Muito se ouvirá falar sobre Francisco Sá Carneiro nos próximos dias. Muito se ouve falar sobre o que terá dito Francisco Sá Carneiro. Proponho que, mais do que falar sobre o que disse, se ‘ouça’ o que disse Francisco Sá Carneiro.

Muito se ouvirá falar sobre Francisco Sá Carneiro nos próximos dias. Muito se ouve falar sobre o que terá dito Francisco Sá Carneiro. Proponho que, mais do que falar sobre o que disse, se ouça o que disse Francisco Sá Carneiro:

 

A democracia

“A democracia consolida-se vencendo e convencendo os seus inimigos;

(…) democrata é aquele que pratica a democracia e não aquele que dela apenas se reivindica”;[1]

“A democracia social impõe que sejam assegurados efectivamente os direitos fundamentais de todos à saúde, à habitação, ao bem-estar e à segurança social; exige a abolição das distinções entre classes sociais diversas e a redistribuição dos rendimentos, pela utilização de uma fiscalidade justa e progressiva.[2]

 

As prioridades políticas

“Tornar Portugal um país militante ao serviço da causa dos Direitos do Homem, são também, para o nosso Partido objectivos fundamentais e prioritários.

Abertos ao futuro português democrático e progressivo:

  • Empenhados na construção de uma sociedade nova, descomprometida e libertadora do Homem;
  • inimigos da alienação capitalista, do domínio monopolista e dos totalitarismos de qualquer cor;
  • adversários do fascismo em combates antigos que legitimamente nos orgulhamos;
  • assumimos a tradição liberal e republicana, as correntes do humanismo social cristão, as experiências contemporâneas de socialismo em liberdade que são as sociais democracias.

(…) É aos partidos que compete propor as vias políticas que a democracia pluralista deve seguir para servir o povo.

A nossa proposta é clara, nova, livre e progressiva.

Queremos caminhar para a igualdade na liberdade.

Alcançar rapidamente o progresso na segurança.

Reformar profundamente a sociedade com pleno respeito da pessoa humana”;[3]

“Julgo que o socialismo democrático, incitando todos os cidadãos à solidariedade, partilhando entre todos os poderes e as responsabilidade, levará ao livre desenvolvimento da personalidade de cada um pela utilização equitativa dos recursos disponíveis sem pôr em risco as liberdades fundamentais e a dignidade do Homem.

(…) Não basta apenas rejeitar, ainda que claramente, as vias oferecidas pelo neocapitalismo e pelo neoliberalismo, (…) Não bastam reformas de repartição ou redistribuição de riqueza, sobretudo pela utilização da carga fiscal. Há que introduzir profundas reformas estruturais que alterem mecanismos do poder e substituam à procura do lucro outras motivações que dinamizem a vida económica e social.

(…) O Programa que acabamos de aprovar é a nossa resposta à imensa esperança que o 25 de Abril trouxe a todos os portugueses: o primeiro passo para uma sociedade digna da Pessoa Humana, livre da opressão, da pobreza e da guerra”;[4]

 

A Europa

“(…) o P.P.D. diz claramente sim à Europa e à Europa do Mercado Comum. Ao contrário de outros partidos, não considera o Mercado Comum uma simples construções de monopólios numa fase avançada do capitalismo, mas antes e, sobretudo, germe do encontro dos povos europeus consigo próprios e da sua solidariedade com o resto do Mundo”.[5]

 

Fazer política

“Não me assusta nada o problema do P.P.D. aparecer mais preocupado com o rigor de uma linguagem política do que com imagens bombásticas. Não há nada que pague a sinceridade, na acção política, como em tudo. Só agindo sinceramente se pode agir convictamente. Penso ainda que as pessoas estão cansadas de demagogias fáceis…”;[6]

“Temos de respeitar as ideias dos nossos adversários políticos, daqueles que pensam diversamente de nós. A luta política pressupõe e implica a afirmação clara das divergências entre partidos (…) Mas para vincar as diferenças e as discordância não é, de modo algum, necessário atacar em campanhas promovidas com esse fim, os partidos que perfilham atitudes, opiniões e programas diferentes. É evidente que há que preservar a Democracia e combater democraticamente todos os movimentos que a possam pôr em causa”;[7]

 

[1] F Sá Carneiro, Por uma Social-Democracia Portuguesa (Publicações D. Quixote, Lisboa, 1975), pág.24-25 – Discurso no primeiro comício do P.P.D. em Lisboa, realizado em 25 de outubro de 1974.

[2] id, pág.42-44 – Discurso na abertura do I Congresso Nacional do P.P.D., realizado em 23 de novembro de 1974.

[3] id, pág.29 – Discurso no primeiro comício do P.P.D. em Lisboa, realizado em 25 de outubro de 1974.

[4] id, pág.42-44 – Discurso na abertura do I Congresso Nacional do P.P.D., realizado em 23 de novembro de 1974.

[5] id, pág.83 – Conferência de imprensa realizada em 30 de outubro de 1974.

[6] id, pág.127 – Entrevista concedida ao Jornal de Notícias, publicada em 20 de julho de 1974.

[7] id, pág.189 –  Entrevista concedida ao Jornal de Notícias, publicada em 26 e 27 de outubro de 1974.