Movimentos Seniores de Lousada vão a casa para combater a solidão

Desde Março que foram suspensas todas as actividades. Utentes matam saudades pelo telefone e agora recebem visitas de técnicos que propõem desafios e dão início ao projecto BioSénior

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José Matos é utente do Movimento Sénior de Vilar do Torno e Alentém vai para 12 anos. E já não imaginava a vida sem as diferentes actividades lúdicas e desportivas que lhe ocupavam parte da semana. Mas a pandemia veio suspender tudo. De lá para cá, é contactado com regularidade pelos técnicos da Câmara de Lousada e mata saudades pelo telefone com alguns dos companheiros com quem dividia os dias.

“Estava habituado àquele convívio e rotinas e isto deixou marcas profundas. A gente tinha aquele compromisso. Temos saudades de conversar e ficamos um bocado isolados”, admite José Matos.

A partir desta semana, os Movimentos Seniores de Lousada vão a casa. A meta passa por combater a solidão e o isolamento dos mais velhos, mantendo-os activos e ainda levar aos idosos o mote do projecto BioSénior.

Os Movimentos Seniores de Lousada são 15 e contam com 400 utentes de todo o concelho.

“Temos saudades de conversar e ficamos um bocado isolados”

As técnicas chegam e ficam à porta. José Matos ainda insiste, mas não passam do pátio da casa. É uma das medidas de segurança para que não haja possibilidade de contágio junto desta população de risco. Todos estão de máscara.

Ana Isabel Sousa e Mariana Cardoso São recebidas com festa. Desta vez, tiveram a companhia do vereador da Acção Social e da Saúde, Nélson Oliveira.

Das mãos de Mariana Cardoso, do BioSénior, José Matos recebe um jornal com informação sobre o ambiente no concelho, com alguns jogos e ainda postais com animais que existem no município. A meta passa por criar “momentos de aprendizagem e diversão”, explica. “Depois vou ligar para vocês (séniores) e pedir que me contem histórias relacionadas com estes bichos”, adianta Mariana. “Já viu alguma doninha? Eu nunca vi ao vivo”, comenta a técnica. “Já vi muitas”, responde José Matos. “Ainda há dias fui a casa de uma vizinha que me chamou para matar um ouriço cacheiro. Mas não matei, trouxe-o para aqui. Ele come caracóis e temos cá muitos”, disse o homem de 76 anos, de Vilar do Torno e Alentém, apontando para o jardim.

Ana Isabel Sousa, responsável pelo projecto Movimento Sénior, está mais preocupada com os impactos da pandemia. “Tenho aqui um inquérito que depois vamos fazer sobre como se sentiram neste período de isolamento social”, diz. “Foi muito complicado. Agora já nos vamos habituando”, conta o lousadense. “Estava habituado àquele convívio e rotinas e isto deixou marcas profundas. A gente tinha aquele compromisso. Temos saudades de conversar e ficamos um bocado isolados”, admite José Matos.

Entre as actividades propostas estão, por exemplo, como fazer bolas de Boccia com meias velhas, para treinar em casa, ou algumas indicações sobre exercícios físicos simples que podem executar. “Eu estou a fazer diariamente uma caminhada e os exercícios que o professor dizia para fazermos lá”, atesta o sénior. “É uma forma de se manterem activos o que é muito importante”, salienta Ana Isabel Sousa.

Técnicos levam materiais e promovem actividades em casa

Existem no concelho de Lousada 15 Movimentos Seniores: em Aveleda, Boim, Caíde, Cristelos, Lustosa, Macieira, Meinedo, Nespereira, Nogueira, Ordem, Pais, S. Miguel, Silvares, Sousela e Vilar do Torno e Alentém.

Nasceram com o objectivo de promover o envelhecimento activo, uma melhor qualidade de vida e a integração na sociedade dos seniores, com o reforço da auto-estima e a promoção da sociabilidade.

Para isso, ao longo do ano são desenvolvidas inúmeras actividades desde as aulas, torneios e campeonatos de Boccia até outras actividades físicas, além de iniciativas como as Janeiras, Baile de Carnaval, Santos Populares, Feira Social, o concurso Miss e Mister Sénior e o Magusto Sénior, além de um passeio anual, entre outros.

Com a chegada da pandemia tudo ficou suspenso. “Os Movimentos Seniores pararam imediatamente. Não foi fácil de decidir, mas quisemos travar os casos COVID-19”, refere Nélson Oliveira.

Durante estes meses, foram mantidos contactos regulares com os seniores e foram sendo preparadas actividades que pudessem desenvolver em casa.

“Nesta primeira fase os técnicos dos Movimentos Seniores vão entregar diversos materiais didáticos e pedagógicos que passam por planos de actividade física adequados às capacidades dos seniores e ainda jornais, postais e jogos relacionados com a actividade do BioSénior”, refere o vereador.

Recorde-se que o BioSénior, iniciativa do pelouro da Acção Social em parceria com o pelouro do Ambiente, é um projecto social e ambiental que promove a interligação do público mais velho com experiências ambientais e a promoção de comportamentos sustentáveis. Visa trazer toda a sabedoria de outros tempos e vivências das pessoas menos jovens para os dias de hoje, fazendo uso da experiência e saber acumulado dos mais idosos.

“Isto para nós faz toda a diferença”

José Matos juntou-se ao Movimento Sénior de Vilar do Torno e Alentém há cerca de 12 anos. “Fomos dos pioneiros e éramos poucos na altura”, recorda. “É um projecto fantástico, dos melhores da autarquia. Permite-nos conviver e viver momentos marcantes”, explica.

Também é uma forma de apoio importante entre os seniores. “Se alguém falta vamos logo tentar perceber o que se passa ou se está doente”, dá como exemplo.

O vereador da Acção Social reitera a importância deste acompanhamento, mesmo para os serviços da autarquia. “Por telefone as coisas não são perceptíveis como neste contacto directo. Estas visitas permitem fazer acompanhamento social e sinalizar problemas”, afirma Nélson Oliveira. “Como não há a possibilidade de se juntarem devido à pandemia vimos nós até eles, porta-a-porta, com actividades.

“Virem aqui a casa é maravilhoso e para nós faz toda a diferença”, garante o sénior, que sempre participou em tudo, desde o Boccia ao concurso de Miss e Mister Sénior onde já foi concorrente e até apresentador.