Estimativa da posição de impacto da aeronave com os cabos eléctricos | Infografia GPIAAF

O Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) divulgou, esta quinta-feira, um relatório preliminar sobre o acidente com um helicóptero ao serviço da Afocelca que combatia um incêndio, em Sobrado, Valongo, na semana passada, vitimando o único ocupante: o piloto da Força Aérea e comandante dos Bombeiros de Cete, Noel Ferreira.

Segundo o documento, o helicóptero embateu em linha de alta tensão sem sinalização e sofreu descarga eléctrica que terá sido fatal. De seguida caiu e incendiou-se.

Transportou cinco bombeiros e equipamento

O relatório refere que o helicóptero, usando a designação de rádio CELCA02, e operado pela Helibravo, foi chamado a iniciar o combate a um incêndio florestal, na localidade do Sobrado, no município de Valongo, pelas 15h04. “O voo teve início às 15h10 a partir da base privada de Valongo, transportando, para além do piloto, uma equipa de cinco bombeiros e o equipamento de combate a incêndios composto por cesto e balde tipo bambi-bucket”, descreve o GPIAAF.

Depois de largar a equipa de intervenção e de ter sido posicionado o balde, Noel Ferreira voou para um ponto de água próximo para o primeiro abastecimento e descarga no incêndio. “Repetido o ciclo, na segunda aproximação ao local do incêndio e em coordenação com um outro meio aéreo, o piloto, conhecedor da existência e localização das linhas aéreas de transporte de energia existentes no local, define a trajectória para a segunda largada”, diz o relatório.

O piloto transpôs uma primeira linha de muito alta tensão (400 kV), devidamente sinalizada e composta por 14 condutores, mas o balde suspenso da aeronave colidiu nos cabos da segunda linha (tensão de 220 kV), que estava posicionada a uma cota inferior e a cerca de 45 metros de distância horizontal da primeira, “motivo pelo qual dispensa sinalização”. “No momento em que o balde suspenso por um sistema de cabos de aço está em contacto com o condutor mais afastado da linha, o rotor de cauda atinge o cabo de guarda que, por possuir potencial zero, resulta numa descarga eléctrica utilizando o helicóptero e seus assessórios como condutor entre os dois cabos”, explica o documento.

Infografia: GPIAAF

Nessa altura, os cabos de aço e o sling de suporte do balde à aeronave fundiram-se pela descarga eléctrica. “O rotor de cauda ao tocar no cabo de guarda produziu um arco eléctrico intenso, coerente com relatos de testemunhas sobre o impacto iluminado da aeronave nos cabos, suportado nas evidências de danos nos cabos e confirmado pelos dados registados pela empresa de transporte de energia”, sustenta o gabinete que investiga o acidente.

Com o rotor de cauda destruído houve uma separação do estabilizador vertical e a aeronave iniciou uma rotação no sentido anti-horário. “A perda de controlo da aeronave foi inevitável e consequente queda abrupta em rotação, percorrendo 66 metros até se imobilizar. Após o violento embate com o solo, de imediato deflagrou um incêndio intenso que consumiu a aeronave na totalidade. Neste processo o piloto e único ocupante da aeronave foi ferido fatalmente”, indica o relatório.

O piloto do segundo meio aéreo no local ainda fez uma descarga de água sobre o helicóptero acidentado, para tentar controlar o incêndio, mas sem sucesso. Seguiram para o local equipas especializadas de socorro para tentar socorrer o piloto de Paredes, de 36 anos.

O GPIAAF foi notificado e esteve a recolher evidências para a investigação no local, logo no dia do acidente e no dia seguinte, nomeadamente transportando os destroços da aeronave para o seu hangar.

Este gabinete vai analisar o funcionamento da aeronave pré-evento, os factores humanos envolvidos, os factores organizacionais e procedimentos envolvidos na operação e as medidas de gestão do risco relativamente à colisão de aeronaves de combate a incêndios com linhas aéreas de transporte de energia, com o objectivo de elaborar o relatório final.

O GPIAAF salienta que a informação divulgada tem carácter provisório e contém apenas um resumo dos acontecimentos conhecidos à data, podendo ser sujeita a alterações durante o processo de investigação.