Meu caro afortunado

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Fernando Sena EstevesNão te venho felicitar pelo Euromilhões porque não te saiu nenhum prémio; o que também não é espanto nenhum porque não te dá para essas apostas. Nem para a lotaria ou sequer para uma raspadinha… E deixa-me dizer-te que te saísse uma pipa de massa num desses jogos não sei se te felicitaria ou se teria pena de ti, a avaliar por alguns casos em que os contemplados pareciam apostados em confirmar que “O dinheiro não dá felicidade”. Bom, se toda a gente sabe disso, toda a gente gostaria também de experimentar. Ou não?

Simpática festa é a celebração anual do “Dia de ação de graças” nos Estados Unidos. Foi instituído para todo o país pelo presidente Lincoln em 1863, tendo sido marcado para a última quinta-feira de novembro. Os sentimentos religiosos que originaram esta celebração foram em grande parte substituídos pelo simples convívio entre famílias e amigos e, claro está, com festim culinário. Neste participa como figurante central o peru.

Mesmo sem um destes dias para celebrar pelas nossas bandas, queria deixar à tua consideração umas quantas coisas boas que a gente vai tendo e que mereceria um sentimento de gratidão. Há almas boas que até são capazes de se sentir gratas pela dor que por vezes roça as suas vidas ao participarem assim na redenção que Jesus veio operar e que celebramos na Páscoa.

Já pensaste como é bom teres um teto de abrigo e poderes dormir numa cama e teres uma família que te estima ao teu redor? E poderes ter três refeições por dia e talvez um outro cafezito nos intervalos? E teres trabalho como espero que suceda contigo, mais ou menos estável e com remuneração digna? E poderes ler este artigo, sinal de que tens acesso a um computador e à Internet… e que tens esse grande dom, o da visão que tanta falta nos faz?!

Se calhar, até podes ter um carro e algum dinheiro para a gasolina e para as revisões; e para as portagens; e para o imposto único de circulação, claro; e para disfarçar uma ou outra “raspadinha” que sempre acontece…

E tens uma igreja onde podes ir à missa aos Domingos ou fazer uma visita ao Santíssimo de vem em quando. Em alguns sítios não é fácil: já nem falo na Arábia Saudita, onde é proibida a construção de igrejas cristãs, mas nas paróquias onde a escassez de clero já não permite celebrar a missa todos os Domingos. Ao menos aqui no Porto é uma farturinha, com muitas missas todos os dias!

E vais tendo uma saúde razoável, embora com um ou outro achaque que também te aparece como a toda a gente; e sempre arranjas uma consulta quando é preciso e podes comprar os medicamentos que te receita o médico. Já agora, permite-me este conselho, tema de um aturado trabalho do meu colega de gabinete: quando te receitarem uma medicação, cumpre-a até ao fim e não a interrompas pelo facto de começares a sentir-te melhor. E incita os teus familiares a fazerem o mesmo!

Se calhar, até tens a possibilidade de gozares uns diazitos de férias fora de casa: mesmo que não inclua viagens de avião e um desses paradeiros da moda, é uma pausa bem grata, se não mesmo necessária para o bem-estar do corpo e da alma.

Certamente que terás pensado em tantos menos afortunados do que tu nisto ou naquilo e até terás tido vontade de fazer alguma coisa em seu favor. Lembrei-me de procurar e escrever umas “receitas” antigas e bem atuais que te recomendo vivamente. Refiro-me às “Obras de misericórdia”; tradicionalmente, apresentam-se catorze, sete corporais e outras tantas espirituais. As primeiras são estas: 1) Dar de comer a quem tem fome. 2) Dar de beber a quem tem sede. 3) Vestir os nus. 4) Dar pousada aos peregrinos. 5) Visitar os enfermos. 6) Visitar os presos. 7) Enterrar os mortos. As outras sete, procura-as na Internet, pode ser? Vais ver que encontras…