Há mais de duas décadas, quando me estreava como professora, no que diz respeito à sala de aula, a escola não era muito diferente daquilo que é hoje: mesas, cadeiras, um quadro (agora branco)… Há hoje um novo elemento apenas, o computador, que, passado o deslumbre inicial, facilita muito a tarefa do professor, pela possibilidade de apresentar conteúdos multimédia, mas é pouco relevante atendendo às expectativas dos alunos, que hoje dispõem de produtos bem mais apelativos nos seus smartphones, incapazes de rivalizar com os materiais pedagógicos que os professores lhes oferecem.

Apesar das mudanças lentas, houve algumas significativas na forma de encarar a escola. Há vinte anos, na maior parte das escolas, havia os clubes. Quem não se lembra do Clube das Ciências? Do Clube de Fotografia? Do Cantinho das Artes? Do Jornal Escolar? Certamente algumas escolas continuam a alimentar estes oásis, que são já poucos. E porquê? Porque a crescente importância atribuída aos exames nacionais, associados a um ranking, levou à canalização de energias para a realização de um exame. E, assim, como, no terceiro ciclo, não há exames de teatro, nem de música, nem de desporto, nem de pintura… não se justifica o investimento nestas áreas.

Hoje, quando há crédito horário para atribuir aos docentes, transforma-se em aulas de apoio. E, assim, os alunos passam o dia na escola continuamente em aulas. Quando chegam a casa, têm os trabalhos de casa para fazer e pouco mais tempo lhes resta para aquilo de que gostam. Muitos chegam a abandonar o futebol e outras atividades por manifesta falta de tempo. Se os resultados académicos forem bons, todos ficam satisfeitos. E quando o insucesso grassa? Resolve-se com mais aulas e mais estudo?

A realidade é complexa e não há explicações fáceis para o insucesso. Mas há um fator que, independentemente das determinações do meio socioeconómico e cultural, pode fazer a diferença na equação do sucesso: a motivação. Não sou contra os exames nacionais, mas há mais vida para além deles e a escola tem de deixar viver os nossos meninos e meninas. Tem de os deixar explorar os seus talentos, oferecer-lhes outras atividades e valorizar outras competências.