Nos últimos anos, assistimos a um aumento exponencial no preço da habitação em praticamente todo o território nacional. Depois de anos de crise, durante os quais o mercado imobiliário esteve estagnado, o crescimento económico trouxe um novo fôlego. Como resultado, os preços da habitação e o valor das rendas aumentaram consideravelmente.

Sendo resultado do crescimento económico e do investimento, este aumento de preços não é obrigatoriamente mau. Mas, se não houver políticas públicas que pensem a habitação, corremos o risco de deixar para trás os grupos mais desprotegidos.

Não caberá ao Estado, quer seja Governo, quer sejam Câmaras Municipais, interferir no funcionamento do mercado. Mas cabe-lhes, sem dúvida, desenvolver mecanismos que permitam atenuar desigualdades.

Quanto a Paços de Ferreira, os últimos anos – e, sobretudo, os últimos meses – deixaram claro que o Executivo PS não tem qualquer política para a habitação.

A política de habitação deste Executivo tem-se limitado a visitas a empreendimentos imobiliários privados.

Não vejo qualquer problema nestes empreendimentos e são, até, bem-vindos…Não fosse o facto de quase todos eles estarem claramente fora do alcance da maioria das famílias pacenses. Aliás, um desses empreendimentos assumiu mesmo que o seu público alvo eram jovens casais do Porto que não conseguem pagar agora o preço da habitação na segunda mais importante cidade do País.

Com preços a rondar – e muitas vezes a ultrapassar largamente – os € 200.000,00, estas habitações não são “para o bico” da nossa população. E não havendo construção nova a preços mais acessíveis, até o mercado dos usados está e vai continuar a aumentar para preços que não serão adequados ao rendimento das nossas famílias.

O investimento no nosso concelho é sempre bem-vindo. Mas temos que criar condições para garantir que esse investimento não tenha como resultado o aprofundar de desigualdades. E é aqui que entram as políticas públicas de habitação. É necessário fazer o diagnóstico do nosso concelho em termos de habitação, identificar necessidades, definir objectivos e estabelecer estratégias para os alcançar. E o objectivo mais importante terá que ser, obrigatoriamente, garantir a oferta de habitação a preços acessíveis, quer de casas novas, quer ao nível do arrendamento.

É também necessário investir e reabilitar a habitação social, um instrumento essencial na diminuição das desigualdades e na criação de oportunidades.

O PSD tem chamado a atenção para a questão da habitação, o que tem incomodado o Executivo PS.

Em declarações a este Jornal, o Vereador da Câmara Municipal Júlio Morais garantiu que a Estratégia Local de Habitação já está elaborada e que será apresentada na próxima Assembleia Municipal.

Fico satisfeita por, finalmente, esta questão estar a ser pensada e por o PSD estar a contribuir para esta discussão. É isto ser oposição.

Só fico preocupada com o facto de, à semelhança do que aconteceu com a questão da Citânia de Sanfins, a solução só ter aparecido depois de o PSD ter lançado a discussão sobre o assunto. Porque se há coisas que se arranjam em poucas horas, uma política de habitação consistente não é feita num mês.