Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

André Pinto tem 24 anos e é natural de Alfena, Valongo. O desporto fez desde cedo parte da sua vida. Sonhava ser jogador de futebol, modalidade que começou a praticar aos oito anos, mas a vida deu-lhe a volta e, aos 17, quando jogava pelo Sporting, sofreu uma lesão no joelho que o havia de afastar desse percurso.

Escolheu outro caminho, mas não deixou o desporto para trás. “Percebi que tinha outra missão dentro do desporto, a de ajudar os outros”, diz. Formou-se em Gestão do Desporto e acabou a trabalhar numa instituição em Gondomar onde criou um projecto para pessoas com deficiência chamado “Sport 4 All”, cuja meta é ajudá-los através da actividade física.

Entre as 10 mil candidaturas ao Corpo Europeu de Solidariedade da Comissão Europeia, este projecto acabou nos 15 finalistas vencedores, sendo considerado um exemplo de boas práticas a nível europeu.

Deixou o futebol, mas não o desporto

“A minha ligação ao desporto começou cedo. Joguei futebol entre os oito e os 17 anos”, conta André Pinto. Tanto o avô como o pai tinham sido praticantes da modalidade antes dele.

Começou pelas escolas do Futebol Clube do Porto e passou pelo Alfenense. Chegou ao Sporting e esteve em Lisboa um ano, a jogar pelos sub-17, e acredita que tinha “potencial” para ir mais longe. Mas seguiu-se uma lesão que o impediu de continuar a praticar a modalidade em termos profissionais. “Já o meu avô e o meu pai deixaram de jogar por lesões parecidas. Os meus irmãos até foram para a natação”, brinca. “Foi um choque muito grande na altura e vivi um período complicado”, admite em tom mais sério.

Foi então que diz ter percebido “que tinha outra missão dentro do desporto, a de ajudar os outros”.

Mesmo adorando o futebol nunca se tinha desligado dos estudos. Completou o 12.º ano num curso de Desporto e entrou no curso de Gestão de Desporto do ISMAI. Ainda enquanto estudante, trabalhou no Dragon Force, onde chegou a ser director operacional do basquetebol, sendo responsável pelas escolas da modalidade. “Uma das iniciativas que desenvolvemos foi que houvesse uma bolsa de estudo todos os anos para alunos de contextos menos favoráveis, que dava direito ao transporte, alimentação e treinos”, recorda.

Quando terminou a faculdade, trabalhou numa empresa de organização de eventos desportivos, onde começaram a desenvolver corridas para pessoas em cadeira de rodas. Fez ainda um mestrado em Educação Física, sendo treinador estagiário do Gondomar ao mesmo tempo, até que se juntou à Associação Social de Silveirinhos, em São Pedro da Cova, Gondomar.

“Gostaram do meu trabalho e surgiu a oportunidade de fazer aqui um trabalho diferente”, explica.

Trabalho com resultados à vista

Foi assim que nasceu o “Sport 4 All”, um projecto destinado a pessoas com deficiência motora e mental que começa por avaliar as suas dificuldades, amplitude de movimentos e motricidade fina para mediante o resultado procurar os exercícios que mais se lhe adequam. Ao todo, existem 12 modalidades que os utentes, cerca de 30 entre os 20 e mais de 80 anos, podem praticar, alguns semanalmente, como a educação física, a natação, o boccia ou a dança. Depois há ainda a hipoterapia, o surf adaptado, a zumba ou o pilates, entre outros. “Agora vamos levá-los ao padlle para experimentarem”, adianta André Pinto.

“O grande objectivo do Sport 4 All é tirar as pessoas de casa e do sedentarismo. As pessoas com deficiência têm muitas vezes falta de sociabilização”, refere o valonguense. Este projecto dá-lhes a oportunidade de se desenvolverem fisicamente e de terem uma vida activa, atesta.

E dá exemplos. “O senhor António é surdo e esteve em casa durante muito tempo. Tinha uma vida sedentária. Desde que está aqui emagreceu sete a oito quilogramas em seis meses e sobe e desce escadas com facilidade. E como gosta muito de desenhar criou uma espécie de negócio social e vende os seus desenhos”, conta. Quem também viu a vida mudar foi a Dulce, cega desde criança devido a uma meningite e que perdeu depois as pernas devido a um atropelamento. “Quando chegou aqui nem se movimentava de cadeira de rodas sozinha. Agora já o faz, desenvolveu a audição, sobe e desce da cadeira sozinha, ajuda nas tarefas de casa e faz a sua higiene pessoal”, adianta André Pinto, falando de um projecto que vai muito além do desporto e envolve os utentes também com o teatro e a dança, contando ainda com o apoio de uma psicóloga e uma educadora social.

Apesar de trabalharem em grupo, tentam uma abordagem individualizada. Mas são os próprios utentes que já se começam a ajudar uns aos outros e a criar laços. “É gratificante”, assume.

“Não pensávamos ter um impacto tão grande em menos de um ano”

“Pelos resultados que estamos a ter faz sentido fazer o projecto crescer e chegar a mais pessoas”, defende o jovem de Valongo. Daí surgiu a candidatura ao Corpo Europeu de Solidariedade da Comissão Europeia. Desde logo para conseguirem verba, numa associação sem contratos com a segurança social e sem grandes apoios, para garantir o contrato de trabalho de André Pinto, permitindo que continuasse a desenvolver o trabalho em curso.

“Entre as 10 mil candidaturas submetidas em toda a Europa a nossa ficou entre as cinco mil aprovadas. Depois foram seleccionados 30 projectos de boas práticas a nível europeu. Desses saíram os 15 vencedores dos prémios de boas práticas que vão representar e ser a imagem do Corpo Europeu de Solidariedade. Já estiveram cá a fazer um registo vídeo e fotográfico do projecto”, conta André Pinto.

Isto abre portas a que, no futuro, o número de utentes abrangidos aumente. “O projecto já começa a ser replicado noutros lugares”, refere, não só no contexto da deficiência, mas também em lares de idosos.

“Não pensávamos ter um impacto tão grande em menos de um ano”, confessa o técnico. Agora querem ver o Sport 4 All chegue ao máximo de pessoas possível, a nível nacional e internacional.

“Este projecto não é nosso. É da comunidade”, salienta. É sobretudo um trabalho de equipa, garante.

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

O Corpo Europeu de Solidariedade é a nova iniciativa da União Europeia dirigida aos jovens, dando-lhes a oportunidade de fazer voluntariado ou de trabalhar em projectos, no próprio país ou no estrangeiro, em benefício de pessoas e comunidades de toda a Europa.