Politicamente, a tendência do debate é para apanhar aquela contradição do adversário, a pequena incoerência, a mudança de posição. E quase sempre com o objetivo de descredibilizar. É uma atitude, às vezes, cruel. Na verdade, quem nunca mudou de opinião? Não digo mudar de clube quando o nosso perde, porque isso são coisas de coração, ainda que este em matéria de amores, por vezes, dê mostras de desvario.

Por isso, e para não dizerem que só critico, hoje queria deixar uma nota positiva relativamente à mudança de posição do senhor presidente da Câmara de Lousada. O assunto é a construção de um novo mercado municipal em Lousada. Remontemos ao dia 29 de outubro (já lá vai mais de meio ano), quando o Dr. Pedro Machado, numa reunião de Câmara, que não lhe estava a correr bem (esta é a única nota negativa, prometo), aproveitou a presença da comunicação social para incrementar o seu desempenho e divulgou novidades em catadupa. Uma delas foi o novo mercado municipal. “Lousada avança com um novo mercado de raiz”: foi este o título garrafal da notícia que saiu na imprensa, na qual se podia ler que, palavras do autarca, seria um projeto “moderno e arrojado”. Todos ficamos a saber, portanto, que a autarquia tinha já uma ideia muito concreta do projeto, até das linhas arquitetónicas. Recordemos as palavras do presidente, palavras essas de quem sabe o que quer, de uma sapiência iluminada pelo desejo de inovar e surpreender: “Queremos apostar aqui num projeto de arquitetura arrojado e que seja capaz de suscitar o interesse e a curiosidade das pessoas, além de dar mais condições para que os comerciantes possam desenvolver a sua atividade. O projeto será preparado este ano para avançar, assim que possível, a candidatura a fundos comunitários. Há uma certeza: será um espaço moderno, requalificado e atrativo”.

Tudo parecia decidido, certo, seguindo um curso inexorável. Mas, muito provavelmente instigado pelos alertas do PSD, refreou o ímpeto daquele momento e uma reflexão, que não precisou de ser muito profunda, permitiu-lhe mudar a linha de pensamento. E foi assim que, mais tarde, se mostrou avesso à solução já divulgada, considerando que o novo espaço não deveria ter apenas a valência do mercado, mas sim concentrar outros serviços municipais, e não só, tendo em conta a centralidade do terreno e do edifício a ser construído.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, já dizia o Poeta. O Dr. Pedro Machado fez muito bem em dar o dito pelo não dito. Na última Assembleia Municipal, clarificou a sua posição e aproximou-se de algumas ideias do PSD apresentadas anteriormente: “Não é uma ideia fixa que tenha mesmo de ser, ainda por cima num cenário em que tudo o que era disponibilidade financeira previsto no PARU para Lousada está esgotado. Vamos dar mais tempo para amadurecer esta ideia do novo mercado, sendo certo que me parece possível conciliar a ideia do mercado com a outra ideia que vocês falaram, que não é novidade. Já há muito tempo que se fala em concentrar os serviços. Vamos dar mais tempo para amadurecer. Nada está decidido, podem ficar descansados”.

Estamos, de facto, mais descansados. Há aqui, no entanto, mais uma predita na engrenagem. Para além de tentar apanhar as mudanças de opinião dos outros, os políticos tendem a evitar pôr em prática as ideias da oposição. Se o Dr. Pedro Machado me surpreender mais uma vez pela positiva, talvez as boas ideias do PSD sejam tidas em contas. Caso contrário, a vida segue com a política do costume.