Euro 2016

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Fernando Sena EstevesDesta vez é que ninguém duvida: Portugal vai mesmo ganhar o campeonato. Já basta dos azares passados em que nos torneios internacionais ficámos pelo caminho, ainda que com a amarga consolação de uma única derrota para o campeão. Assim sucedeu pelo menos no Brasil, contra a Alemanha; na África do Sul, contra a Espanha; e em Londres, contra a Inglaterra, nos tempos do grande Eusébio, já lá vão 50 anos!

Temos selecionador que soube escolher bons jogadores: dois deles para cada posição dos que correm mais (20 no total) e três dos que correm pouco, os guarda-redes. Donde resulta o curioso número de 23 convocados. Parece haver unanimidade quanto à excelência dos nossos jogadores e selecionador: basta ouvir o que dizem os comentadores nos diversos programas desportivos em que nem faltam interessantes inquéritos aos espetadores. Estes, para responderem, têm de desembolsar 0,60 euros mais IVA, o que dá 0,74 euros se o IVA for de 23% (como acontece com as vitaminas que o meu médico me receitou!). Estou à espera que um dia destes se coloque à votação se o Cristiano Ronaldo gosta mais dos bifes de perú ou dos de frango, mesmo com o perigo de se vir a saber que com ele é só bifes de vaca e detesta os de perú, deixando os de frango para os guarda-redes.

Mas para ganhar um campeonato destes tem de haver táticas eficazes. Não me refiro propriamente às dos 4-4-2 ou 4-3-3, que para mim encerram um misto de injustiça e de mistério. De injustiça, porque somando os números, tanto no 4-4-2 como no 4-3-3, o resultado é o mesmo: 10. Quer dizer, fica de fora o guarda-redes! De mistério porque no decorrer de um desafio em que os jogadores correm que se fartam, me sinto totalmente incapaz de discernir entre um 4-4-2 e um 4-3-3 e é com verdadeira admiração que ouço afirmações de comentadores que vislumbram em certos jogos uma oscilação ou mistura dos dois sistemas, o que leva à inquietante hipótese de um fantasmagórico sistema em 4-3,5-2,5. Resta-me a consolação dos bem reconhecíveis 1-2-5-3 que dão a justa soma de 11 e que nunca mudam. Refiro-me, naturalmente, ao futebol de matraquilhos.

A tática de Portugal para ganhar o campeonato é de grande subtileza e, como se comprovará, de total eficácia. O primeiro objetivo, obviamente, é passar a fase de grupos, em que ficámos na companhia das medianas Áustria e Hungria e da fraca Islândia. O empate que Portugal concedeu a esta seleção não foi por termos jogado pouco: foi um estímulo inteligente aos jogadores islandeses para que tirem pontos aos outros dois adversários. Estes, por sua vez, convencem-se que Portugal tem afinal uma equipa fracalhota e, quando menos esperarem, veem-se vencidos por nós que ficaremos confortavelmente instalados no primeiro lugar do grupo. Até os 16.000 apoiantes portugueses que estavam no estádio alinharam na estratégia, mantendo-se calados como ratos, não fossem os nossos jogadores entusiasmarem-se e ganhar o jogo. Para disfarçar, lá aplaudiram o golo do Nani.

Para festejar está tudo guardado para quando se vencerem as eliminatórias e, naturalmente, a final de Paris. Por isso, é que os nossos adeptos não precisaram de se entreter com pancadaria aos islandeses ou à polícia, imitando russos e ingleses. Mais pacatamente limitaram-se aos incitamentos próprios do país em que decorre o campeonato: allez Portugal!