A polémica não vem de agora, mas teve novo episódio na Assembleia Municipal de Paredes, realizada no passado sábado. José Borges, presidente da Junta de Louredo eleito pelo PSD, e Soares Carneiro, líder da bancada do partido, envolveram-se numa troca de palavras sobre o uso do tempo reservado aos social-democratas logo no período antes da ordem do dia. José Borges afirmou que o querem “calar”. Já Soares Carneiro garantiu que o autarca já foi convidado a integrar as listas do PS nas próximas autárquicas.

Recorde-se que o presidente da Junta de Louredo tem vindo a demarcar-se do partido no sentido de voto nas últimas assembleias municipais.

Passava pouco mais de meia hora desde o início da sessão. José Borges tinha-se inscrito para falar no período do antes da ordem do dia, mas mal subiu ao púlpito o líder da bancada do PSD, Soares Carneiro, alegou que o tempo gasto pelo autarca eleito pelo partido, não poderia ser descontado aos social-democratas, já que não tinha ficado estabelecida a sua intervenção na reunião preparatória realizada pelo partido. “Estou estupefacto e esta intervenção vem sustentar a minha preocupação em me inscrever. Há uma tentativa do PSD para me fazer calar, mas queria deixar bem claro que podem usar esses métodos porque a mim ninguém me cala. Fui eleito para defender os interesses de Louredo e não para defender os interesses do partido e é isso que vou continuar a fazer”, avisou Borges.

“Ainda é um elemento da bancada do PSD e que eu saiba não foi apresentado nenhum pedido de exclusão da bancada. Democraticamente não posso retirar a palavra a um membro eleito da Assembleia Municipal. O que me está a pedir é que o tempo de intervenção não seja contado para o do PSD. Tenho algumas dúvidas. Acho que vocês devem resolver esse problema internamente”, começou por argumentar o presidente da Assembleia Municipal. Mas Baptista Pereira convocou ainda assim uma conferência com os líderes das quatro bancadas (PS, PSD, CDS e CDU) para decidir.

Acabou por explicar que existe um ponto do regimento que permite aos líderes das bancadas o agendamento prévio das intervenções no período em causa, sendo que José Borges não constava da lista. “Falará em último lugar se tiver oportunidade de dizer alguma coisa”, avisou Baptista Pereira.

Mais tarde, Soares Carneiro subiu ao púlpito para intervir e começou por esclarecer que “os grupos parlamentares têm reuniões prévias à assembleia municipal e lá se combina quem vai falar e sobre o quê no período antes da ordem do dia”, pelo que o PSD tinha apresentado à mesa, antecipadamente, uma lista dos intervenientes. “O que o PSD quer não é tirar a voz ao senhor Borges, que tem falado sempre que quer. Mas vou fazer aqui mais uma adivinha e dizer publicamente isto: o senhor Borges já foi convidado para ser candidato à junta de Louredo pelo PS. O tempo vai-me dar razão se não se vai apresentar como candidato ainda que como independente na lista do PS”, sustentou.

Como ainda restou tempo à bancada, José Borges tomou a palavra e arrancou com críticas. “Para que tivesse sustentabilidade o que diz eu tinha que ter sido convocado para a reunião preparatória do partido para poder nesse local manifestar o meu interesse em intervir. Não fui convocado. Já é habitual tentarem calar-me”, alegou.

“Fui eleito pelo PSD para defender os interesses da freguesia de Louredo. Não me vou demitir das minhas funções e serei presidente da junta pelo PSD até ao fim deste mandato. Não estou aqui ao serviço dos interesses do PSD, mas para defender os interesses de Louredo, quer o PSD goste ou não. Não tenho compromissos com nenhum partido para a minha próxima candidatura e ainda não decidi se serei candidato”, atacou, agradecendo depois ao executivo os projectos realizados na freguesia.

Soares Carneiro ainda argumentou que a intervenção feita não estava relacionada com os assuntos que poderiam ser tratados naquele ponto. “Isto não é um comício do PS, é uma assembleia municipal. Os problemas internos dos partidos não são de interesse geral para o município. Além do mais, o tempo foi largamente excedido”, defendeu o social-democrata.

Mas o presidente da Assembleia Municipal de Paredes garantiu que o tempo foi cumprido. Já quanto ao teor da intervenção, sustentou que cabia a ele decidir sobre o interesse e que a abordagem feita “teve interesse para a população de Louredo”.