a Escritura afirmava tal coisa. Ficou atrapalhado, não respondeu e depois em casa as suas pesquisas não encontraram resposta satisfatória; como não lha deram tão-pouco dois grandes especialistas protestantes com quem debateu o assunto. O princípio da sola fide, segundo o qual a justificação se consegue exclusivamente pela fé, depara com a oposição da própria Escritura, como no hino à caridade de São Paulo que afirma: ainda que eu possua a plenitude da fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, nada sou. Ou em São Tiago: Assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta.

 Em 1985, Scott prometera à mulher que se viesse a converter-se ao catolicismo, tal não aconteceria antes de 1990. No entanto, passado algum tempo, pareceu-lhe que adiar a obediência a Deus era já uma desobediência e pediu à mulher que o desobrigasse da promessa. Muito contrariada, acedeu ao pedido, Scott converteu-se antes da data prometida, a qual veio a ser precisamente a da conversão de Kimberley! Podem ver-se na Internet os atuais cargos deste casal, que agora rondam os cinquenta e tal anos de idade .

Um dos últimos obstáculos que superaram foi aceitarem a devoção católica à Virgem Maria. Numa fase em que Scott se debatia com a questão, um amigo protestante desafiou-o a justificar essa devoção. Veio-lhe de repente ao espírito considerar que Jesus cumpriria escrupulosamente o quarto Mandamento de honrar pai e mãe e certamente que ficaria contente por os cristãos o imitarem. E acrescentou que o termo original se poderia traduzir por “glorificar”, mais do que “honrar”. Além disso, o louvor à Mãe de Jesus tem um apoio sólido na própria Escritura, em obediência à profética afirmação do Magnificat: Todas as gerações me proclamarão bem-aventurada… Termino com uma deliciosa experiência mariana de Kimberley, pouco antes da sua conversão. Viu sair de uma igreja católica uma pequerrucha a choramingar. Perguntou-lhe o que se passava e ela respondeu que se tinha confessado e lhe faltava cumprir a penitência. Aconselhando-a a fazer isso mesmo, a pequenita disse que não se lembrava da oração da penitênca –  a Ave-Maria! Kimberley engoliu em seco e enunciou a oração que a pequenita foi repetindo. Quando terminaram, diz a petiza: “duas vezes!”. A solícita protestante repetiu a proeza e diz no seu livro que a maioria das pessoas certamente não se lembra da primeira vez que rezou a Ave-Maia, mas  que ela se lembra muito bem.