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A tuberculose mantém-se como uma das principais causas de morte a nível mundial. E, apesar de o número de casos estar em queda, “Portugal continua a ser o país da Europa Ocidental com taxas de incidência mais elevadas de tuberculose”, diz o mais recente relatório da Direcção-Geral da Saúde.

“A análise epidemiológica anual da tuberculose confirma a redução sustentada da notificação de casos em Portugal, tendo sido registados 1.465 casos em 2020, menos 383 do que no ano anterior, em que foram notificados 1.848. Neste momento, a taxa de notificação corresponde a 14.2 por 100 mil habitantes”, lê-se no Relatório de Vigilância e Monitorização da Tuberculose em Portugal.

No mesmo documento, realizado no âmbito do Programa Nacional para a Tuberculose e que apresenta os dados epidemiológicos da tuberculose em Portugal, referentes ao ano de 2020, é, no entanto, salientado que a esta redução da taxa de notificação “não terão sido alheios os efeitos da pandemia”. “A pandemia da Covid-19 veio alterar a dinâmica de todos os sistemas de saúde a nível mundial. Em reflexo desta pandemia, assistimos, em 2020, a um decréscimo acentuado da taxa de notificação de tuberculose em Portugal”, mas “é expectável um aumento do nú­mero de casos em 2021”, avisa o relatório. Houve um decréscimo percentual anual de 8,6% no último quinquénio (2016-2020), mas é necessário reforçar esse decréscimo de forma a alcançar as metas definidas pela Organização Mundial de Saúde até 2035.

O mesmo relatório adianta que os distritos do Porto e de Lisboa mantêm-se como os com maior incidência de tuberculose, “embora com taxas de notificação decrescentes e próximas dos 20 casos por 100 mil habitantes”. Já a mediana de dias até ao diagnóstico demonstrou “uma tendência crescente o que resulta num diagnóstico mais tardio da doença” e, consequentemente, “num maior risco de contagiosidade”.

Fonte: Relatório de Vigilância e Monitorização da Tuberculose em Portugal da DGS

Tâmega e Sousa lidera na incidência

No Norte houve 541 casos em 2020. Entre 2016 e 2020, no último quinquiénio, houve 2215 casos registados no distrito do Porto.

Penafiel volta, em 2020, a ser o concelho do país com maior incidência de tuberculose: 59,5. “Analisando a distribuição por concelhos nos distritos mais afectados, no quinquénio 2016-2020, verifica-se no distrito do Porto, maior incidência de casos nos concelhos de Penafiel (59,5 casos/100 mil habitantes) e Marco de Canaveses (56,9 casos/ 100 mil habitantes). O concelho do Porto apresentou, neste quinquénio, uma taxa de notificação de 32,5 casos/ 100 mil habitantes”, diz a DGS. “O concelho de Penafiel, na região do Vale do Sousa apresentou, no quinquénio 2016-2020, a taxa de notifi­cação mais elevada o que se relaciona com a proporção de silicose (53,8% em 2020) e de consumo de álcool (11,5% em 2020). No concelho do Porto, 47,3% dos casos notificados em 2020 correspondem a pessoas sem factores de risco sociais e sem VIH”, esclarece ainda.

Nos últimos cinco anos (2016-2020), os municípios de Lousada, Paços de Ferreira, Paredes, Penafiel e Valongo registaram 508 casos desta doença.

O Tâmega e Sousa foi a região do país com maior incidência de tuberculose entre 2016 e 2020, com uma taxa de 27,7. Houve 738 casos nesses cinco anos.  

No quinquiénio em análise, Penafiel registou 208 casos. No mesmo período, Valongo teve 120 (com uma taxa de incidência de 24,9), Paredes 78 (18,1), Paços de Ferreira 72 (25,4) e Lousada 30 (12,8).

Infografia: Verdadeiro Olhar/Dados: Relatório de Vigilância e Monitorização da Tuberculose em Portugal da DGS

94 mortes registadas em 2020

Segundo o documento, a nível nacional, os homens continuam a ser mais afectados do que as mulheres (64,8% do total de casos notificados em 2020), especialmente na idade adulta. A população imigrante mantém-se como uma população de risco, com uma taxa de notificação 4,3 vezes superior à média nacional (60,6 por 100 mil em 2020) e um aumento progressivo da proporção de casos.

Em 2020, a morte ocorreu em 94 casos de tuberculose, sendo que “a totalidade dos doentes em que ocorreu o óbito apresentavam factores de risco ou co-morbilidades”, lê-se.

Os objectivos propostos pela Organização Mundial de Saúde consistem em reduzir, até 2035, em 95% o número de mortes por tuberculose e em 90% a taxa de incidência de tuberculose. “Em Portugal, o rastreio e tratamento gratuito e o livre acesso às consultas de tuberculose nos Centros de Diagnóstico Pneumológi­co permitiram alcançar uma diminuição sustentada da incidência da doença. Contudo, a desaceleração na redução percentual anual da doença, associada a uma diminuição abrupta do número de casos em 2020 e ao aumento da mediana de dias até ao diagnóstico, reforçam a necessidade de definir novas estratégias e monitorizar resultados”, aponta a DGS.

Em 2022, as metas passam por manter a tendência decrescente da taxa de notificação de casos, reduzir o número de dias até ao diagnóstico, melhorar a actuação nos mais vulneráveis e melhorar a prestação de cuidados de saúde em tuberculose, privilegiando uma resposta centrada no doente.